Em entrevista coletiva concedida na tarde desta terça-feira, em Santa Maria, o subcomandante do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros, major Gérson da Rosa Pereira, disse que a população “deveria ter cuidado com o lugar que frequenta” e afirmou que temos “mais sorte que juízo”, referindo-se aos riscos em casas noturnas.
Continua depois da publicidade
Após as declarações, Pereira afirmou para a reportagem de Zero Hora ter recebido um telefonema do governador Tarso Genro proibindo-o de falar com a imprensa. Confira abaixo, algumas declarações do major na entrevista.
PROTEÇÃO ACÚSTICA
“Não é competência dos bombeiros trocar o forro (considerado por especialistas inadequado para aquele tipo de estabelecimento e cuja fumaça tóxica pode ter sido responsável por mortes). Não sei de quem é a competência. Não sei de quem é a culpa. Não sei”.
Continua depois da publicidade
PODER PÚBLICO
“Não tenho competência por isso, não sei de quem é a competência. Cada um tem sua competência: poder público, enfim. Fico extremamente indignado por não ter mais poderes de atuação. Mas, essa é uma tragédia que poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo. Infelizmente aconteceu em Santa Maria.
MAIS SORTE QUE JUÍZO
“Há milhares de cidades e de boates, mas este fato foi em Santa Maria. Essas outras (cidades e boates) têm mais mais sorte do que juízo. Num universo de milhares ocorreu em Santa Maria”.
POPULAÇÃO DEVE CUIDAR ONDE FREQUENTA
“A população também deve ter cuidado com o lugar que frequenta. Não dá para ficar em um lugar onde não se pode nem se mexer”.
Continua depois da publicidade
PORTA É DO TAMANHO EXIGIDO
“A porta (da boate Kiss) é do tamanho exigido. Claro, que preferencialmente pode haver duas (portas), mas o empresário vai escolher colocar um só por questão econômica. Isso é assim e sempre foi. O empresário não vai querer gastar mais” (engenheiros e especialistas ouvidos por Zero Hora são unânimes em afirmar que a boate deveria ter pelo menos uma porta de emergência)
LEGISLAÇÃO
“A competência dos bombeiros está na prevenção de incêndio – escada, extintores, entre outros. A boate tinha sinalização. Claro que extintores apresentam problemas, por isso cuidamos a validade da recarga, realizamos o teste hidrostático, o que é feito a cada cinco anos, para que o extintor não estoure”.
SEGURANÇA
“O corpo de bombeiros e a Brigada Militar não abrem mão de segurança. Nós, bombeiros, priorizamos a lei e o cuidado com as pessoas. É claro que a lei tem que ser mudada para evitar com que tenhamos de passar por tudo isso”.
Continua depois da publicidade
A tragédia
O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.
Sem conseguir sair do estabelcimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.
A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos útimos 50 anos no Brasil.
Continua depois da publicidade
Veja onde aconteceu

A boate
Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade da Região Central, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes – além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com o comando da Brigada Militar, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.
Clique na imagem abaixo para ver a boate antes e depois do incêndio
A festa
Chamada de “Agromerados”, a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas “Gurizadas Fandangueira”, “Pimenta e seus Comparsas”, além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.

Continua depois da publicidade