Carretéis, manequins, ciclistas, idiotas. As figuras que aparecem constantemente na obra de Iberê Camargo criaram uma espécie de marca pela qual seus desenhos, pinturas e gravuras são facilmente reconhecíveis. Menos evidente é a origem de cada um desses temas desenvolvidos pelo artista e o modo como eles surgem, somem, reaparecem e até se embaralham ao longo das cinco décadas em que produziu. Oferecer uma experiência virtual que ajuda a compreender o processo de criação e o percurso visual do maior nome da arte gaúcha é o ponto alto da nova iniciativa da Fundação Iberê Camargo (FIC).

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Em evento neste sábado, às 15h, para convidados e inscritos, a instituição lança o Acervo Digital. Resultado do projeto de digitalização da coleção mantida pela FIC, a iniciativa disponibiliza na internet mais de 4 mil itens entre obras e documentos que Iberê (1914 – 1994) e a mulher, Maria Coussirat Camargo (1915 – 2014), reuniram ao longo da vida. Essa coleção familiar, que passou à guarda da Fundação depois da morte do artista, estará acessível no endereço http://acervodigital.iberecamargo.org.br/.

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A novidade vem na sequência da inclusão da FIC em 2013 no Google Art Project, que oferece visitas virtuais por museus do mundo. Agora, com o acervo digitalizado e disponível para acesso em seu próprio site, a Fundação dá um novo passo na divulgação internacional de Iberê, seguindo o exemplo de grandes instituições que digitalizam e disponibilizam suas coleções.

– Museus de larga tradição e relevância cultural como Tate, Metropolitan, MoMA e Rijksmuseum, entre outros, cujos projetos em disponibilização de acervos são excepcionais, nos servem de inspiração e modelo – diz Gustavo Possamái, um dos profissionais responsáveis pelo projeto.

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A ideia é que o Acervo Digital da FIC funcione em regime “beta”, incorporando novos itens. As mais de 4 mil imagens disponibilizadas inicialmente incluem pinturas, gravuras, desenhos, guaches, estudos, provas, fotografias e textos. Muito desse material é inédito para o público. E pelo menos 3 mil imagens são apresentadas em alta resolução, o que oferece, por exemplo, a experiência de se apreciar em detalhe as espessas camadas de tinta que Iberê costumava usar. É como navegar “dentro da obra”.

– Em termos de apresentação de coleções de arte em ambiente digital, há como referência no Brasil os sites do Projeto Portinari, de Tarsila do Amaral e do Instituto Moreira Salles, mas dificilmente são encontradas imagens de obras em alta resolução como estamos oferecendo – afirma Possamái.

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Para quem experimenta a navegação do site, o destaque são os cruzamentos que sugerem relações sobre a produção de Iberê, resultado de um extenso trabalho de pesquisa. A imagem de cada obra apresentada está cercada por outras que tenham alguma correspondência visual e também por fotografias, documentos e textos relacionados.

– Esses cruzamentos são o diferencial do projeto, porque permitem descobertas – observa Eduardo Haesbaert, coordenador do Acervo da Fundação. – Uma pintura leva a um desenho, que leva a uma fotografia, que remete a outra pintura… Com essas relações, surgem não só curiosidades, mas também a possibilidade de se tentar entender o pensamento de Iberê, seu senso estético, onde queria chegar. E surgem coisas impressionantes. É algo para se experimentar com tempo, porque é infinito.

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