O mundo ouviu um pedido de socorro na noite da última segunda-feira. Saía de uma casa, em um bairro residencial de West Side, em Cleveland, no estado americano de Ohio. Com cerca de 396 mil habitantes, a cidade é menor do que Florianópolis. Atrás de uma porta, por onde se via apenas uma mão, começava a desvendar-se uma história apavorante. Por 10 anos, três mulheres viveram mantidas em cárcere. Presas com cordas e correntes e com a boca selada com fita colante para não gritar. Na maioria das vezes no porão, sem direito à luz do dia.
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O que começou com uma carona às jovens, resultaria em uma década de sequestro, violência física, estupro, abortos. Nessa sombria realidade, nasce uma criança, fruto da perversidade de um homem insuspeito aos olhos da vizinhança, e de uma de suas vítimas. A menina tem seis anos e na última semana a paternidade foi confirmada: o algoz Ariel Castro, de 52 anos. Uma trama que, apesar de trágica, poderá inspirar Hollywood com um enredo marcado por loucura e obsessão.
Amanda Berry, de 27 anos, Michelle Knight, 32 anos, e Gina DeJesus foram dadas como mortas pelas autoridades, devido ao tempo de desaparecimento. A década de horror vivida por elas está sendo revelada a conta-gotas. Parte pelo próprio executor, o ex-motorista de ônibus escolar Ariel Castro. O americano de origem porto-riquenha é o único acusado pelo sequestro e estupro das jovens e está preso. Os outros dois irmãos Castro chegaram a ser presos, mas a Promotoria norte-americana ainda não encontrou indícios da participação deles no sequestro e cárcere das três mulheres.
As vítimas nunca deixaram a propriedade do acusado onde foram trancafiadas até terem sido resgatadas e encaminhadas para as famílias. Não estavam no mesmo quarto, mas se conheciam e sabiam que viviam ali. Foram autorizadas a deixar a casa em apenas duas ocasiões. Mas para ir só até a garagem, nos fundos da residência. Mesmo assim disfarçadas com óculos escuros e perucas.
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Michelle Knight teria engravidado cinco vezes do criminoso. A mulher, entretanto, teria perdido os bebês por ter sido espancada na barriga e privada de comida por duas semanas para forçar o aborto. Ela foi obrigada a realizar o parto de Amanda Berry. Ele teria dito que iria matá-la se a criança não sobrevivesse. Com Amanda Berry ele teve a filha, de seis anos, que estava com a mãe na hora do pedido de socorro. A criança nasceu em uma piscina de plástico para não sujar a cama.
A polícia continua vasculhando a casa. Até sexta-feira não havia encontrado vestígios de restos mortais.
A relação de Ariel Castro com as reféns era de opressão. Eram obrigadas a assistir pela televisão as famílias fazendo vigília por elas e recebiam um bolo por ano para celebrar o dia em que foram sequestradas. O criminoso demonstrava distúrbios do prazer, tendo participado de ações para encontrar as mulheres desaparecidas. Conversava com familiares e amigos, a quem também prestava homenagens e ajudava a distribuir panfletos. Alguns desses papeis carregava no bolso, os quais retirava na volta ao cativeiro onde aprisionava Amanda, Michelle e Gina.
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Isolado da família e acusado de agressões
Um tio de Ariel Castro afirmou que ele estava isolado da família desde a morte do pai, em 2004, ano em que Gina foi sequestrada. Amanda havia sido raptada um ano antes e Michelle dois.
A ex-esposa de Castro, Grimilda Figueroa, que morreu no ano passado, tinha apresentado uma ação em 2005 contra Ariel por impedir que suas filhas estivessem com a mãe.
Os documentos judiciais revelam que Grimilda teve duas vezes o nariz quebrado, assim como as costelas, além de ter sofrido com luxações nos ombros. Havia um pedido para o juiz “impedir” (que Castro) a ameaçasse de morte.
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Na casa de Ariel Castro a polícia encontrou um bilhete com detalhes da sua personalidade obscura. O sequestrador se definiu como um “predador sexual” e responsabilizou as suas três vítimas pelos crimes cometidos nos últimos 10 anos. Ele escreveu que as mulheres eram culpadas “porque cometeram o erro de entrar no carro de um estranho”.
Na carta ele demonstrava interesse em cometer suicídio. O desejo de acabar com a própria vida levou a juíza do caso a colocar o criminoso sob vigilância especial na prisão.
O promotor Timothy McGinty, do condado de Cuyahoga, em Cleveland, estuda encaminhar o pedido de pena de morte para Ariel Castro. A solicitação será feita com base no depoimento de Michelle. A intenção da promotoria é configurar os abortos forçados como homicídios e encaixar Castro dentro das leis de pena de morte de Ohio.
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O estado americano estabelece a pena capital para “os mais depravados criminosos, capazes de cometer assassinatos durante um sequestro”. Ao dobrar a vigilância, a justiça americana pretende dar garantias de vida para o homem que quer encaminhar à pena de morte.