Como sei que sou um manezinho da Ilha? Bom, eu odeio o trânsito no verão. Eu acho que argentinos dirigem mal quando estão na cidade. Eu conheço as praias escondidas do lado da Barra (eu chamo a Barra da Lagoa de Barra, mais um ponto) e já acampei na Lagoinha do Leste. Quando a grana faltava, almoçava o salgadinho do Katife. Já comi a montanha de camarão do Bokas, já tive conta no Maurilio, já comi o X-Tudo do Hause (não todo, evidentemente, porque todos sabem que é impossível). E o menos importante: nasci em Florianópolis.

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Quem nasce em Florianópolis tem que falar, imediatamente depois de dizer que nasceu aqui, em qual maternidade nasceu. É um acordo entre manezinhos. “Carmela Dutra ou Carlos Correia?”, você vai ouvir, se não disser logo. Carmela Dutra, sempre respondo. E então o manezinho vai perguntar: “Mas tu é nativo de pai e mãe?”. E a minha resposta é: não, minha mãe nasceu no Rio Grande do Sul. O que significa, pra um manezinho, que eu não sou manezinho de verdade.

Manezinho de verdade é “mané de pai e mãe”. Tem um tio que era dono de toda a Praia Brava e vendeu os terrenos por preço de banana. Tem sobrenome Silveira, Oliveira ou Vieira. Anda no meio da rua porque não está acostumado com calçada. Conhece alguém que mora no Itambé ou no Argus. Torce pra Avaí ou Figueirense, apenas. A mãe vai direto no Scuna ou no Trintão. Manezinho de verdade tem um vô morando no Monte Verde.

Ou seja, em Santa Catarina eu sou gaúcho. Mas há sete anos, quando me mudei pra Porto Alegre (no contrafluxo de tantos gaúchos) cheguei na capital do RS como catarinense. Então, para os gaúchos sou manezinho, e para manezinhos sou gaúcho. Sou sempre alguém de fora, um forasteiro. Me dá até medo de viajar para o Uruguai e descobrir que sou argentino. Isso seria terrível pra minha já abaladíssima reputação.

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