O palco sagrado da dança abre suas cortinas hoje (17) para 240 horas de espetáculos no 36º Festival de Dança de Joinville – o maior do mundo em número de inscritos e de gêneros -, tendo como propósito manter o grau de excelência que o levou a inspirar inúmeros festivais em Santa Catarina e no País. Com 230 mil espectadores estimados e mais de sete mil participantes de 17 estados brasileiros, do Distrito Federal e bailarinos do Paraguai e Estados Unidos, o evento confirma seu legado como força permanente para a arte.
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Nos próximos 12 dias, a Capital Nacional da Dança será morada para apresentações de sete estilos de dança, além de uma oportunidade de profissionalização para 3,1 mil vagas em 92 cursos didáticos.
Essa grandiosidade do festival rompe as barreiras de Joinville e gera impacto também em outros municípios do Estado e vai além das divisas catarinenses. Essa é a avaliação da bailarina, professora, coreógrafa e membro do Conselho Nacional de Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC), Bia Mattar, que tem história ligada ao festival joinvilense desde a década de 1980. Com presença de destaque nas ações de desenvolvimento dos festivais em Santa Catarina, a expoente na dança destaca que o pioneirismo e a importância do evento não se resumem ao cenário estadual.
— É um festival que rompeu as fronteiras e se tornou uma vitrine, acima de tudo uma experiência sensorial: tem cheiro de dança; tem gosto de dança; esse é um diferencial que serve de inspiração para outros festivais até fora do Brasil. Há dois anos fizemos um levantamento junto da Associação Profissional de Dança do Estado de Santa Catarina e mapeamos mais de 70 festivais somente em cidades catarinenses. Isso obviamente é reflexo do Festival de Dança de Joinville — aponta.
Para a especialista, isso acontece em decorrência da criação de um modelo que deu certo em termos de tecnologia, de uso de redes sociais e de criatividade, e hoje é reproduzido em outros municípios.
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— A gestão do festival serve de “case” para qualquer seminário internacional para arte e cultura devido ao seu modelo criativo de economia da cultura, que conseguiu sair da dependência de uma prefeitura e ensina outros municípios menores a buscarem outras formas de financiamento e de incentivo — justifica Bia Mattar.
Consolidação nacional
Ely Diniz, presidente do Instituto Festival de Dança de Joinville, aponta que os primeiros anos foram os que deram essa solidez para o festival e alguns pontos ajudaram, como o fato de ter sido feito nas férias de julho e no período do inverno no Sul, o que torna a cidade uma opção turística para a população do restante do país. Outros fatores decisivos são o modelo de competição entre escolas de dança, que não se tinha na época, e a identidade conquistada ao longo dessas quase quatro décadas.
— Joinville conseguiu fazer algo raro, que é dar uma marca cultural e artística para uma cidade. Essa marca da Cidade da Dança veio do zero e é incontestável, nenhuma outra tem o maior festival de dança do mundo e a Escola Bolshoi, ponto! Moscou tem a Escola Bolshoi e a base é lá, mas o festival deles é menor. Então é incontestável esse título para Joinville, todos querem dançar aqui — explica.
A referência nacional na área reflete na procura dos bailarinos e estudantes de dança e serve também de termômetro para futuros destaques em grandes companhias mundiais. Para a disputa por uma vaga no festival deste ano, além das inscrições via vídeo, foram realizadas seletivas fora do Estado como nas cidades de Ribeirão Preto (SP), Belo Horizonte (MG) e Curitiba (PR). Ao todo mais de 3,3 mil coreografias foram inscritas e destas, 1,5 mil aprovadas para os Palcos Abertos, Meia Ponta e Mostra Competitiva, esta última com 236 coreografias.
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Na concorrência da Variação Feminina Clássico de Repertório Sênior, por exemplo, foram mais de 190 inscrições para dez aprovadas, que seguem em busca dos três primeiros lugares. A nota de corte dessa categoria ficou acima de “nove”, comprovando o grau de excelência dos espetáculos do festival.
Quem é a bailarina
Beatriz Cavalcanti, 19 anos, nasceu na cidade de Recife e veio para Joinville por causa da dança aos 15 anos, quando ingressou na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Em 2015, foi uma das alunas selecionadas para dançar no corpo de baile do balé “Giselle”, durante a turnê do Teatro Bolshoi de Moscou no Brasil. Em 2017, se formou e foi contratada para a Cia. Jovem Bolshoi, onde dança atualmente.