A programação do sábado à noite foi ir até a casa de uma amiga para assistirmos a um filme de terror. Mal sabia que os sustos provocados pelo filme não seriam nada comparados ao motivo que me fez saltar da cama às 6 horas de domingo. Uma mensagem no meu celular mudou completamente o rumo do dia. Um amigo contava que muitas pessoas haviam morrido em um incêndio na Kiss. Ele estava no local tentando localizar um amigo que trabalhava lá. Minha primeira reação foi mandar mensagem para uma prima que mora na cidade e buscar na internet mais informações.

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Naquele momento, a estimativa do número de vítimas estava entre 20 pessoas – dígitos que cresciam todo instante. Comecei a ligar para amigos e procurar contatos online, a cada “estou bem”, “estou em casa”, o alívio. Cerca de uma hora depois, começaram os compartilhamentos com fotos de pessoas que haviam morrido e outras ainda desaparecidas no Facebook. Rostos conhecidos agora estavam com mensagens de saudade e desolação nas redes sociais.

A cidade que abriu as portas para mim, na qual construí minha vida acadêmica e dei meus primeiros passos como profissional, é palco de uma tragédia. Como não imaginar que eu poderia estar lá? Pois a festa que estas turmas fizeram para arrecadar dinheiro, possivelmente para formatura, a minha também fez. No meu tempo, frequentei inúmeras vezes a boate e muitos dos rostos que enxergava lá, alegres, dançando despreocupados, eu nunca mais verei.

O que sinto não é revolta de encontrar culpados, mas a dor de imaginar os pais em uma fila para reconhecer o corpo do filho e pensar no desespero das ligações não atendidas. Ainda em estado de choque, meu único desejo é que um dia o coração do Rio Grande consiga pulsar como antes.

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A tragédia

O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.

Sem conseguir sair do estabelcimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.

A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos útimos 50 anos no Brasil.

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Veja onde aconteceu

Imagem: Arte ZH

A boate

Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade da Região Central, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes – além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com o comando da Brigada Militar, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.

Clique na imagem abaixo para ver a boate antes e depois do incêndio

A festa

Chamada de “Agromerados”, a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas “Gurizadas Fandangueira”, “Pimenta e seus Comparsas”, além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.