Mais de R$ 4 milhões foram gastos pelo governo federal para custear 15 visitas do presidente Jair Bolsonaro (PL) a Santa Catarina. As passagens do chefe do Executivo pelo Estado foram marcadas por solenidades, motociatas e férias. Os dias de descanso e as passeatas de moto representam 74% do valor desembolsado dos cofres públicos. Durante o período em que esteve em Santa Catarina, Bolsonaro não fez anúncios de investimentos.
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O total gasto foi obtido pelo Diário Catarinense via Lei de Acesso à Informação (LAI). O período divulgado vai de maio de 2019 a agosto de 2021. O valor levantado foi de R$ 3.320.418,07. Após esse período, o presidente fez uma viagem de férias ao Estado em dezembro de 2021. Os custos dessa visita foram divulgados pelo jornal O Globo. A soma de todas as viagens totaliza os R$ 4.219.792,62 (veja datas e gastos abaixo).
Gastos de Jair Bolsonaro nas viagens para SC
https://www.datawrapper.de/_/o1aOp
Veja as datas de férias e motociatas
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- São Francisco do Sul (14/12/2020 – 23/12/2020) – R$ 739,900.26
- São Francisco do Sul (8/2/2021 – 17/2/2021) – R$ 737,826.50
- Chapecó (motociata) (22/6/2021 – 26/6/2021) – R$ 454,532.94
- Florianópolis (motociata) (3/8/2021 – 7/8/2021) – R$ 317,223.11
- São Francisco do Sul – (27/12/2021 – 2/1/2022) – R$ 899.374,60
Em nove das 15 visitas o presidente tinha agenda oficial de compromissos. Entre as atividades oficiais estão a presença no Congresso de Gideões, solenidades da Polícia Rodoviária Federal (PRF), sobrevoo às áreas atingidas pelo “ciclone bomba”, visita a um centro de atendimento à Covid-19 em Chapecó e a participação em uma live com o empresário Luciano Hang. Em fevereiro do ano passado ele participou do ato de entrega de 225 carros para a assistência social dos municípios. Os veículos, contudo, foram adquiridos com recursos de emendas parlamentares.
A cobrança por investimentos do governo federal em Santa Catarina é motivo de mobilização de diversos setores. A indústria catarinense elencou 12 obras e ações como prioridade na área da infraestrutura para o Estado em 2022. Os investimentos almejados pelo setor para o próximo ano somam R$ 1,6 bilhão. O documento foi lançado na mesma data em que o governo Bolsonaro anunciou o corte de R$ 40 milhões do orçamento das obras de duplicação da BR-470 e da BR-163.
Maioria dos gastos foi em motociatas e férias
Do total de gastos, a maior parte foi em férias e motociatas. A soma considera despesas com cartão de pagamento do governo federal, transporte terrestre, telefonia e diárias, de acordo com informações da Secretaria-Geral da Presidência. As datas informadas pelo governo se referem ao deslocamento dos Escalões Avançados (Escav), grupo composto por assessores, seguranças e outros funcionários.
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A visita mais cara foi a do fim de dezembro de 2021. A folga do presidente em São Francisco do Sul, no Litoral Norte, custou R$ 899.374,60, segundo dados divulgados pelo jornal O Globo. A passagem do chefe do Executivo contou com passeios de jet ski e visita ao Beto Carrero World, em Penha. Durante os sete dias em que esteve no Estado, Bolsonaro não teve agenda oficial. A viagem foi interrompida, no dia 2 de janeiro deste ano, após o presidente passar mal (informação que foi revelada em primeira mão pelo NSC Total).
> Bolsonaro fala sobre gastos durante férias em SC: “Vou pegar no cangote de alguém”
A participação nas duas motociatas promovidas no Estado custou R$ 317.223,11 (Florianópolis em 7 de agosto de 2021) e R$ 454.532,94 (Chapecó em 26 de junho de 2021) aos cofres públicos. Os eventos reuniram apoiadores do presidente e foram marcados por discursos de Bolsonaro com ameaças aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e questionamentos sobre a segurança das urnas eletrônicas.
Os valores, informou a Secretaria-Geral, estão sujeitos a alterações, caso ocorram atualizações decorrentes do processo de análise da prestação de contas das viagens presidenciais.
O que diz o Governo catarinense
Em nota enviada ao Diário Catarinense, o governo do Estado afirmou não ter gasto dinheiro nas visitas do presidente, mas admitiu auxílio logístico nas duas motociatas. O Estado não informou quais foram os valores despendidos nessas atividades. Os gastos foram com o apoio da Polícia Militar ao fechamento total ou parcial de vias. No caso das demais visitas, segundo o governo estadual, a logística é feita por órgãos federais.
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“Desde 2019, inclusive, a Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial nunca pediu auxílio à Casa Militar de Santa Catarina nesse sentido. Toda a logística do presidente e sua comitiva em Santa Catarina é realizada com o apoio da Polícia Rodoviária Federal e do Exército”, disse o texto.
Com base na agenda oficial, Santa Catarina foi o sétimo estado mais visitado por Bolsonaro durante o mandato. Foram 9 visitas com agenda de compromissos. Em primeiro está São Paulo (50) e o Rio de Janeiro (37) em segundo. O terceiro lugar foi em Goiás (19).
Gastos repercutem como “questionáveis”
O professor de Administração Pública da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Daniel Pinheiro, explica que gastos com folgas e viagens não são ilegais. Contudo, ele avalia que em um período em que o país tem orçamento limitado, esse tipo de despesa se torna “moralmente questionável”.
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– Estamos num momento de desemprego, recuperação econômica, onde a gente deveria estar fazendo investimento nessas áreas. Se compararmos com o orçamento não é nada, mas se olhamos que isso é um comportamento típico da nossa política, isso é moralmente questionável – afirma.
O deputado federal Pedro Uczai (PT), de oposição ao governo, critica a ausência de anúncios de investimentos de Bolsonaro durante as visitas.
– O que é mais grave e nos coloca numa perspectiva de indignação ética é o que ele veio fazer. Qual a grande obra que ele anunciou ou que veio inaugurar em todas as viagens que veio a Santa Catarina? Nenhuma. Quais os investimentos em infraestrutura, transporte e logística no Estado? – questiona o parlamentar.
Apoiadores de Bolsonaro preferem o silêncio
O Diário Catarinense procurou parlamentares catarinenses para que comentassem os gastos. A deputada federal Ângela Amin (PP), presidente do Fórum Parlamentar Catarinense, não retrornou os contatos.
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Já o senador Jorginho Mello (PL), que esteve com o presidente na motociata em Florianópolis, preferiu não se manifestar. Os deputados federais Rogério Peninha Mendonça (MDB), Geovânia de Sá (PSDB), Daniel Freitas (União Brasil) e Caroline de Toni (PSL) também foram procurados através de suas assessorias, mas todos optaram pelo silêncio.
A reportagem procurou a Presidência da República, mas também não obteve retorno até a publicação.
Nossa equipe solicitou à Secretaria-Geral da Presidência o detalhamento das despesas e quantas pessoas participaram da comitiva presidencial. A pasta não compartilhou as informações, alegando que são sigilosas.
Gastos de Bolsonaro são investigados pelo TCU
Os gastos do presidente com o cartão corporativo são alvo de investigação do Tribunal de Contas da União (TCU). O órgão analisa as compras feitas pelo governo com cartões corporativos. A decisão foi tomada após pedido do senador Fabiano Contarato (PT-ES).
Dados divulgados pelo senador, em janeiro passado, mostraram que em três anos o governo de Jair Bolsonaro gastou R$ 29,6 milhões no cartão corporativo. O valor é 19% superior ao que foi gasto nos dois mandatos de Dilma Rousseff (PT) e na gestão de Michel Temer (MDB) juntos.
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Os gastos com os cartões corporativos no governo Bolsonaro estão em sigilo.
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