Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recusaram um convite para encontrar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na noite de quinta-feira (2). Em vez disso, jantaram com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
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O convite foi feito pelo ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), pouco antes de Bolsonaro, em entrevista à Jovem Pan, afirmar que está "faltando humildade" a Mandetta. Sem combinar, Maia e Alcolumbre rejeitaram o convite para encontrar com o chefe do Executivo.
Segundo relatos de pessoas próximas aos dois congressistas, o presidente do Senado se recusou porque não havia uma pauta clara para o encontro, e Alcolumbre acabou de se recuperar da Covid-19.
Além disso, como o convite foi feito por Ramos, e não pelo próprio presidente, o senador entendeu o gesto muito mais como uma tentativa de articulação por parte do ministro do que uma vontade de Bolsonaro. Já o presidente da Câmara, de acordo com relatos de aliados, entendeu que seria uma reunião ruim pois Bolsonaro insiste na tese de flexibilizar o isolamento social. Para evitar constrangimentos, Maia também disse não.
Logo depois, os chefes do Legislativo receberam Mandetta em um longo jantar na residência oficial da presidência do Senado.
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O ministro da Saúde e o presidente da República vivem momento conflituoso por divergirem em assuntos como o isolamento social e o uso da hidroxicloroquina, medicamento que ainda está sendo testado e vem sendo usado no tratamento de casos graves de infectados por coronavírus.
No jantar, Maia e Alcolumbre disseram a Mandetta que ele tem total apoio do Congresso Nacional. Nesta sexta, o presidente da Câmara chegou a dizer em uma videoconferência promovida pelo jornal Valor Econômico que, apesar dos ataques, Bolsonaro não tem coragem de demitir Mandetta e mudar a política de enfrentamento ao coronavírus.
– É fundamental que, no meio do processo (de enfrentamento à doença), a gente não tenha uma perda de um nome como o do Mandetta – disse Maia.
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Segundo ele, uma eventual substituição mudaria a política do Ministério da Saúde e significaria que Bolsonaro não acredita no que o ministro está fazendo.
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– Ao mesmo tempo, ele não tem coragem de tirar o ministro e mudar oficialmente a política. Ele fica numa posição dúbia.
Maia também sinalizou que o Congresso está atento às movimentações de Bolsonaro no sentido de flexibilizar o isolamento social.
Todos os decretos do governo são muito bem analisados pelos partidos, lideranças, mesa da Câmara, mesa do Senado. E algum que tenha divergência em relação ao papel que tem um decreto do presidente sempre pode ser avaliado e discutido e rejeitado pelo Parlamento
A impressão que ficou para Maia e Alcolumbre após cerca de cinco horas de jantar é que Mandetta está cansado, claramente esgotado física e mentalmente, mas não pretende deixar o posto. Assim como o próprio ministro tem dito publicamente, ele só sairá do cargo por vontade do presidente. Bolsonaro teria assim de arcar com o ônus de sacar alguém mais popular do que ele e que tem aprovação inclusive em sua bolha de apoiadores.
A disputa que o presidente tem travado com Mandetta isola Bolsonaro dentro do próprio governo. Nos últimos dias, ministros como Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) deram declarações reforçando a importância do isolamento contra o coronavírus.
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