Durante o Festival de Música de Santa Catarina (Femusc), ele é o primeiro a levantar da cama e o último a dormir. A caminhada pelos corredores do Centro Cultural da Scar é constantemente interrompida por alunos que querem tirar dúvidas ou trocar informações. Seguir ao seu lado no caminho para os compromissos é o mesmo o melhor jeito de abordar Alex Klein. E não adianta, você dificilmente o encontrará com um tempo livre.

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Se fosse assim o ano todo, o maestro e oboísta gaúcho confessa que não teria aguentado. O corre-corre é geralmente exclusividade do Femusc, evento que ele ajudou a caminhar e hoje tem sua especial dedicação. O festival nem bem terminou e o diretor artístico já pensa nas edições de 2014 e 2015, ano da 10º Femusc.

– O sonho continua sendo o mesmo: o Femusc como um manifesto de superação para a juventude – afirma Klein, que declara que não tem intenção de deixar o evento de Jaraguá do Sul, mesmo morando a mais de três mil km de distância, em João Pessoa, capital da Paraíba.

Com 48 anos, ele sabe bem o que o significado da palavra superação. Há 12 anos, Klein descobriu que sofre de distonia focal, um distúrbio neurológico que afeta uma pequena porcentagem dos músicos, comprometendo os movimentos. O problema impedia que ele, na época primeiro-oboísta de renome da Orquestra de Chicago, continuasse com a intensa carreira nos EUA.

A música perdeu um oboísta em atividade e ganhou um grande maestro. Ele então se aposentou como músico profissional e, em 2005, assumiu a regência da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo. Hoje ele é maestro da Orquestra Sinfônica da Paraíba. A doença não o impede de tocar o instrumento vez ou outra.

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– Os três ou quatro concerto que fazia por semana, agora são mensais – contabiliza.

– Tive que reconstruir a minha vida, e isso eu passo para os alunos. O Femusc é a continuação da minha carreira de oboísta. É onde eu canalizo toda a minha energia – explica.

Maestro crítico

Brincalhão, Alex Klein posta no Facebook fotos de estudantes estafados, cochilando pelos sofás da Scar. Encara fantasias e papéis cômicos para chamar a atenção do público mais jovem, como é no caso do Concerto para Famílias e Zoológico Musical, eventos da programação do festival catarinense.

Mas Klein também sabe fazer a linha dura quando a questão é comprometimento. Como atual maestro da Orquestra da Paraíba, foi recentemente alvo de músicos insatisfeitos, que pediram o seu afastamento, por ser contra a sua rigidez. O caso terminou na exoneração de 20 músicos e um momento importante de transição para o grupo. Klein foi mantido no cargo.

Quando diz que atuou como profissional mais nos EUA do que no próprio País, Klein revela uma bagagem empreendedora em relação à cultura.

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– Para a música funcionar, precisamos de estrutura – diz, categoricamente.

Além de pensar nas atrações e quadro de professores com perfil humanista, ele ainda se cerca de dados turísticos e econômicos para aprimorar o Femusc.

Vivendo no mundo de formações orquestrais, o gaúcho, que se mudou para Curitiba aos três anos, também é crítico quando se refere ao modelo de orquestra públicas no Brasil. Segundo ele, é preciso, acima de tudo, exigir comprometimento.

– A tendência é fazer das orquestras organizações sociais, onde as cobranças são mais parecidas com o privado – argumenta.