Os pinguins-de-Magalhães aparecem no litoral catarinense, entre junho e setembro, e são visitantes frequentes da Ilha de Santa Catarina. Eles vêm em grupos da região da Patagônia em busca de alimento durante o rigoroso inverno do hemisfério Sul. 

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Somente em 2022, mais de 508 animais foram vistos e resgatados na região, segundo a Associação R3 Animal, especializada no atendimento de animais marinhos.

Entretanto, muitos pinguins chegam às praias de Florianópolis machucados, desidratados ou exaustos da viagem. Neste caso, precisam de ajuda para se restabelecerem e concluírem o ciclo migratório.

Para atender essa demanda, associação mantém um centro com capacidade de atender 120 pinguins simultaneamente no Norte da Ilha. Lá, o processo de recuperação é realizado com cuidado e monitoramento para garantir a saúde dos animais até eles voltarem à vida selvagem. 

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Especialistas do R3 Animal conversaram com o g1 SC, que explicaram o passo a passo para a reabilitação dos animais resgatados. O grupo integra do Projeto de Monitoramento de Praias (PMP).

Resgate nas praias

As praias da faixa Leste da Ilha são monitoradas diariamente por três equipes de duas pessoas em busca de animais marinhos que precisam de atendimento. Nas demais regiões, o resgate é feito a partir de acionamento de moradores e banhistas.

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Ao serem resgatados, os pinguins são levados para o complexo do R3 Animal, no Parque Estadual do Rio Vermelho, no Norte de Florianópolis, em caixas de transporte para animais.

Geralmente o transporte ocorre sobre mantas para mantê-los aquecidos, pois é comum que eles cheguem com hipotermia, de acordo com os profissionais.

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— Se ele estiver com hipotermia, será deixado em uma unidade de tratamento para terapia intensiva, com fornecimento de calor — comenta a médica veterinária Marzia Antonelli.

Segundo dados do R3 Animal, dos 508 pinguins-de-magalhães resgatados desde 29 de maio, data do primeiro registro deste ano, apenas 36 estavam vivos no momento do resgate. Desses, nove resistiram e continuavam em reabilitação no complexo na segunda-feira (1º).

Além disso, o local também segue monitorando dois pinguins da temporada passada e quatro animais que vieram de outras unidades do PMP do Estado. Ao todo, são 15 pinguins em recuperação.

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A associação afirma que os animais resgatados vivos geralmente são jovens e estão realizando a migração da Patagônia ao Litoral catarinense pela primeira vez. Como ainda são inexperientes, chegam exaustos e magros.

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Os juvenis possuem cor indefinida e acinzentada, explica a R3. Já os adultos, apresentam coloração preta e branca, com faixas bem definidas ao redor da cabeça e nas laterais do corpo.

Quando em recuperação em Florianópolis, os animais têm acesso a ambulatório, salas de estabilização, internação e isolamento, laboratório de análises clínicas, sala de necropsia, sala de cirurgia e sala de despetrolização, que é a retirada do óleo do corpo. De acordo com o R3 Animal, alguns pinguins chegam intoxicados à unidade.

A triagem

Logo quando chegam ao Parque Estadual do Rio Vermelho, os animais são encaminhados ao ambulatório para uma triagem. No local, a equipe de veterinários verifica as condições de saúde dos pinguins recém-chegados.

A partir desse momento, os animais passam a ser identificados por números, com fitas presas ao corpo deles que só são retiradas no fim do tratamento, quando são microchipados e devolvidos à natureza.

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— Nós recebemos esses animais da praia e eles passam por uma avaliação clínica. Lá nós fazemos todos os exames, aferimos a temperatura, avaliamos lesões, mucosas, grau de desidratação, e, de acordo com nossa análise, ele vai passar por um tratamento [específico] — explica Antonelli.

Aqueles em situação mais vulnerável são levados à sala de internação, para um tratamento intensivo. Os outros são encaminhados à área de estabilização, que possui os mecanismos necessários para cuidados mais simples, como cercadinhos com luzes para aquecer os pinguins que chegam com hipotermia e uma Unidade de Tratamento Animal (UTA) com fornecimento de oxigênio para animais com dificuldade respiratória.

Rafael Meurer, analista de laboratório do R3 Animal, explica que, ao chegar, são feitos exames de sangue nos pinguins, com análise de hemograma completo, de bioquímica sanguínea e de possível presença de hemoparasitas.

— Além do exame de sangue, a gente faz também os exames parasitológicos de fezes para verificar se, quando chega, tem parasita. Se tiver, é feito o tratamento. Esse exame é repetido ao longo do processo em que ele está aqui em reabilitação — explica Meurer.

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Sala de estabilização

Na segunda-feira (1º), nove pinguins-de-Magalhães estavam sendo atendidos na sala de estabilização. O local é higienizado todos os dias e, para entrar no recinto, é obrigatório molhar os pés em água com cloro para evitar contaminação.

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Os animais recebem alimentação três vezes por dia. A comida oferecida costuma ser uma pasta de peixe, transferida aos pinguins por seringas de 60 ml a 120 ml, dependendo da saúde do animal. Segundo a veterinária, o utensílio vai até a entrada do estômago deles.

Antonelli explica que muitos ainda não estão em condições de ingerir comidas sólidas. Alguns deles sofrem de cólica, e recebem medicamento durante a refeição. Outros chegam com problemas gastrointestinais por inger lixo do mar.

— Eles passam por esse período de tratamento, que varia de acordo com os sinais clínicos. São medicados e, nesse período, ficam nas salas internas, onde iniciam com uma alimentação mais leve, normalmente com papa de peixe, até conseguirem fazer a transição para alimentação sólida com peixe — comenta a médica veterinária Marzia Antonelli. Após esse processo, os animais passam por novos exames.

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Cercadinhos com luzes aquecem os pinguins com temperatura baixa e uma UTA, que é uma espécie de incubadora, fornece oxigênio àqueles que têm dificuldade para respirar. Os mesmos utensílios são vistos na sala de internação, ao lado, onde ficam os resgatados em situação mais grave.

Simulando o habitat natural

Após a estabilização dos animais, os pinguins são levados à área externa do complexo, onde se preparam para voltarem à natureza e recebem uma série de apelos sensoriais. Atualmente, seis animais estão no local, segundo o R3 Animal. 

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Lá a piscina simula o mar, importante para a impermeabilidade das penas, e a comida volta a ser o peixe em que estão habituados.

De acordo com Antonelli, a impermeabilidade dos pinguins acontece pelo arranjo estrutural das penas, mas também com auxilio de uma secreção da glândula uropigiana, importante para regular a temperatura corporal. Na maior piscina do complexo, eles reaprendem a estimular a glândula. 

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— A gente precisa estimular, fazendo com que eles fiquem bastante tempo dentro da água, saiam e estimulem a eliminação da secreção dessa glândula. Eles precisam estar tão impermeáveis que, às vezes, a gente consegue ver a formação de gotas no corpo deles — afirma a veterinária.

Por causa da impermeabilidade, os pinguins passam por banhos de limpeza após a alimentação com peixe. Assim, é feita a retirada de possíveis resíduos do alimento nos corpos dos animais.

Para evitar lesões nas patas, eles também experimentam a textura das pedras na área externa. Enquanto isso, um ventilador é usado de repelente, para protegê-los.

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Antes de deixarem a R3 Animal são microchipados. Assim, caso se machuquem e sejam resgatados por outra unidade de apoio, é possível identificá-los.

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Após passarem por esse processo, os pinguins são reinseridos à natureza, geralmente em grupos de pelo menos 10 animais, já que a espécie é acostumada a andar em bandos. 

Sala de necropsia

Cerca de 92% dos pinguins encontrados na Ilha de Santa Catarina estavam mortos no momento do resgate. De acordo com o veterinário Sandro Sandri, a partir dos exames de necropsia, feitos no local, é possível “traçar um esboço da história de vida deles pré morte”. Dois testes são feitos, segundo ele. 

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A análise macroscópica avalia os órgãos e verificar as alterações externas e internas de maneira macroscópica. Já na análise microscópica, amostras de material são enviados para exames patológicos e de microbiologia. A partir da coleta são feitas pesquisa de bactérias em pulmões, em trato digestivo e análise de parasitas.

O especialista explica que a maior causa das mortes, sobretudo em período de migração, é afogamento. 

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— Tanto por causa do desgaste físico, proveniente da migração, quanto pela interação com apetrechos de pesca — aponta o veterinário.

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