O verde começa a ressurgir e a transformar a paisagem acinzentada do manguezal da Baía da Babitonga, em Joinville, atingido há cerca de três anos e meio por um desequilíbrio ambiental que provocou a morte de inúmeras árvores da espécie siriúba. A regeneração em curso não recupera a área degradada — de cerca de 800 hectares do mangue-preto rente aos bairros Comasa, Espinheiros, Boa Vista e Guanabara —, mas é capaz de devolver ao ecossistema suas funções ecológicas.
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O atual cenário é um indicativo de que algumas árvores realmente morreram, outras rebrotaram e o banco natural de sementes está promovendo uma espécie de recuperação da área. Trata-se de um bom sinal diante de uma situação acompanhada por pesquisadores, ambientalistas e o Ministério Público Federal (MPF) desde janeiro de 2016, quando foi verificado o desfolhamento de parte das árvores que formam o mangue na Região Norte de Santa Catarina.
Ao longo deste período um estudo-diagnóstico chegou a ser feito no âmbito de um inquérito civil movido pelo MPF. A pesquisa foi concluída no ano passado, apontando que a perda das folhas se deu por uma pressão biológica dada a infestação de uma mariposa exótica migratória, que se alimenta desse tipo de vegetação, aliada ao lançamento de rejeitos nos ambientes naturais.

O estudo foi liderado pelo doutor em Ecologia e Conservação e professor de Ciências biológicas da Universidade da Região de Joinville (Univille), João Carlos Ferreira de Melo Júnior, e já indicava que, mesmo sem uma causa específica para o desequilíbrio ambiental era observado o rebrotamento e o crescimento de plantas juvenis no mangue. É exatamente essa regeneração, natural, que se mostra mais aparente agora.
— Há no momento uma ação conhecida como ‘resiliência’, que é a capacidade do ambiente autorrecuperar-se. É claro que tem a questão da qualidade ambiental envolvida, mas esse desequilíbrio vinha associado ao ataque massivo de uma lagarta exótica. Então como essa pressão da herbivoria estacionou, o mangue está se recuperando mesmo que a qualidade ambiental não atinja os parâmetros recomendados — avalia o especialista.
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Isso quer dizer que a recuperação ambiental foi possível mesmo o solo degradado apresentando quantidades de metais pesados, óleo e graxa, superiores aos níveis de tolerância permitidos naquele ecossistema. No entanto, isso não representa redução da poluição, uma vez que isso depende da ação humana.
— O ambiente por si não vai se recuperar em relação a poluição, para isso é preciso cessar a emissão de poluentes no ambiente natural. Isso através de medidas preventivas que podem ser efetivadas pelas fontes emissoras desses materiais, frutos de rejeitos industriais, domésticos e de outras atividades humanas inseridos na Baía da Babitonga — aponta João Carlos.
Ainda conforme o professor, em contrapartida, há ganhos do ponto de vista biológico.
— O que tem de importante nessa resiliência ambiental é o restabelecimento das funções ecológicas do ecossistema — afirma.
Riqueza Natural

Considerado um berçário de vida marinha, o mangue da Baía da Babitonga compreende 75% do total de área de mangues existentes em Santa Catarina e é o grande remanescente desse tipo de ecossistema no Atlântico Sul Ocidental. São 80 quilômetros quadrados de manguezal e outros 160 quilômetros quadrados de lâmina d’água na baía, margeada pelos municípios de Joinville, São Francisco do Sul, Itapoá, Garuva, Araquari e Balneário Barra do Sul.
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Isto o torna único e de extrema importância do ponto de vista da conservação, conforme aponta o biólogo Fabiano Grecco de Carvalho, do Projeto Babitonga Ativa, que busca integrar a população, o poder público e a iniciativa privada em defesa da saúde da Baía Babitonga.
Segundo ele, além disso, o mangue é o tipo de vegetação com maior capacidade de amenizar os impactos causados pelo aumento de gás carbônico na atmosfera. Em contraponto, os manguezais também estão entre os sistemas que mais sofrem a pressão da ocupação humana no litoral, devido ao desmatamento, ao aterramento e ao avanço de construções nessas áreas. Por isso, o reaparecimento de áreas verdes no mangue joinvilense é celebrado pelo ambientalista.
— A gente sabe a importância do manguezal tanto para a manutenção da linha de costa, como para alimento ou servir de refúgio para diversas espécies da fauna. Então qualquer centímetro de manguezal em boas condições traz resultados positivos — afirma.
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