Dos 3,5 mil confirmados no evento do protesto do 7 de setembro pelas redes sociais, dos mais diversos grupos – jovens, estudantes, Anonymous e outros que tinham garantido presença – apareceram quase 60 pessoas. Um grupo de cerca de 50 Black Blocs, manifestantes vestidos de preto, alguns com o rosto coberto, e ligados à uma linha de pensamento anarquista; uma família composta pela avó, o filho e a neta, que protestava pela prisão dos condenados no julgamento do mensalão; e um grupo da Associação dos Amigos e Pacientes de Câncer de Santa Catarina, que protestava contra a corrupção.
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Às 14h30, em frente ao Ticen, meia hora após o horário marcado para o protesto, o grupo de Black Blocs, que se reuniu para a sua primeira participação em manifestações neste feriado, percebeu que o que deveria ser a “manifestação”, uma massa de pessoas, não viria. Inspirados nos grupos Black Blocs atuantes em São Paulo e no Rio de Janeiro, a ideia de ter um similar aqui atraiu jovens estudantes, vários deles ainda no ensino médio. ?
Em essência, o bloco preto, pela sua própria definição, deveria ser a “força” que fica entre os manifestantes e um eventual uso de força pela polícia. Seria a linha de frente que “protege” os outros que protestam. Mas, por falta de quórum em Florianópolis, acabaram tendo que ser os manifestantes. ?
– Vim sozinho. Tem uma hora em que a indignação te traz sozinho – disse Juan, de 20 anos, que preferiu não dar seu sobrenome e disse não ter se mobilizado com amigos para participar.
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Ao contrário do que foi visto em outra cidades, os Black Blocs em Florianópolis não fizeram atos de vandalismo e não houve nenhum confronto com a polícia. Causaram algum transtorno no trânsito com a interrupção do fluxo na Beira-mar e uma pessoa foi detida pela polícia, supostamente carrengando um explosivo caseiro na mochila, apesar de isso ter passado despercebido aos outros manifestantes.
O percurso
Sozinhos na manifestação em que iriam apenas ficar à frente, o grupo partiu para uma volta pelo Centro da cidade. Foram em direção à Praça XV, depois seguiram para a Rio Branco e pararam em frente a um supermercado. A intenção era comprar ovos para arremessar na Assembleia Legislativa do Estado, mas, entre comprar ovos – em alta de preço – usar pedras ou não fazer nada, a opção acabou sendo apenar por seguir a marcha. A polícia militar acompanhava de perto a manifestação com quatro viaturas.
De volta ao Ticen, após circularem pelas ruas sem movimento do sábado no Centro, os manifestantes seguiram para a Avenida Beira-mar Norte e trancaram o trânsito por volta das 16h. Entre bloqueios parciais e totais, os Black Blocs seguiram pela pista mais próxima ao mar por cerca de uma hora e meia. Rumavam para a Casa D?Agronômica, residência oficial do governador. Mas, divididos e sem ainda terem chegado à altura do shopping, interromperam o percurso e decidiram voltar.
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Fernanda Carelli, de 26 anos, também participava da manifestação, apesar de não ser Black Bloc. Veio nas outras manifestações, de junho, e decidiu que também iria nessa. Ela tentou argumentar com os outros manifestantes para que percorressem na volta ao Ticen as ruas do Centro, menos movimentadas. Mas não conseguiu. Temia que a PM iniciasse uma operação para desocupar a Beira-Mar.
– Estou lutando por uma coisa que eu não quero que meus filhos passem – disse sobre o motivo que a levou ao protesto. ?
Os manifestantes levaram mais uma hora para percorrer o caminho de volta pela contramão na Beira-Mar. Voltaram, assim como foram, em meio aos carros que iam sendo liberados na avenida à medida em que os manifestantes avançavam. O grupo, que tinha 50 no começo, terminou com 35 pessoas no Ticen. Esperavam fazer um “catracaço” para irem embora, mas a polícia posicionou um militar por catraca. Resolveram ir embora da forma normal, pagando a passagem, e o protesto se encerrou às 18h30.
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Confira como foi a cobertura ao vivo do protesto em Florianópolis:
Reações divididas
Durante todo o percurso, as reações variavam. Uma maioria impaciente e que ameaçava arrancar com os carros em meio aos manifestantes às vezes era surpreendida por sorrisos e buzinas de aprovação de outro veículo. Ao passarem em frente ao palco que vai abrigar a Parada da Diversidade neste domingo, a equipe que montava o palco pediu uma salva de palmas aos presentes no local, que foi recebida com agrado pelos Black Blocs.
Antes de o grupo se dispersar, fez uma assembleia de avaliação do movimento recém surgido: comemoraram o grande número de pessoas que viu o movimento na demostração na Beira-Mar e, também, a ausência de violência da polícia com os manifestantes. O grupo combinou voltar a se encontrar e continuar a se mobilizar pelo Facebook, para consolidarem o Black Bloc em Florianópolis. Opinião deles: foi um sucesso.
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Na outra ponta, a opinião da Polícia Militar foi a mesma. O comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Carlos Araújo Gomes comandou a operação e lidou diretamente nas negociações do percurso da manifestação junto aos Black Blocs. Ele avaliou que a não ocorrência de nenhuma agressão ou ato de vandalismo durante o protesto deve ser avaliada como um sucesso pelo trabalho da PM, em especial pelo fato de o grupo estar ligado a confrontos em outros Estados. E os trabalhos prévios foram feitos esperando uma manifestação maior.