De todos os quadros que Manoel Waldemur conserva com diplomas na parede de seu escritório, há um sem papel branco timbrado, mas uma foto com nove rostos sorrindo para a câmera. É a família que Manoel sonhava em ter e conseguiu – e é a conquista que faz com que ele abra o maior sorriso de todos ao falar de sua trajetória de vida.
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Aos 67 anos, ele já não tem mais os filhos ao lado, apenas a mulher, Alda, 72 anos, e o neto Matheus, de 18 anos.
– Os outros já seguiram seu caminho, viraram médicos, professores – conta Manoel, com orgulho.
Os oito filhos de Manoel são do coração, já que ele e a mulher não puderam ter filhos, mas todos eles vieram com uma história de amor.
– Você acredita que viajei 1500 quilômetros no táxi do meu sogro para buscar minha primeira filhinha? – conta ele.
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Debora, a primeira que chegou, foi abandonada pela mãe aos cinco meses e, encontrada por um missionário americano amigo de Manoel, ganhou um pai e uma mãe, e nos anos seguintes, mais sete irmãos.
Falar de como chegou a Joinville, há mais ou menos 20 anos, vindo do Estado de São Paulo, e tem hoje as paredes forradas de diplomas pode parecer só mais uma história para as outras pessoas, mas para o professor aposentado é uma vitória.
Quando nasceu, os pais fizeram uma promessa de criar Manoel como menina e ele só parou de usar vestidos aos cinco anos. Isso gerou uma confusão de personalidade e ele chegou a pensar em morrer.
A confusão o seguiu até a adolescência, quando começou a entender o que tinha acontecido e a enxergar outras perspectivas para a vida. De qualquer forma, o suicídio não é um tabu na casa dele, já que é comum que, no meio da madrugada, o telefone toque com essa palavra ressoando como principal verbo na conversa.
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– Chego a atender até sete pessoas por semana – revela sobre a missão de aconselhar.
Por isso, é difícil definir uma profissão exata para Manoel. Ele está se aposentando como professor de inglês e português pela rede estadual de ensino, deu aulas em escolas estaduais de Joinville, além das particulares – que não se adaptaram ao seu jeito liberal de ensino, com aulas ao ar livre.
Além de também ter ministrado psicologia para o magistério. Entre outras formações, estão o bacharelado em pedagogia, o mestrado em psicopedagogia, o doutorado em teologia e em psicanálise. Hoje, além de um querido ex-professor, Manoel é conhecido pela participação no Ministério Pedras Vivas, da Igreja Batista, no qual é pastor itinerante e faz palestras sobre os evangelhos.
Dos sonhos que guarda para o futuro, estão a boa saúde da mulher, Alda, e a vontade de reencontrar um dos filhos do coração que não chegou a ser entregue a ele.
– Eu já estava com ele no colo, era um bebê ruivinho que foi abandonado na maternidade, mas a freira não me deixou levar por ser pastor protestante. Queria apenas saber onde ele está e se está bem – lamenta ele, um pai por vocação.
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