Com seis filhos, 21 netos, 33 bisnetos, e oito tataranetos, Cecília Maria Pires completou 100 anos no dia da Independência do Brasil com uma festa linda organizada por sua família. Cerca de 70 pessoas foram convidadas para uma churrascada, todas com uma camisa em sua homenagem: uma ilustração da centenária senhora com manto, coroa e mastro. A criatividade também foi colocada em prática no bolo de aniversário, que tinha a cara da manezinha.

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Mesmo com mobilidade e audição prejudicadas por conta de sua idade, a memória não aparentava falhar tanto assim. Cantou rezas e deu bênçãos. Coisa de arrepiar, de tanta sensibilidade e história contadas em versos.

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A saúde, contou a nora e atual cuidadora da senhorinha, Maristela Ramos Pires, 52, está ótima. Em maio, dona Cecília venceu uma pneumonia e deixou até os médicos admirados. Parece que ela queria chegar aos 100.

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— O pulmão e o coração estão fortes. Claro, dentro da idade dela. Os médicos acreditam que vão vir mais anos de vida por aí — contou Maristela.

Nativa da Armação do Pântano do Sul

Dona Cecília nasceu na Armação do Pântano do Sul e era uma das filhas mais velhas de sua família e uma das que mais ajudava seu pai. Ela trabalhou na roça de café, no engenho de farinha e ainda fazia renda de bilro.

_ Ela descia o morro com o balaio de café na cabeça e cantava. Todo mundo dizia: Lá vem a Cecília descendo o morro — lembrou uma de suas afilhadas, Cecília Demétrio, 62. Seu nome, inclusive, foi dado em homenagem à madrinha.

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A centenária ainda contou que quando o boi do engenho da farinha ficava cansado, era ela quem puxava a canga do boi.

— Eu trabalhava como um animali — disse.

Segundo uma das filhas, Neli Cecília da Silva, 72, quando a família se mudou do Pântano para o Saco dos Limões, há 67 anos, a mãe trabalhou como lavadeira. Foi quando também se transformou numa das benzedeiras mais conhecidas da ilha. Benzia gente com machucado, criança que não dormia e até tirou mal olhado das costas de muito político, conta a idosa.

Pura saudade

Hoje em dia, dona Cecília é pura saudade de um tempo que passou.

_ Hoje não tem mais “bença“. Não tem mais respeito. Falta mais amor _ observou.

Talvez seja esse o segredo. A sugestão tem voz de experiência de quem dedicou a vida a benzer quem precisava de ajuda. Inclusive a equipe de reportagem que a visitou ontem foi abençoada pela senhora:

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Eu fui na tua casa somente para te visitar. Eu fui levar uma benção que Jesus mandou te dar. Abre teu coração e deixa a paz de Jesus entrar”, cantou dona Cecília.

Na ocasião, descobrimos que não se agradece bênçãos. Quem repassa ensinamentos não quer nada em troca. É esta a filosofia que pauta sua vida.