Para evitar perder tudo que tinha na geladeira e no congelador, Cleber Ricardo de Siqueira, 56 anos, 18 deles na Costa da Lagoa, cozinhou o máximo que pode. Já a técnica de enfermagem Roseli Folchini, de 52 anos e há duas décadas no bairro do leste da Ilha, não estoca comida no freezer, já com medo de outra tempestade. É assim que os moradores da comunidade, onde só se chega de barco ou por trilha, se viram. Eles estão no quinto dia sem energia elétrica devido ao ciclone do domingo.
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— Na Costa tudo é mais difícil — diz Roseli, que se mostra bem acostumada com tudo isso que está acontecendo.
— Nunca vi coisa igual por aqui — destacou Jorge João Bernardes, 47 anos, nativo da Costa da Lagoa.
Nesta quinta-feira, a Celesc retornou à comunidade para religar a luz. Na quarta-feira, a ventania atrapalhou os trabalhos, quando os postes foram levados de barco. Muitas árvores caíram sobre as redes elétricas, dificultando ainda mais o acesso das equipes. Algumas propriedades também foram danificadas. Conforme a empresa, o serviço foi retomado às 18h13 na comunidade.
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— A gente começa de manhã e vamos até às dez da noite trabalhando. Está sendo um trabalho muito intenso — destacou o gerente da Agência Regional da Celesc em Florianópolis, Luís Carlos Facco, que trabalhava durante a manhã.
“A comunidade do Matadeiro tem luz própria”
— O barulho no Matadeiro parecia de um trem chegando em círculos. Eram as árvores quebrando e torcendo como um pano — conta a publicitária Denise da Silva James, de 54 anos.
Ela conta que mais de 300 árvores caíram na praia do sul da Ilha, e que até agora ninguém da Celesc resolveu a situação. Só na casa dela, foram sete árvores caídas, e o telhado inteiro se foi. Segundo Denise, as trilhas ficaram bloqueadas.
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— Eu demorei cinco horas pra sair do Matadeiro, porque sem energia não tinha como usar motosserra. Quero dar os parabéns aos bravos que a serrote, facão e o que tinham a mão abriram as trilhas e se ajudaram mutuamente. A comunidade tem luz própria, a solidariedade — destacou a publicitária.
Na Costa de Dentro, luz retornou nesta quinta
Paola de Sousa tem duas crianças de 2 anos e uma de 4. Elas estão sem aulas na creche. Mas a mãe continua tendo que trabalhar. É lojista no shopping Beira Mar e pega seis ônibus por dia. Teve parte da casa destelhada e está com com cheiro ruim dentro de casa por causa da comida estragada.
— Na quarta-feira, me deparo com minha cozinha cheia de sangue. Era meu freezer derretendo toda a carne que comprei para passar o mês. E aí eu pergunto: quem sempre sai no prejuízo? Nós, trabalhadores — protesta a moradora da estrada Rosália Paulina Ferreira.
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O que diz a Celesc
A companhia tem 190 profissionais trabalhando da manhã à noite. No momento, está com equipes concentradas na Costa da Lagoa, Campeche, Rio Tavares, Ribeirão, Costa de Dentro e Sertão do Ribeirão. Até o fim da tarde desta quinta-feira, restavam cerca de 1.100 unidades consumidoras sem luz. As informações são do chefe da Divisão Técnica Regional de Florianópolis, Adriano Luz.
Sobre a Costa de Dentro, o engenheiro explica que foram muitas árvores caídas, dificultando o acesso ao bairro. Também salientou que é uma comunidade que não demanda um número tão grande de clientes.
Na Costa da Lagoa, a grande dificuldade foi o transporte de postes. Nesta quinta, todos os dez postes foram levantados, e o serviço voltou a funcionar.
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Quanto ao Matadeiro, Adriano Luz informa que a Celesc está aguardando para esta sexta-feira os bombeiros cortarem as árvores para iniciarem os trabalhos. Será o primeiro atendimento da sexta.
Previsão é de mais chuva
Conforme a Epagri/Ciram, para esta sexta e sábado há condições de temporais localizados, raios, rajadas de vento e granizo, sobretudo no Oeste e Norte do Estado, deviso à influência de um cavado, uma região de convergência de ventos. No restante do Estado, chuva com menor intensidade e volume.
A orientação aos moradores é acompanharem a previsão do tempo sempre nos veículos de imprensa e órgãos oficiais, como Epagri/Ciram, Defesa Civil e Inmet. Na quinta-feira, foram divulgadas falsas previsões nas redes sociais de tempestades com ventos de até 100 km/h, o que foi desmentido pela Defesa Civil.
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