O Brasil vai adotar “todas as medidas que forem necessárias” para evitar os efeitos negativos da crise financeira internacional sobre a sua economia. Essa mensagem será o principal foco do discurso que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fará neste sábado no Comitê Financeiro e Monetário Internacional, um dos eventos mais importantes da reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) que ocorre em Tóquio. “Não podemos aceitar tentativas injustas de taxar como protecionistas medidas legítimas de defesa nas áreas de comércio internacional, câmbio e gestão da conta de capitais”, dirá o ministro, em seu pronunciamento oficial. “A experiência tem mostrado que o livre fluxo de capitais não necessariamente é a opção preferível em todas as circunstâncias”, destacará Mantega. “Nós reafirmamos a necessidade de uma abordagem mais balanceada dentro do FMI sobre como limitar o excessivo fluxo de capitais de curto prazo.”
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A avaliação do ministro sobre a necessidade de controlar a entrada excessiva de recursos no país causada pela liquidez internacional em busca de arbitragem de juros tem aliados importantes na cúpula do próprio FMI. Em entrevista exclusiva à Agência Estado em Tóquio, o diretor do departamento de Pesquisas do FMI, Olivier Blanchard, manifestou que o controle de capitais é um instrumento legítimo dos mercados emergentes numa conjuntura global marcada por volumes gigantescos de recursos que circulam pelo planeta em busca de rentabilidade imediata e as economias avançadas apresentam taxas reais de juros negativas.
Mantega vai ressaltar que os países ricos precisam utilizar mais mecanismos fiscais para estimular suas economias, em vez de sobrecarregar a política monetária, o que provoca desequilíbrios internacionais. A avaliação do ministro tem respaldo na teoria econômica.
Programas oficiais de investimentos geralmente são mais eficientes para estimular o nível de atividade de uma nação do que a expansão da base monetária com liberação de recursos em boa parte para o setor financeiro. A ampliação da Formação Bruta de Capital Fixo, basicamente os investimentos, tende a gerar mais empregos locais enquanto a interconexão dos mercados financeiros no planeta torna muito fácil a fuga de capitais para países que apresentam maior rentabilidade e menor risco.
Nesse contexto, Mantega vai reiterar que as políticas de afrouxamento quantitativo adotadas pelos países avançados podem gerar um resultado pior do que o esperado para a economia mundial. “A recente experiência sugere que há razões para duvidar da eficácia da política monetária frouxa nas circunstâncias atuais”, dirá o ministro da Fazenda. “Taxas de juros reais estão negativas ou perto de zero há um longo período, sem promover uma recuperação clara do consumo privado ou investimento”, ressaltará.
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