Asemir João Francisco, o Mi, nascido e criado nos Ingleses, no norte da Ilha, é conhecido por muitas coisas. Como típico manezinho, sabe quando o tempo favorece um bom lanço de tainha. Também tem sempre uma notícia fresquinha para dar aos moradores, e é bom de papo. Mas sua fama tem força mesmo nos corredores da Escola Básica Municipal Herondina Medeiros Zeferino, onde trabalha como auxiliar de serviços gerais. É ele quem toca o sinal de entrada, saída e dos recreios da unidade. Mi carrega também um mistério: um molho carregados de chaves que só ele sabe para o que servem.
Continua depois da publicidade
Funcionário da prefeitura há 39 anos, Mi começou a carreira como servente de obras em 1976 e então foi chamado para trabalhar na antiga Escola Básica Municipal Gentil Mathias da Silva, onde ficou por 36 anos. Fazia o que ele chama de “serviço pesado”, como capinar terreno e limpar vidros. Com tanto tempo de carreira, já poderia estar aposentado. Mas esse ainda não é o plano.
Mi não é casado e nem tem filhos. Quando é perguntado o que faz para se divertir, apenas responde:
— Vou trabalhar.Ele vê na escola sua segunda casa. E os alunos e colegas retribuem.Os pais dos estudantes também confiam e elogiam o cuidado que ele tem com as crianças. Mas, para ele, isso é natural.
Continua depois da publicidade
— É preciso dar carinho para todas as pessoas para animar essa gente — resume Mi.
Alguns alunos o conheceram na antiga Escola Gentil Mathias da Silva e hoje continuam convivendo com o auxiliar na Herondina. Esse é o caso de Victória de Oliveira e Valentina Floriano de Oliveira, ambas de 14 anos, estudantes do 9º ano. Victória relata que os alunos nunca sabiam direito qual era a função de Mi na escola, mas sabiam que ele sempre estava disposto a ajudar.
— Eu lembro dele desde pequena, quando entrei no primeiro ano na antiga Escola Gentil Mathias da Silva. Ele sempre estava no portão e todo mundo o conhecia. Minha família tem ele como um grande amigo. Ele é muito querido por todos. Valentina concorda e acrescenta:
— Quando a gente precisava de algo na sala de aula ele estava ali pronto para ajudar, mesmo sem ser sua responsabilidade, como trazer uma carteira, um ventilador. O que mais encanta o diretor da Herondina Medeiros Zeferino, Willian Marques Pauli, é o respeito e admiração que os alunos e a comunidade têm pelo Mi.
Continua depois da publicidade
— Isso é algo que ninguém compra, pode apenas ser conquistado. Espero que ele continue conosco na escola por bastante tempo.
O que mais gera curiosidade na unidade de ensino é o molho com todas as chaves da unidade que o Mi carrega na cintura. Alguns acreditam que trata-se de zelo. Para outros, ele tem medo que alguém pegue o molho e a escola fique sem as chaves. O certo é que todos sabem quando Mi está chegando pelo barulho das chaves.