Encontrar a casa mais arrumada para a Páscoa não é uma tarefa muito difícil para o Coelhinho ou moradores da Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Toda a alegria e esperança do feriado cristão ganham forma e ocupam diversos espaços na residência de Selma Regina da Silva Peres, 63 anos. Para ela, não basta manter esses sentimentos guardados, é preciso compartilhar. Há 14 anos, ela coloca as decorações feitas à mão no jardim de casa para celebrar a data e encher os olhos de quem passa pelo local. A recompensa vem em forma de sorrisos de crianças e adultos que se encantam pelos coelhos de pelúcia, cenouras decorativas e ovinhos que homenageiam a família e amigos.
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Selma e o esposo, Almir Tadeu Peres, são conhecidos no bairro por terem o jardim mais colorido e vibrante na época de Páscoa. Na Rua Altenor Vieira, a casa é tomada por decoração, com palmeiras promovidas à osterbaum (árvore da Páscoa, comum na tradição germânica) e luzes que iluminam a noite. O gosto pelo trabalho artesanal da técnica de enfermagem virou hobby com o apoio do marido no decorrer dos anos. Depois de mais de uma década adicionando novos detalhes às instalações, os dois mantêm uma das casas mais decoradas de Santa Catarina.
As reações valiosas de quem observa a decoração são parte da motivação para tanto empenho ao longo dos anos. Segundo a dona da casa, a intenção da decoração é promover um momento de alegria e incentivar a celebração do feriado entre crianças e adultos, em um período em que muitas tradições não estão entre as prioridades do dia a dia.
— Quando eu comecei, coloquei dois coelhinhos no banquinho ali na frente. Passaram uma menina e um menino e eles disseram: “Nossa, que lindo!”. E naquele momento ganhei o dia, eles saíram felizes e fiquei mais ainda — relembra Selma.
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— São decorações que faço, que são simples, mas sei que tocam os corações das crianças — complementa.
As figuras de coelhos no jardim também abrem o diálogo com os pequenos sobre os símbolos da Páscoa e os significados para os cristãos. Assim, a decoração também presta uma homenagem
à ocasião. A Páscoa passou a ser o segundo feriado religioso a ser comemorado em grande estilo pela família, o primeiro foi o Natal.
— São datas bem importantes, que nos emocionam bastante e remetem à família. Comecei a enfeitar para o Natal, mas logo em seguida tem a ressurreição e então decidi decorar também.
A primogênita Judite e homenagens decorativas
Por gostar muito de criar itens de artesanato e decorar a própria casa, 14 anos atrás Selma decidiu fazer os primeiros coelhos de pelúcia para enfeitar o banquinho da entrada da casa. A criação primogênita foi batizada de Judite e até hoje ocupa espaço na decoração anual. Feita totalmente a partir da imaginação e das noções de costura de Selma, Judite foi a primeira de uma grande ninhada.
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— Comecei porque gosto! Nossa, é uma coisa que me dá um prazer muito grande. Como gosto de planejar, de montar e ver como fica. Ver a noite com as luzes, é uma coisa gostosa. Só vou parar de fazer isso quando não estiver mais aqui — conta a técnica de enfermagem.
Os coelhos são os itens favoritos dela. Todos os anos eles recebem roupas novas, com tecidos diferentes e são expostos em frente à residência. O carinho de Selma por eles é tamanho que todos têm nome próprio. Com a chegada dos netos, cada um recebeu uma homenagem: Isabela, Mel, Joaquim, Clara, Lucas e Francisco possuem versões de coelhinhos feitos pela avó.
Quando a história de arrumar a casa começou, as crianças ainda não eram nascidas. Porém, agora eles são mais um incentivo para caprichar nos itens e também se tornaram pupilos para pintar e decorar. Alguns dos ovinhos que cobrem as palmeiras do jardim foram coloridos com a ajuda dos netos. Assim, nasceu uma nova tradição e mais uma forma de homenagear a família e amigos.
O almoço de domingo de Páscoa, no dia 9, acontecerá na casa da vovó Sesé. A decoração ainda deve somar marcas de patinhas de coelho pelo chão para a caça aos ovos das crianças da família, aventura essencial para o feriado ficar completo.
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Tudo simples, de coração
Até recentemente, o trabalho era pouco conhecido fora da Lagoa da Conceição, com divulgação apenas boca a boca. O anonimato da casa decorada se deu por conta da vergonha de Selma, que sempre relutou em mostrar o trabalho artesanal.
— Eu ficava com vergonha porque é uma coisa tão simples. Faço tudo com muito cuidado e muito amor, só que não tem nada de sofisticado — afirma.
Entre pelúcia e pinturas, todos os itens em exposição são feitos à mão por Selma, com muitos materiais comprados pelo marido Almir. Criar e costurar são talentos herdados da avó materna, Lídia Guimarães, com quem Selma não chegou a ter contato, mas a quem relembra com muito afeto nessas horas para formular as decorações.
Mesmo que tente dizer que são apenas criações “simples”, a técnica em enfermagem reconhece que o esmero e capricho chamam a atenção do bairro e de quem passa pela rua. Histórias não faltam sobre pessoas que viram a casa e trouxeram crianças para visitar, assim como vizinhas que decidiram elogiar a montagem anual.
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— Acho até que a vizinhança já está acostumada. Eles sempre passam para comentar. E tem muita gente que vem visitar, geralmente param o carro e batem fotos — relata.
O sucesso pela comunidade já rendeu até influência para que outras casas também comecem a decorar as entradas. Se depender de Selma, ajuda não falta, pois ela dá moldes de presente, repassa dicas e motiva as amigas. Um resultado inesperado que trouxe muita satisfação para ela foi ensinar alunas mirins a fazer as decorações.
— Duas menininhas que moram aqui perto perguntaram se eu podia ensinar, porque no Centro não encontravam para comprar assim. E comecei a ensiná-las a costurar. Depois, já estavam fazendo para colocar na frente de casa — relembra.
Questionada sobre o sentimento de impactar a Páscoa da região e ter o retorno das atitudes positivas de forma tão acolhedora, Selma se emociona:
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— Fico muito, muito emocionada. Se tu agradar uma criança, já ganhou o dia, já fica feliz. Porque a finalidade é essa: que as crianças vejam, que toque o coração delas.