Que ônibus eu devo tomar para chegar ao Cemitério Jardim da Paz? Perguntei ao senhor de uniforme azul e cabelo pintado de preto, no Terminal da Trindade, o TITRI. Foi o que bastou:

Continua depois da publicidade

– Morreu alguém da sua família, foi?, a mão apoiada em meu ombro e o olhar pesaroso.

– Meu pai, há quatro anos! Hoje seria aniversário dele. Vou lá trocar as flores.

– Tadinho! Meus pêsames, quirida! Disse ele, apontando para o ônibus “João Paulo” parado na plataforma.

Agradeci e entrei no ônibus, segurando o riso.

Continua depois da publicidade

Através da janela, numa sucessão de imagens, mansões, casinhas condenadas e o paredão de prédios que contornam a Baía e o que restou do mangue.

Pouco antes da entrada do Cemitério, toquei a campainha, mas o motorista não parou. Eu protestei – Ô motorista!

O ônibus ainda seguiu alguns metros, eu já irritada, até parar em frente ao portão do Cemitério.

– Vai lá, vai minha filha! Vai rezar pro teu paizinho! Era o seo Alcebíades, o nome dele, me olhando pelo espelho interno, aquele quirido!

É por essas e por outras que eu fico indignada quando alguém diz que as pessoas daqui são muito fechadas! Fechadas uma ova! O nativo autêntico, o Mané com Certificado de Origem é “dado”, é solícito, é hospitaleiro. Nem bem a pessoa chega à sua casa, ele já sai oferecendo seu café ralo, já vai fazendo confidência e, principalmente, já vai especulando tudo sobre a tua vida.

Continua depois da publicidade

Nesse tempo em que “Manezinho da Ilha” virou grife e todo mundo se outorga o título de “mané”, é preciso prestar atenção: a pessoa pode saber falar “olhólhó!” e te chamar de “quirido”, pode até apresentar a certidão de nascimento e comprovar que nasceu aqui, mas… Fez doce ou arregô não é “legito”.