Ministro do Trabalho há seis meses, Manoel Dias tem forte influência no PDT de Santa Catarina. Há 10 anos, é o presidente da legenda, mas sem disputar uma única convenção neste intervalo.
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A explicação é simples: Dias está a frente da comissão provisória constituída no Estado pelo diretório nacional em 2003. De lá para cá, ocorreram nove prorrogações no grupo, sempre sem discussão entre os pedetistas catarinenses. A última foi em 30 de abril de 2010 e tem validade até 30 de outubro de 2013.
Pedetistas históricos e ex-militantes afirmam que Dias se nega a convocar uma convenção e eleger uma executiva desde que assumiu o comando da legenda. Dizem que como tem boas relações com o presidente Carlos Lupi e é hoje o secretário-geral da executiva nacional, tem liberdade para decidir o futuro do PDT em Santa Catarina.
– Hoje, o Maneca faz a ata e o Lupi assina, os dois são carne e unha – fala o deputado estadual Amauri Soares (PDT), que teve a expulsão aprovada pela Comissão de Ética do PDT e que vai a julgamento em 28 de setembro. O parlamentar é hoje um dos grandes desafetos do ministro.
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A última convenção realizada pelo PDT de SC para a eleição da executiva estadual ocorreu em 10 de fevereiro de 2001. Naquele ano, a legenda era presidida por Magnus Francisco Antunes Guimarães, advogado que hoje é vereador em Itapema. Segundo a ata de 2001, Dias era o secretário. No diretório de 151 membros estavam ainda lideranças como Serafim Venzon (atual deputado estadual pelo PSDB), Cesar Cim (hoje vereador em Blumenau pelo PP) e Fernando Coruja (ex-deputado federal atualmente filiado ao PPS). Dalva de Luca Dias, que hoje comanda o PDT de Florianópolis, também aparece na nominata do site do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SC).
– Quem assumiu entendeu que não era mais necessário realizar convenção e não incentivou o debate político-partidário dentro do PDT – conta o vereador de 70 anos, ainda filiado ao PDT, apesar das “divisões internas e aborrecimentos”.
Como o mandato no comando do PDT vencido e sem uma nova convenção, houve a intervenção do diretório nacional em SC em 1º de junho de 2003, quando foi criada a comissão provisória. Nesses últimos 10 anos, mudaram alguns integrantes da pequena comissão, que tem em média 15 membros. Mas a presidência seguiu inalterada.
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A Lei dos Partidos Políticos não cria limites para o uso das comissões provisórias. Tanto que várias legendas são dirigidas pelas comissões em vez de diretórios, opção que teoricamente facilita o controle da sigla por uma só pessoa ou um pequeno grupo de filiados, como defende o deputado federal Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) em projeto que tramita na Câmara e que cria prazos para que as comissões realizem convenções. O objetivo, como fala o parlamentar na justificativa do projeto, é evitar que órgãos provisórios funcionem por tempo indeterminado. A proposta ainda não foi analisada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
Hoje, em todo o país, o PDT tem comissões provisórias em 10 estados e no Distrito Federal. Nos outros 16 estados, os pedetistas estão organizados em diretórios.
Procurados pela reportagem do DC, o ministro Manoel Dias e o chefe de gabinete Rodrigo Minotto, vice-presidente do PDT-SC, não atenderam as ligações nem retornaram as mensagens deixadas durante a tarde e noite de sexta-feira.
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Maneca não se elege desde a década de 1960
Manoel Dias iniciou na vida política aos 18 anos no PTB. Criciumense, teve dois de seus mandatos cassados pela Ditadura, um de vereador em Içara (1964) e outro de deputado estadual na Assembleia (1966). Maneca, como é conhecido, teve seus direitos políticos cassados por dez anos. Com a anistia, em 1979, ajudou Leonel Brizola a criar do PDT ao lado de Carlos Lupi. Nas eleições de 2010, Manoel Dias foi vice de Angela Amin (PP), mas os dois não se elegeram.
Apesar de não vencer uma disputa desde a década de 1960, Maneca foi indicado pelo PDT para assumir o Ministério do Trabalho em março de 2013. Substituiu Brizola Neto, desafeto de Carlos Lupi, presidente do diretório nacional do PDT demitido por Dilma Rousseff após denúncias de irregularidades em 2011. A troca de Brizola por Maneca, um aliado de Lupi, integra a estratégia de Dilma de garantir o apoio do PDT na eleição de 2014. E é o apoio do PDT que tem segurado Maneca no Ministério do Trabalho. Pelo menos por enquanto.