Alvo de reclamações diárias dos usuários de ônibus, os atrasos e a superlotação dos principais itinerários em horários de pico se intensificaram nesta semana em Blumenau. Com a apreensão de 27 veículos da Glória, 52 das 95 linhas que circulam na cidade precisaram ser remanejadas. A reestruturação resultou no corte de 700 viagens diárias – 272 só nos troncais que atendem a Escola Agrícola, Fortaleza, Velha e o distrito do Garcia.

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Diante da insatisfação geral, o Santa foi conferir de perto a situação. Nossa equipe fez viagens em algumas das principais linhas da cidade no fim da tarde de quarta, quando muitas pessoas estavam voltando para casa, e na manhã de quinta, quando elas saíam para seus compromissos. A reportagem constatou que a situação, que já era ruim, piorou.

Espera maior para embarcar

Além de aumentar o tempo de permanência dos usuários dentro dos ônibus, os horários provisórios forçam passageiros a ficar, em alguns casos, até o dobro do tempo esperando para embarcar. É o caso de Rose de Oliveira, 37 anos, e Ledir dos Santos Voltolini, 54, ambas diaristas, e da telefonista Clenir Zimpel, 35.

Mãe da pequena Caroline, de apenas três anos, Rose lembra que na segunda-feira – primeiro dia que os itinerários especiais começaram a vigorar – ela esperou uma hora até que a linha com destino à Itoupavazinha passasse na Rua 2 de Setembro.

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– Eu deixo ela na creche e vou trabalhar. Para voltar, antes eu pegava ônibus às 16h45min ali na frente da Glória e mais tardar as 17h estava entrando no Terminal do Aterro, agora chego aqui (no Aterro) perto das 18h – conta.

Clenir, assim como Rose, também depende da linha que passa pela Itoupavazinha para ir e vir até o Terminal do Aterro.

– Hoje peguei o que passa pela (rua) Philipp Bauler porque o outro demora muito e acabo me atrasando. O Itoupavazinha passa 18h45min e o Philipp Bauler, 18h20min – explica.

Ledir relata o mesmo problema, mas dessa vez com a linha que passa pelo bairro Escola Agrícola, o Troncal 12 (Fonte/Proeb/Aterro). A espera, que antes não passava de 15 minutos, subiu para meia hora.

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– Isso quando a gente consegue entrar, né? Esses dias fiquei esperando e quando o ônibus passou não cabia mais ninguém. Em vez de o transporte melhorar, só piora – lamenta, ao revelar que, apesar de achar perigoso, cogita comprar uma moto para agilizar a ida e a volta ao trabalho.

Pressão sobre os motoristas

Sem itinerário fixo, a cobradora Iris Pereira e o motorista Nelson de Siqueira foram escalados às 7h32min de ontem para levar passageiros que não conseguiram embarcar em dois ônibus articulados que saíram meia hora antes do Terminal Aterro em direção à Fonte.

Apesar de os dois ônibus anteriores já terem deixado o Aterro lotados, o terceiro também saiu bastante cheio. As 15 pessoas que embarcaram fora do terminal só conseguiram passar na catraca quando parte dos usuários desceu no ponto em frente ao Senai, na Rua São Paulo. O cenário, longe do ideal, poderia ser pior. Iris comenta que como algumas escolas já se aproximam de encerrar o ano letivo o fluxo de passageiros diminuiu consideravelmente.

– Assim já está cheio, imagina com os estudantes – diz, ao lamentar que os usuários se queixam da superlotação para ela.

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– Não temos culpa, mas eles (passageiros) não entendem. É triste. Já vivemos épocas bem melhores.

A insatisfação de Iris também é sentida pelo motorista. Na função há três anos, Siqueira reclama da pressão feita pelos fiscais para que as escalas, segundo ele cada vez mais apertadas, sejam rigorosamente cumpridas – o que é quase impossível, interrompe Iris. Também há relatos de passageiros de que os motoristas estão dirigindo mais rápido para dar conta das viagens, o que aumenta a sensação de insegurança.

Na tabela nova, seis veículos deveriam sair do Aterro entre às 7h e 8h. Com intervalos que variam de 10 a 15 minutos, a redução não atende nem a metade praticada antes das apreensões dos 27 ônibus. Se fosse na semana passada, dentro deste horário usuários poderiam embarcar de cinco em cinco minutos e teriam à disposição 18 escalas.

Disputa ferrenha por um lugar

Às 17h20min de quarta-feira, hora do rush no Centro, a estação de embarque Dr. Blumenau, na Beira-Rio, começa a encher. Albert Braga é um dos que se amontoam em frente à porta para conseguir embarcar em um coletivo. Ele chegou na estação às 16h55min. Seu ônibus, um Troncal 10 (Garcia-Aterro), aparece somente às 17h27min, já cheio das paradas anteriores. O servente de obras de 28 anos luta por um espaço nos degraus e consegue embarcar. Muitos não têm a mesma sorte e desistem e decidem esperar o próximo.

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A essa hora do dia, o Troncal 10 normalmente sairia do seu ponto inicial – o Terminal do Garcia – de cinco em cinco minutos. Na tabela provisória, a faixa horária mais movimentada do dia passou a ter veículos saindo com um intervalo entre 12 e 15 minutos. Em um dia comum, entre às 17h30min e 19h, 21 ônibus da linha 10 saíam do terminal. Hoje, são apenas sete.

– Está complicado. Ontem eu comecei a minha escala na hora certa e acabou atrasando tudo no fim do dia. Hoje adiantei minha primeira linha em sete minutos, assim eu estou conseguindo cumprir os horários agora – conta o motorista Hilário Sperber.

O ônibus dirigido por ele é o próximo 10 a chegar na estação, às 17h42min, 15 minutos depois do último. A reportagem conseguiu entrar nele. No entanto, na segunda estação de embarque da Beira-Rio já não havia mais espaço no veículo articulado. Passageiros que aguardavam nos pontos seguintes até o Terminal Aterro também não conseguiram embarcar.

Nas linhas que abastecem os bairros a sensação é a mesma. A auxiliar administrativa Daniele Recalcatti, de 22 anos, já esperava há 25 minutos no Terminal do Aterro quando seu ônibus – 123 Itoupavazinha – chegou. O itinerário teve os horários reduzidos quase pela metade entre 17h e 19h. O veículo encheu em poucos segundos e ela ficou de fora, mesmo quando, ao ver a quantidade de passageiros, o motorista liberou a entrada também pela porta da frente.

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– Ficamos aqui sem saber o horário do próximo ônibus, porque atrasa e às vezes até não vem. Com horário reduzido então, não dá pra saber a hora em que vou chegar em casa – desabafa.