A tartaruga-verde encontrada na tarde desta quinta-feira nas proximidades da ponte pênsil da Lagoa de Barra Velha elevou o índice de animais mortos no Litoral Norte de Santa Catarina. De acordo com estimativas do Museu Oceanográfico da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), já passa de 130 o número de mamíferos e répteis localizados sem vida entre São Francisco do Sul e Governador Celso Ramos.
Continua depois da publicidade
A soma entre o final de outubro e novembro ultrapassa todo o índice dos últimos dois anos, relata o curador do museu, Jules Rosa Soto. A média era de sete tartarugas e menos de um golfinho mortos ao mês. O especialista aponta a pesca com redes de emalhe como principal causa do problema.
– Os animais recolhidos têm as mesmas características: estão alimentados, com órgãos perfeitos e sem marcas de agressão ou feridas. Isso aponta morte por sufocamento, que acontece quando os animais ficam enrolados nas redes de pesca. Só não podemos garantir se as redes que estão causando o problema são dos barcos artesanais ou industriais – aponta Soto, doutor em Zoologia.
Museu terminará recolhimento de animais nesta sexta-feira
Continua depois da publicidade
O especialista diz que um relatório com a causa geral das mortes está em acabamento. O museu pretende encerrar nesta sexta-feira o recolhimento dos animais mortos na região, para então divulgar o relatório. O documento será entregue à Rede de Encalhes de Mamíferos Aquáticos do Sul.
Soto explica que um protocolo é preenchido na hora da análise da morte. Do protocolo constam especificações que levam ao descobrimento do que teria provocado o óbito. Entre os itens aparece a causa toxicológica, que pode ser provocada pela maré vermelha e poluição, por exemplo.
– Na causa toxicológica, não há seleção, todos os animais são atingidos. As tartarugas e os golfinhos seriam os últimos, pois são maiores e mais fortes. Por isso, descartamos esta hipótese, já que não há mortandade de peixes. Também existe a causa biológica, provocada por vírus ou bactéria.
Continua depois da publicidade
Neste caso, segundo Soto, a mortandade é específica, ou seja, o vírus ou bactéria atinge somente uma espécie. Para o especialista, outra hipótese descartada, já que os animais mortos são de famílias diferentes: répteis e mamíferos. O doutor em Zoologia usa o termo seletividade manual para definir a mortandade:
– Os pescadores puxam a rede do mar, e com ela vem peixes e outros animais. Como golfinhos, botos, baleias e tartarugas não são comestíveis e têm a pesca proibida, acabam jogados de volta no mar, mesmo mortos – justifica.
Além de Soto, outros três profissionais do Museu Oceanográfico da Univali formam a equipe responsável pelo recolhimento dos animais mortos.
Continua depois da publicidade
Pescadores discordam de posição de especialistas
A suspeita do Museu Oceanográfico da Univali de que a ocorrência de encalhes de animais marinhos mortos na região nas últimas semanas tenha como causa a atuação da pesca gerou mal estar no setor. Para o Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), a falta de um laudo comprobatório da mortandade gerou uma imagem negativa e injusta para os 230 associados.
De acordo com o coordenador técnico do Sindipi, Roberto Wahrlich, o fenômeno exige investigação, que deve ser feita por várias instituições especializadas:
– Tudo o que foi falado até agora partiu de uma única fonte e sem comprovações. Nossos associados sofrem constrangimento por conta disso, pois o que ficou é que os barcos pesqueiros são os verdadeiros culpados, mas ninguém sabe de forma oficial o que aconteceu.
Continua depois da publicidade