Os manifestantes islamitas que paralisaram o Paquistão durante três dias para protestar contra a absolvição da cristã Asia Bibi, acusada do crime de blasfêmia contra o Islã, anunciaram, nesta sexta-feira (2), a suspensão do bloqueio após um acordo com o governo.
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“Os líderes do partido anunciaram o fim do protesto em todo o país. Pediram aos participantes para que se dispersem pacificamente”, disse à AFP Pir Ijaz Qadri, porta-voz do Tehreek-e-Labaik Pakistan (TLP).
O governo paquistanês confirmou que o acordo foi concluído entre as duas partes.
O ministro de Assuntos Religiosos, Noor-Ul-Haq Qadri, confirmou à emissora GEO que as negociações culminaram em um acordo assinado pelas partes.
Segundo Fayazulhasan Chohan, porta-voz do governo da província de Panyab, os manifestantes irão se retirar das vias públicas e reabrirão as rotas que bloqueiam desde quarta-feira.
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O acordo foi alcançado entre as duas partes e está composto por cinco pontos, segundo uma cópia à qual a AFP teve acesso.
Prevê especialmente que o governo não se oponha a um pedido para que revisem a sentença da Suprema Corte sobre Asia Bibi e que incluam seu nome em uma lista de pessoas proibidas de deixar o país.
O mundo religioso muçulmano extremista protesta contra a sentença anunciada na quarta-feira pela Suprema Corte que absolve a cristã Asia Bibi, condenada à morte em 2010 por blasfêmia.
Bibi, mãe de cinco filhos, protagonizou em 2009 uma disputa com camponeses muçulmanos, com os quais trabalhava, quando se negaram a dividir água com ela porque era cristã. Depois do incidente, uma muçulmana foi até um clérigo e acusou Bibi de ter blasfemado contra o profeta Maomé.
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O advogado de Bibi, Saif-ul-Mulook, indicou à AFP que sua intenção é defender a sua cliente novamente no pedido de revisão. Segundo ele, Bibi “continua presa” e não pode deixar o país antes da análise do pedido. Sua permanência na prisão pode demorar por conta dos novos acontecimentos.
Nesta sexta-feira, em Islamabad, 5.000 pessoas identificadas com partidos religiosos pediam o enforcamento de Asia Bibi e dos juízes que a absolveram.
A maioria das manifestações é liderada pelo partido radical Tehreek-e-Labaik Pakistan (TLP), conhecido por sua linha particularmente severa em questão de blasfêmia.
Um dos líderes dos manifestantes exigiu a morte dos juízes da Suprema Corte e pediu aos militares que façam um motim, forçando o Exército a se posicionar nesta sexta-feira.
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“Este é um caso judicial e o Exército não tem nada a ver com isso (…) Não nos coloquem neste tipo de situação”, declarou seu porta-voz, Asif Ghafoor.
A tensão aumentou à noite (horário local) após o anúncio do assassinato de um influente mulá, Sami ul Haq, conhecido por sua ligação com os talibãs afegãos e cujo partido é aliado do primeiro-ministro, Imran Khan.
* AFP