O poder econômico dos candidatos aos cargos legislativos, em Santa Catarina, foi insuficiente para garantir votos e cadeiras, tanto na Assembleia Legislativa quanto na Câmara dos Deputados, nas eleições deste ano. Apenas na disputa ao Senado, os dois candidatos que mais arrecadaram recursos para as campanhas conseguiram ser eleitos.
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Entre as 10 maiores arrecadações para as campanhas ao cargo de deputado estadual, só cinco foram eleitos. A mesma situação ocorreu entre os 10 postulantes com mais dinheiro para buscar uma vaga na Câmara. A conclusão é com base nas prestações de contas já enviadas pelos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral até quinta-feira.
Na disputa ao cargo de deputado federal, algumas das candidaturas que não tiveram sucesso nas urnas arrecadaram valores milionários. Foi o caso do empresário Jorge Cenci (PSB), de Blumenau. Calouro na disputa eleitoral, arrecadou pouco mais de R$ 2 milhões. Em valores absolutos, a campanha dele só foi menor que a de Ângela Amin (PP). Mesmo assim, ele obteve apenas 19.837 votos. Foram 7.606 votos a menos do que os recebidos por Gilson Marques (Novo), que foi o menos votado entre os eleitos para a Câmara, neste ano. O caso de Cenci, porém, é peculiar, já que a maior parte desse valor foi investido por ele próprio na campanha.
– Não estou investindo em mim e nem em uma carreira política, estou investindo em prol do meu país e da sociedade. E isto é o melhor que posso fazer como cidadão de bem – disse Cenci, em manifestação recente à reportagem, ao ser questionado sobre o gasto na política.
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Por outro lado, o deputado federal Ronaldo Benedet (MDB) usou R$ 1,3 milhão do Fundo Eleitoral na campanha. O valor corresponde a 94% do limite que ele podia gastar. Mas os 51.073 votos que recebeu não foram suficientes para lhe eleger. Ele não foi localizado pela reportagem.
Nas eleições para a Assembleia Legislativa, só a candidata Marlene Fengler (PSD) declarou ter arrecadado mais de R$ 1 milhão para a campanha. No caso dela, o valor foi suficiente para garantir uma cadeira no parlamento catarinense, com 41.684 votos. No entanto, o fato de não se ter nenhuma outra campanha acima de R$ 1 milhão, não significa que as outras nove com mais dinheiro tenham sido, necessariamente, baratas.
A segunda maior arrecadação ficou com Berlanda (PR), que destinou R$ 917 mil. Ainda que tenha sido eleito, ele obteve 12.709 votos a menos do que Fengler. O candidato Carlos Humberto (PR), que teve a terceira maior arrecadação, declarou à Justiça Eleitoral ter levantado R$ 774 mil para a campanha. Mesmo assim, os 24.610 recebidos foram insuficientes para que ele tivesse direito a uma cadeira na Assembleia.
Na outra ponta, o vereador de Blumenau, Ricardo Alba (PSL), declarou ter recebido R$ 37.715, mas foi o deputado estadual mais lembrado pelos eleitores, com 62.762 votos.
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Deixou de ser fator preponderante
Para o cientista político Valmir dos Passos, os números mostram que o poder econômico das candidaturas ainda tem força, mas ele já não é o fator preponderante para garantir o sucesso de um concorrente.
– Candidatos com baixo orçamento, que conseguiram ligar sua imagem a Bolsonaro, acabaram tendo êxito. Candidatos ligados a grupos religiosos também acabaram ganhando cadeiras. Grupos ligados à segurança pública, policiais, militares foram beneficiados – avalia.
O especialista acredita que os candidatos que tiveram um grande orçamento podem ter investido o dinheiro de forma errática na divulgação das campanhas.
Arrecadação
Os candidatos de Santa Catarina declararam à Justiça Eleitoral que conseguiram arrecadar R$ 129.375.285,56 nas eleições deste ano. Os dados levam em conta todos os políticos que concorreram ao governo estadual, Senado, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa.
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O número ainda é uma parcial, tendo em vista que os candidatos que concorreram apenas no primeiro turno têm até 6 de novembro para finalizar a prestação das contas. Já os dois candidatos que seguiram ao segundo turno, Comandante Moisés (PSL) e Gelson Merisio (PSD), terão 15 dias a mais para encerrar a contabilidade das campanhas. Quem descumprir o prazo para a apresentação das contas está sujeito a responder a um processo na Justiça Eleitoral. Caso tenha sido eleito, também não poderá ser diplomado até que regularize a situação.
Desse total, R$ 98,77 milhões, ou 76,34% do total, veio justamente do dinheiro público do Fundo Eleitoral. O partido que mais investiu nas eleições em Santa Catarina foi o MDB. Os políticos da legenda tiveram R$ 6,74 milhões disponíveis para usar nestas eleições. A lista prossegue com o PSDB, que aplicou R$ 3,97 milhões nas eleições catarinenses, e com o PP, que tinha R$ 3,62 milhões disponíveis.
Custo geral de R$ 5,8 bilhões
Em todo o Brasil, as eleições já custaram R$ 5,84 bilhões. Dos quais, R$ 4,85 bilhões são provenientes do Fundo Eleitoral. Os dados sobre as campanhas estão disponíveis na página do Tribunal Superior Eleitoral.
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