O resultado das Eleições 2022 mostrou mudanças na relação de forças políticas em Santa Catarina. Mesmo sem o resultado final da disputa para governador do Estado e presidente da República, a votação dos candidatos que passaram para o 2º turno e os nomes escolhidos para deputado federal e estadual e a vaga no Senado já indicam o perfil de partidos e lideranças que ganhou espaço na preferência dos eleitores catarinenses.
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Eleições 2022: guia mostra tudo o que você precisa saber
A mudança que mais chamou a atenção foi a repetição da onda conservadora que ajudou a eleger candidatos aliados a Jair Bolsonaro. O PL, partido ao qual o presidente se filiou em novembro de 2021, fez nada menos que 17 parlamentares em SC: seis deputados federais e 11 estaduais.
Além disso, elegeu Jorge Seif como senador e tem Jorginho Mello como favorito a vencer a disputa pelo governo do Estado. SC nunca foi governada por partido de esquerda e tem uma relação com a direita que remonta a grupos políticos tradicionais, também chamados de oligarquias, como os Ramos e os Konder-Bornhausen.
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Desde 2006, também dá a maioria de votos aos candidatos do campo da centro-direita na disputa presidencial. Apesar disso, o desempenho deste ano sinaliza um caminho ainda mais à direita para a política de SC.
O recado parece ser recebido por agentes políticos. Na última semana, Bolsonaro voltou a visitar o Estado e atraiu dezenas de prefeitos que anunciaram apoio à reeleição do presidente da República.
O movimento da onda bolsonarista já havia ocorrido no Estado em 2018. Quatro anos atrás, no entanto, o PL ainda se chamava PR e não era o abrigo dos bolsonaristas. Com isso, elegeu apenas três deputados estaduais. Na ocasião, quem se beneficiou da popularidade do presidente no Estado foi o PSL.
O partido do presidente eleito na época elegeu quatro deputados federais, seis estaduais, e o governador.
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O espólio do ex-partido de Bolsonaro ficou com o União Brasil, fundado no ano passado a partir da fusão do PSL com o DEM. Mas o resultado foi bem abaixo da última disputa, e a nova legenda conquistou menos da metade dos cargos obtidos em 2018: apenas um deputado federal e três estaduais.
– Fomos muito beneficiados pelo grande cabo eleitoral que a gente tinha, o presidente Bolsonaro, e principalmente penso que as pautas têm que ser incluídas na discussão política. Essas pautas da família encontram boa ressonância no nosso Estado e até no país, e as pessoas talvez não estejam interpretando direito isso – avalia o deputado federal eleito Jorge Goetten, do PL, terceiro mais votado do Estado.
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Recuperação do PT e direita bolsonarista fortalecida
Outros movimentos também chamaram a atenção na política de SC além do crescimento do PL. O PT, por exemplo, com o protagonismo de Lula por polarizar a eleição presidencial com Bolsonaro, conseguiu um feito inédito ao levar um candidato a governador ao 2º turno em Santa Catarina.
Na disputa proporcional, no entanto, a força lulista foi suficiente apenas para manter os mesmos deputados estaduais que o partido teve na legislatura anterior e ganhar somente uma cadeira a mais na Câmara Federal.
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Além de Pedro Uczai, que renovou o mandato, Ana Paula Lima, que havia ficado de fora por um voto em 2018, agora conseguiu a vaga. Na prática, o PT retomou o número de cadeiras conquistado na eleição de 2014.
– Do ponto de vista parlamentar, dobramos a bancada, de um para dois, e fizemos votos para um terceiro, só faltou quociente eleitoral, como faltou para eleger o quinto estadual. Então, evidente que nosso partido saiu fortalecido, está fortalecido e disputando o 2º turno aqui em SC e no país – afirma Uczai, segundo deputado federal mais votado no Estado.
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O doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Julian Borba, confirma que o grande fortalecido da eleição em SC é o PL, que passa a ter a hegemonia da direita no Estado. Segundo levantamento do especialista, o grupo da direita teve mais de 80% dos votos na disputa para o governo e hoje controla mais de 60% das vagas nos parlamentos.
Já o grande perdedor, segundo ele, é a chamada “política tradicional”. Além dos partidos da centrodireita que perderam espaço, o especialista lembra que os membros da família Amin perderam todos os cargos que disputaram, assim como foram derrotados os Maldaner, o exdeputado Paulo Bornhausen e o exgovernador Raimundo Colombo.
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Para o cientista político, é indiscutível que a direita sai muito fortalecida em SC.
– No pós-redemocratização, o Estado foi sempre controlado por grupos ou coalizões de centro-direita. Especialmente a partir de 2018, temse um fortalecimento mais substantivo de uma direita mais radical, associada ao bolsonarismo, que nesta eleição acaba saindo mais fortalecido. É possível, considerando os apoios que já foram anunciados, que um eventual governo do PL considerando o resultado do 2º turno venha a ser um governo “puro sangue” do ponto de vista ideológico, sem ter que fazer acenos ao centro – aponta.
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Dirigentes admitem queda na direita moderada
Fora do eixo PL-PT, alavancado pela oposição de Bolsonaro e Lula, o cenário foi de enfraquecimento de outros partidos tradicionais, em especial da chamada “direita moderada”. MDB, PSD e PSDB, que durante 12 anos reinaram absolutos no governo do Estado com a tríplice aliança e as gestões de Luiz Henrique da Silveira e Raimundo Colombo, agora viram os partidos perderem espaço nos parlamentos.
O MDB, maior partido do Estado em número de filiados, perdeu três cadeiras de deputado estadual nesta eleição. Manteve as três vagas de deputado federal, mas viu o número de representantes na Alesc cair de nove para seis. Ainda assim, tem a segunda maior bancada entre os catarinenses nas duas casas.
O ex-deputado federal Edinho Bez, 1º vice-presidente do MDB e que comandou o partido durante a campanha deste ano, ameniza ao dizer que os nove deputados estaduais da última eleição foram facilitados pela coligação com o PSDB e que, este ano, sem a possibilidade de alianças, a meta era eleger sete estaduais – um a mais do que os seis eleitos. Ainda assim, o dirigente reconhece que a repetição da onda Bolsonaro surpreendeu e dificultou o desempenho do partido.
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A maior frustração foi ter novamente ficado fora do 2º turno na disputa para governador ao apoiar Moisés, do Republicanos. Em 2018, o partido lançou Mauro Mariani, que também ficou em 3º lugar. Na avaliação dele, se a polarização continuar, deve dificultar a criação de novas lideranças.
– Vamos esperar mais uma eleição polarizada? É uma questão de avaliação. O eleitor está votando porque não quer o outro, por exclusão. Isso tudo não estou contestando nada, o voto é livre, o eleitor vota em quem quiser. Ele pode não votar no nosso candidato, mas deve votar consciente. Analisa o candidato, em quem está votando – avalia o dirigente emedebista.
O PSD não teve apenas o revés do ex-governador Raimundo Colombo, derrotado na disputa ao Senado pelo bolsonarista Seif. Perdeu também duas vagas de deputado estadual, em relação ao que tinha conquistado em 2018. Na Câmara, manteve as duas cadeiras que tinha ao reeleger Ricardo Guidi e eleger o hoje deputado estadual Ismael dos Santos.
O PSDB, que teve encolhimento em todo o país, perdeu a única deputada federal que tinha em SC, Geovania de Sá, e elegeu apenas os dois estaduais que já tinham mandato: Marcos Vieira e Vicente Caropreso. O prefeito de Concórdia e presidente do PSDB em SC, Rogério Pacheco, considera a onda bolsonarista deste ano pior que a de 2018, porque produziu efeitos também na disputa proporcional.
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Ele considera que a federação com o Cidadania prejudicou o partido na esfera estadual, porque a vaga da chapa ficou com a deputada Carmen Zanotto.
– Acredito que isso está sendo avaliado pelos partidos em nível nacional, e o PSDB não é diferente, para saber efetivamente quais vão ser os próximos passos que serão dados. Existem algumas situações que a gente tem ouvido de fusão de partidos, acho que isso pode até ocorrer – afirma.
O doutor em Ciência Política da UFSC, Julian Borba, confirma que o aumento da polarização resulta em uma ausência do centro, o que cria um desafio de sobrevivência para esses partidos que não estão nos extremos ideológicos.
– Os partidos têm duas estratégias: de um lado, se associarem a um dos campos ideológicos mais próximos a ele, ou a segunda estratégia, que é trabalhar no sentido de diminuir o ambiente de polarização política do país. Me parece que a estratégia até hoje tem sido mais a de se aproximar, colocarse como parte desses dois polos, especialmente à direita, e se tem atuado muito pouco no sentido de diminuir o ambiente de polarização – analisa o especialista.
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