Estou me devendo a leitura de Geração Subzero: 20 Autores Congelados pela Crítica, mas Adorados pelos Leitores (2012). Quero reparar a falha em breve.

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Isso porque o livro se vende como reação à Geração Zero Zero: Fricções em Rede (2011), que anuncia reunir “os melhores ficcionistas brasileiros surgidos no século 21”, mas é de um constrangimento agressivo. Assim como, aliás, Granta Volume 9 – Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros (2012).

Sim, nesses livros estão Lourenço Mutarelli, de O Cheiro do Ralo; Antônio Prata, que tem escrito crônicas com a mesma fluência quase sobrenatural do seu pai; e Daniel Galera, autor de um dos melhores romances nacionais recentes, Barba Ensopada de Sangue, aliás ambientado em Garopaba. Tradutor de David Foster Wallace, Galera emula a descrição hiperperceptiva do americano. É tão prazeroso revisitar o mundo com a acuidade verbal dele que o seu romance poderia durar 2,5 mil páginas, em vez de 422.

Com mais algumas exceções, de resto é complicado. As duas coletâneas têm vários dos novos escritores brasileiros que melhor dominam a forma do que escrevem, com o porém de não ter quase nada importante para dizer.

Emílio Fraia, Julián Fucks, Carol Bensimon, Carlos Schroeder e Vinícius Jatobá são os autores de alguns dos vários contos refinados que se orgulham das suas espirais de insignificância. Textos na linha olha-como-nesse-século-macro-e-grosseiro-eu-sou-minimalista-e-etéreo. Os títulos contêm palavras como “esboço”, “apontamentos” e “natureza-morta”, que avisam: estou só testando uns traços aqui, rabiscando uns personagens, insinuando uma metaliteratura, criando diálogos para que os protagonistas digam algo sensibilíssimo, com referências culturais dentro de referências culturais.

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É pegajoso. Você precisa tomar banho depois de ler. Nos Estados Unidos, o auge desse tipo de texto pós-moderno terminou há mais de 30 anos.

Pegajoso e autocondescendente. Fica faltando qualquer sinal de um mundanismo Xico Sá, uma malícia João Ubaldo, uma vitalidade Henry Miller, uma ambição social Jonathan Franzen, um gosto por histórias Alice Munro, um erotismo Anaïs Nin, uma transcendência rueira García Márquez, uma olhada nos olhos do touro Hemingway.

Aliás, mesmo Daniel Galera comete o seu pecado. Pelo poder descritivo eu realmente leria 2,5 mil páginas dele, mas a trama de Barba Ensopada de Sangue arria em alguns momentos, e é uma pena que alguém com tanto talento não se meta em temas maiores. Por que, por exemplo, ambientar o livro em Garopaba no inverno em vez de Balneário Camboriú e Florianópolis no verão, perdendo a chance de ter que lidar com um napalm de significados do século 21?

Galera parece ter lido o que disse Alan Pauls em La Vida Descalzo: que para redimir a praia como “espaço de pensamento e respeitabilidade intelectual”, é necessário “deprimi-la” e “extirpá-la do verão”.

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É o diagnóstico perfeito de muitos dos novos escritores brasileiros. Respeitabilidade intelectual, praia no inverno. O mínimo de vida além das persianas possível.