“Oooii! Tudo bom?” Foi com a alegria de uma criança que Mallu Magalhães atendeu a entrevista do Diário Catarinense. Aos 20 anos, a cantora e compositora já tem cinco de carreira. Ainda é uma menina, mas conversa sobre música e filosofia como gente grande. Pretende praticar mergulho em alguma praia de Florianópolis, se der tempo, e preparou um repertório especial para a apresentação no CIC, amanhã às 21h. A cantora paulista conversou com a reportagem por telefone.

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Veja galeria de fotos de Mallu Magalhães

Confira a entrevista completa:

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Você vai voltar a tocar em Floripa amanhã. Já conheceu a cidade?

Mallu Magalhães – Não tive tempo ainda, pela primeira vez vou chegar aí um dia antes do show, vai dar para aproveitar um pouco mais. Eu fui uma vez para Camboriú, achei tão bonito. Eu gosto muito de fazer mergulho livre, estava pesquisando locais para fazer isso aqui aí. O ideal seria um veleiro.

O que você está preparando para o repertório do show aqui?

Mallu – Como vai ser num teatro, posso cantar em várias nuances, tocar os instrumentos e saber que todos os detalhes serão ouvidos, é um show muito delicado. Tenho tocado em muitos festivais, músicas expansivas, para muita gente. Esse show é diferente. É um apanhado de músicas do Pitanga com outras mais antigas, que eu ainda gosto muito, e com músicas da minha influência musical, como Manu Chao e um ou dois sambas. Vai ser um show variado e intimista, bem íntegro.

Vi uma declaração em que você disse que sua música é uma forma de expressar seu sentimento de inadequação no mundo. Você consegue explicar como é esse sentimento?

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Mallu – Ai, que difícil explicar isso… (risos). A gente está inserido numa sociedade que exige vários protocolos sociais. Isso gera esse sentimento e inadequação nas pessoas. Eu procuro uma autonomia de pensamento e de existência que se choca com todo o resto. É como você querer sair na rua vestindo uma fantasia, só porque acha bonito. Inevitavelmente, você vai se sentir inadequada. É mais ou menos assim que me sinto quando faço música. É quando eu sinto meus sentimentos julgados e inadequados no mundo. A música é um jeito de entregar esse sentimento para que outras pessoas, que também se sentem assim, para que elas possam ouvir. Isso faz com que elas não se sintam mais tão inadequadas. E nem eu.

Tem uma entrevista da Clarice Lispector no YouTube falando sobre esse sentimento e sobre como ela se surpreendia de ver as pessoas entendendo e se identificando com o que ela escrevia. Você também se supreende com a identificação dos fãs?

Mallu – Ah, a Clarice é demais, né? Sou fã dela. Eu me surpreendo muito com a intensidade das pessoas. Elas têm ido ao meu show e chorado muito. Elas falam das suas experiências, de como minha música ajudou elas de algum jeito e eu fico lembrando de todas as vezes que eu também escutei músicas como um remédio, alguma coisa que você usa para aliviar a dor ou mesmo comemorar. A música tem esses dois papéis e isso é muito bom. Realmente fico surpresa e muito feliz por conseguir completar isso que é, de algum jeito, um ciclo.

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Estava dando uma olhada no seu blog, que fica dentro do seu site. É você mesma que escreve? Como você surgiu pela sua página do MySpace imagino que é uma relação que você cultive com a internet.

Mallu – É, sou eu sim. Não tenho atualizado muito, talvez por falta de tempo. Mas a minha relação com a internet continua muito forte. Eu gosto muito da internet. Eu preciso até tomar cuidado porque eu fico usando dois ou três computadores em posições diferentes e boa parte do dia, então fico com dor nas costas, no pulso, pé inchado… Eu não tenho muito interesse nas redes sociais, mas faço muita pesquisa.

Gosto dessa coisa de ter vários interesses e curiosidades e a internet é uma bênção. Na minha profissão aproveito meu amor pela internet para divulgar meu trabalho. Então se eu tenho uma coisa interessante para contar conto no blog, às vezes quando eu acho que alguma coisa podia ser divulgada de outra maneira, ou de um jeito mais direto ou fiel eu mesma falo, gerencio. Eu procuro disponibilizar o máximo de possibilidade de acessos da minha arte, minha parada.

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Você sempre comenta que gosta de ler, o que você tem lido?

Mallu – Gosto muito de ler sobre música. Livros clássicos, como o Som e o Sentido, do Zé Miguel Wisnik (acho que é assim que diz), mas gosto de Clarice para caramba e gosto muito de quadrinhos, como Edu K. Também leio sobre a cultura japonesa, que me interessa muito. Eu passo muito tempo estudando. Tenho prazer em estudar, talvez por ter me distanciado da escola muito cedo. Leio sobre performance, dança, biografias da Marilyn, do Glauber Rocha, adoro biografias.

Às vezes parece que você usa alguns conceitos de filosofia nas suas entrevistas. Você gosta de filosofia?

Mallu – Eu passo muito tempo com o Marcelo e nós dois trabalhamos com a palavra, nosso ofício é a comunicação então estamos o dia inteiro pensando em explicar sentimentos e pensamentos. Tenho essa facilidade e isso se intensificou com meu relacionamento com ele. Já li Nietzche, meu favorito é Jung, mas leio de tudo. E tudo para mim é filosofia e todo mundo é filósofo. Bill Whaterson do Calvin & Haroldo é um baita filósofo.

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Se você pudesse escolher qualquer álbum de outra pessoa, qual você gostaria de ter feito?

Mallu – Acho que o coisas, do Moacir Santos. A Nara Leão fez uma versão de uma das músicas, Nanã, é muito legal.

Confira a música a que se refere Mallu:

E você é fã da Nara então?

Mallu – Gosto para caramba. Já escutei mais, mas essas coisas ficam cravadas na gente, essas influências em que a gente se vicia por algumas semanas ou meses. Parece que elas tocam dentro da gente para sempre. Já viciei em muita gente. Bob Dylan, Johnny Cash, Strawnsky, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Manu Chao, e por aí vai.

Por que seu último álbum chama Pitanga?

Mallu – É uma palavra que resumia muita coisa para mim na época. Eu morava num prédio que tinha uma pitangueira em frente, ela dava muita fruta. No estúdio em que a gente grava em São Paulo tem uma pitangueira. Na casa dos meus pais, quando eu era pequena, tinha uma pitangueira. Na verdade o nome veio e depois eu fui pensar no que ele significava. Eu imaginei que precisava de uma palavra forte, única, mas que também representasse muita coisa. Cultivando esse conjunto me veio: Pitanga. Pensei: caramba, pode crer, total! Aí achei que tinha a ver e coloquei.

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Obrigada pela entrevista, espero que você tenha uma boa estada aqui em Florianópolis.

Mallu – Ah, eu vou ter, sim! Quem sabe eu consigo mergulhar.

Agende-se

O quê : show com Mallu Magalhães

Quando: amanhã, a partir das 21h

Onde: Teatro Ademir Rosa (Avenida Gov. Irineu Bornhausen, 5.600, Bairro Agronômica, em Florianópolis)

Quanto: R$ 90 (inteira), R$ 70 (assinantes do Diário Catarinense) e R$ 45 (meia-entrada)