Maitê e Kadu decidiram que era hora de radicalizar. Recém-formados em Administração de Empresas, aos vinte e poucos anos, acharam que já tinham acumulado experiência suficiente (dois estágios cada um, em áreas bem diferentes) para abrir seu próprio negócio. Queriam ser empreendedores, palavra que virou moda e que ouviram durante toda a faculdade. Quem não fosse empreendedor, diziam os professores, estava fadado a não ser ninguém na vida, já que os empregos formais estão cada vez mais em baixa.

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Então, acreditando que já estavam prontos para o “selvagem mundo capitalista” de que tanto ouviam falar nos tempos de universidade, adquiriram uma franquia de cosméticos com dinheiro emprestado pelos familiares, mesmo que a contragosto dos pais de ambos, que achavam cedo demais para uma decisão tão importante. Achavam que faltava-lhes experiência e malícia para o mundo dos negócios.

Para dar maior seriedade ainda à sociedade, Maitê e Kadu resolveram também selar de uma vez por todas aquele namoro, que já durava anos, com o casamento formal, no cartório e na igreja, para não restar qualquer dúvida de que agora sim, a união seria séria e, se tudo corresse bem, para sempre.

As papeladas e burocracias da franquia e do casamento foram resolvidas praticamente ao mesmo tempo. Maitê desdobrava-se para procurar o vestido de noiva e selecionar vendedoras para a loja que iriam abrir, enquanto Kadu percorria imobiliárias em busca de um apartamento para o casal e de uma sala comercial para o novo negócio.

Apesar dos atropelos, tudo deu certo. Ou quase. A lua de mel, claro, teve que ser adiada em função dos novos compromissos profissionais. Não dava para simplesmente fechar a loja e sair em núpcias. Nos primeiros tempos o dinheiro foi escasso, beirando a pobreza. Eles não imaginavam uma vida com tanta dureza. Praticamente não saíam, raramente pegavam um cineminha, e jantar fora virou luxo reservado às ocasiões especiais. Almoços de domingo, invariavelmente, eram na casa da sogra, um na dele, um na dela. Uma boa maneira de comer bem e poupar ao mesmo tempo.

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Aguentaram os primeiros anos praticamente sem despesas extras. Kadu, apaixonado por carros, contentou-se com um modelo popular, de alguns anos atrás, bem basicão. Maitê passou mais de ano sem comprar sapatos e bolsas novas, recorde histórico na sua vida de ex-consumista, e limitou o salão de beleza às necessidades básicas de toda mulher, cortando os excessos e luxos.

Agora, depois de quase quatro anos, Maitê e Kadu começam a respirar aliviados. Recebi deles um e-mail com uma linda foto anexada, de um passeio pelos arredores de Paris, onde foram finalmente curtir a postergada lua de mel. Eles parecem bem mais velhos, mas no bom sentido da palavra. Responsáveis, carinhosos, felizes com a vida que escolheram. A loja ficou nas mãos de uma gerente, competente e bem treinada pelo casal, que já pensa em comprar uma segunda franquia. Só não sabem se antes ou depois da chegada do bebê, que já está sendo encomendado lá no hotel romântico da capital francesa. Realmente, os jovens de hoje têm muita pressa e não querem deixar nada para amanhã. E quando têm a cabeça no lugar, foco no que querem e determinação, ninguém segura.