Paula Soprana
Mais de 600 mil pessoas podem ter sido demitidas de bares e restaurantes com a escalada do coronavírus no Brasil, de acordo com projeção da ANR (Associação Nacional de Bares e Restaurantes) baseada em enquete com seus associados. A entidade, que agrega 9.000 associados, entre grandes redes, franquias e restaurantes independentes, recebeu respostas de cerca de 70% dos integrantes de 27 de março a 1º de abril. Identificou que 61,8% dessas empresas já demitiram.
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– Estimo que esses 61% correspondem a cerca de 15%, 20% dos funcionários do setor no país. Com essa estratificação, assumo que as demissões do setor no Brasil podem girar em torno de 600 mil a até 800 mil – diz Cristiano Melles, presidente da ANR.
Considerando trabalhadores formais e informais, o setor emprega 6 milhões no país. A ANR diz que mais da metade dos associados que responderam (53,2%) afirmou que perdeu de 50% a 90% do faturamento na comparação entre março deste ano e o mesmo mês de 2018. Só 3% disse ter registrado aumento na receita, mas apenas nas operações de delivery; 36% afirmaram que adaptaram suas operações rapidamente para ofertar o serviço de entrega.
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Sobre a manutenção de negócios no período pós-pandemia, 16% disseram que fecharão as portas. Já 57% dos empresários disseram que seguirão com a empresa, enquanto 27,5% declararam que vão manter lojas abertas, mas fecharão outras.
Nesta quarta (1º), o governo editou uma MP (Medida Provisória) que autoriza corte salários e jornadas de trabalhadores durante a crise provocada pelo novo coronavírus. As reduções poderão ser feitas em qualquer percentual, podendo chegar a 100%, e têm prazo máximo de 90 dias. A MP também libera a suspensão de contratos de trabalho por até dois meses, estabelecendo o pagamento do seguro-desemprego nesses casos.
A medida era um pleito de diversos segmentos, incluindo o de restaurantes. Para o presidente da ANR, ela dá alento ao setor e previsibilidade em relação aos funcionários.
Agora vamos trabalhar para aumentar o prazo [da suspensão de contratos] de 60 dias para 120 dias. Se a medida tivesse saído dez dias antes, sem dúvida diminuiria o estrago, mas precisou haver consulta ao STF e alguns pontos não tiveram a rapidez necessária.
Além disso, ele ressalta que o período pós-quarentena deve ser de retomada leve, tanto pelo consumo, que será afetado pelo desemprego, como pelo receio das pessoas, que deverão seguir normas iniciais de afastamento nos restaurantes.
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A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) tem um número mais conservador sobre demissões e considera apenas o mercado formal. A estimativa era de que até a semana que vem o setor fosse demitir 350 mil pessoas. Com a medida provisória do governo, a projeção caiu para 150 mil, de acordo com Paulo Solmucci, presidente da entidade.
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– A recepção da medida é a melhor possível porque esses últimos 15 dias foram de desespero e quase pânico com o não pagamento do salário. Já levamos ao governo um pleito central, e se ele não puder fazer isso, talvez tenhamos que ir ao Congresso, que é incluir a folha de março na medida – diz.
A associação está orientando que restaurantes reconsiderem as demissões já feitas e tentem as enquadrar em suspensões.