Quando o relógio marcou 6h era possível ver somente dois jovens conversando na sacada do prédio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Largo da Alfândega, em Florianópolis ocupado na noite desta quinta-feira. As luzes apagadas indicavam que o grupo – formado por cerca de 40 integrantes de movimentos culturais e sociais de Santa Catarina – dormia.

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Com cartazes pendurados nas paredes e portas, com títulos, “Artistas Contra o Golpe”, ” Fora Temer ” e “Fica MinC” o grupo reivindica a volta do Ministério da Cultura e a renúncia do presidente em exercício, Michel Temer.

Artistas de Santa Catarina repudiam a extinção do MinC

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A cidade despertou, e às 7h em ponto alguns participantes começaram a falar sobre as atividades programadas para o dia. O discurso demorou cerca de cinco minutos. Após a conversa, alguns integrantes saíram para o trabalho e aula. Às 7h30min, o grupo tomou café e uma reunião começou.

Tomas da Silva Souza, um dos integrantes do movimento explicou que a ocupação não tem dia para acabar. O jovem ainda contou que os membros da ocupação organizaram durante toda a noite uma série de atividades artísticas dentre e fora do edifício até domingo.

— Nós estamos articulados e vamos ficar aqui até quando pudermos. O movimento é horizontal, e aberto a toda comunidade — disse Souza.

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Secretário nacional de Cultura participou de ato contra extinção do MinC

Perto das 8h, alguns membros da ocupação foram até a porta do edifício e fizeram a primeira manifestação do dia.

— Ocupamos este espaço para instaurar um ambiente de luta pela ampliação de acesso e desenvolvimento cultural e artístico da sociedade, direitos das mulheres, negros e de toda a comunidade LGBTs, direitos dos povos indígenas, legislação e proteção ambiental, manutenção e ampliação dos direitos trabalhistas e programas sociais, assim como, o acesso público e gratuito à saúde e educação de qualidade — gritou o grupo, em forma de  jogral.

Na tarde desta sexta-feira, o clima dentro do edifício foi pacífico e de mobilização. O grupo se revesou em assembleias, que hora envolviam somente os ocupantes, ora juntavam os funcionários do prédio. Ainda, houve confecção de cartazes e debates políticos.  

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Foto: Caroline Borges / Agencia RBS

IPHAN segue realizando as atividades normalmente dentro do prédio. Os funcionários estiveram reunidos com os integrantes da ocupação durante esta tarde, e mostraram grande aflição sobre futuro do órgão que uma autarquia federal vinculada ao extinto MinC.

Em entrevista, a historiadora da Instituição, Regina Helena Meirelles, disse que após a extinção do Ministério, alguns projetos de restauração do patrimônio tombado em SC seguem indefinidos; como por exemplo a restauração do Museu Victor Meirelles e a reforma das Fortalezas na capital.

De acordo com a historiadora, dentre as várias preocupações, o maior receito dos funcionários está nos pagamentos de iniciativas que estão em curso, e a continuidade dos programas que dependem de orçamento vindos à nível federal. 

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— Além disso, a extinção do Ministério da Cultura desarticula os movimentos sociais e as pessoas que fazem arte na cidade […]. O sentimento é muita de incerteza, pois não sabemos quais e se os projetos continuam — conta Regina.

Os funcionários da agora Secretaria Nacional de Cultura também participaram do encontro com os militantes e informaram que seguem com o trabalho normalmente, já que o grupo ocupou o hall de entrada e parte do segundo andar do prédio.

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  • Polícia Militar de Florianópolis informou que o ato segue pacifico e tranquilo, não sendo necessário guarda. 

Segundo Alexandre Gouveia Martins, coordenador do MinC no Estado, há uma determinação nacional indicando para que os funcionários não interfiram nas “manifestações democráticas”. Por isso, segundo Martins não existe, até o momento, nenhum pedido de reintegração de posse do prédio. 

Em memorando enviado – nesta quinta-feira – a todos funcionários, o secretário Marcelo Calero orientou os estados como agir diante de atos e ocupações dentro dos prédios públicos. 

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Secretário Nacional de Cultura orienta que filiais não tomem medidas contra as ocupações