Não se engane: Maitê Proença nunca foi uma atriz. Quer dizer, nunca foi apenas isso, apesar de ter passado 25 anos mostrando ao mundo esta face antes de começar a apresentar os outros lados. Agora, ela lança o quarto livro, quase consecutivamente à terceira obra.Além de legitimarem seu trabalho como escritora, eles também comprovam outros talentos: dramaturga e diretora.
Continua depois da publicidade
Em passagem por Joinville para a 11ª Feira do Livro na quarta-feira, dia 10 de abril, ela apresentou os dois trabalhos mais recentes. À Beira do Abismo me Cresceram Asas, peça que ela escreveu, dirigiu e com a qual está em cartaz pelo Brasil – ela também está no palco ao lado da atriz Clarisse Derziê – e o livro “multiautoral” É Duro ser Cabra na Etiópia, que ela organizou e no qual também tem um conto publicado.
É quase irônico que ela esteja agora lançando um livro que trata da velhice, a partir da peça em que interpreta uma mulher de 86 anos, 30 a mais que sua idade real. Foi com a maturidade que Maitê começou a despertar para as produções destes outros trabalhos, sem receio de críticas ou bloqueios.
– Estava estagnada, me mandei pra escrita e voltei melhor, muito melhor. Agora, visito meus porões sem medo, Um belo dia, acordei sem medo, sabe-se lá como, mas é certo que trocar a forma de expressão teve reflexo nisso – reflete ela.
Continua depois da publicidade
Em À Beira do Abismo me Cresceram Asas, Maitê fala sobre temas como sexo, as diferenças entre homens e mulheres, o abandono. Tudo na pele de duas senhoras, Teresinha (interpretada por ela) e Valdinha que ,apesar das diferentes personalidades, têm em comum a praticidade dos que aprenderam a simplificar a vida, já que não há tempo para complicá-la. É uma comédia sensível, como afirma Maitê, com “humor para se evitar a autopiedade e a pieguice”.
– Escolhi esta fase porque dali pode-se falar de tudo com autoridade e sem as cerimônias e os cuidados característicos de outras idades. Não há tempo a perder, nem vontade de seduzir por seduzir. Chega a ser cômica a forma como idosos dizem as coisas na lata e, às vezes, até cruel. Minhas velhas têm disso – conta.
A falta da insegurança juvenil promoveu a Maitê a oportunidade de outra criação. Certo dia, em 2011, estava em um bate-papo informal, quando refletiu “é duro ser cabra na Etiópia”. A frase tinha nexo naquele contexto, mas, na mesma noite, foi repetida por ela quando, sentada na plateia, foi provocada a sugerir um tema em um espetáculo de improviso. Assim, solta, a sentença a levou a imaginar mais.
Continua depois da publicidade
E ela foi além: batizou o futuro livro e criou um projeto, convidando autores do Brasil inteiro a pensar em contos e imagens a partir da história da cabra. Recebeu 2 mil respostas e ainda convidou escritores famosos, como Carlos Heitor Cony, para o mesmo desafio. Por fim, selecionou os 170 que estão no livro, além de imagens, em um trabalho que durou três anos.
– Ficou lindo e divertido, com uma pegada de livro de arte – afirma.