Por cinco meses a presidente do Fórum de Educação e Relações Étnico Raciais em Santa Catarina, Jeruse Maria Romão, fez parte de um grupo virtual que se reunia em vigília pela saúde de Nelson Mandela.

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Ela soube da morte do principal ícone da luta pela igualdade racial pela filha Azânia – nome que significa “terra de homens livres”, a maior homenagem que poderia dedicar a ele. Foi há 23 anos, época em que Mandela deixou a prisão e, em um evento transmitido para o mundo todo, disse que continuaria lutando contra a desigualdade.

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Formada em Pedagogia e mestre em Educação, Jeruse criou o Centro de Referência de Material Didático Afro-Brasileiro, para desenvolver materiais didáticos voltados à questão racial. Desde 2002, a partir de uma consultoria para a Unesco, ela se dedica à formulação de políticas de educação para jovens negras e indígenas.

Diário Catarinense – Qual o sentimento que fica com a morte de Mandela?

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Jeruse Maria Romão – Nós estamos muito impactados, mas sabemos que rompemos apenas o contato físico, o exemplo permanece para sempre. Mandela deixa um legado civilizatório para a humanidade. Influenciou e vai continuar influenciando. Tenho certeza que nesta sexta-feira todas as escolas estarão falando nele, contando a história, levando o legado para as novas gerações.

DC – Como Mandela influenciou os ativistas da luta contra a desigualdade racial em Santa Catarina?

Jeruse – Antes de repercutir o movimento Mandela, havia grupos que sequer sabiam da existência dos negros em Santa Catarina. A luta pela libertação fez com que nos aproximássemos de outros grupos do país. Nos tornamos mais fortes. Eu, como mulher e negra, fiz parte de uma geração que viveu intensamente o racismo (era a única aluna negra na sala de aula) e encontrei coragem para seguir adiante com o Mandela. Não éramos nós quem devíamos mudar e sim a sociedade. Não poderíamos continuar nos submetendo ao processo de branqueamento social e cultural, como estava acontecendo.