Imagine sofrer descaso, preconceito, ter de lutar diariamente por direitos, acessibilidade, políticas públicas, atendimentos em hospitais, escolas, além dos mais diversos desafios que as pessoas com deficiências ocultas passam diariamente. 

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Este é o caso de Vania Schimerski, 49 anos, mãe atípica, pessoa com deficiência, conselheira municipal da ONDA AutismoS (Organização Neurodiversa pelos Direitos dos Autistas), e mãe de Aron Schimerski, 20, bombeiro civil, que é uma pessoa autista. 

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Em Joinville, os dois estão na luta pelo projeto de lei “Cordão de Girassol”, que busca conscientizar a população sobre o uso da fita com desenhos de girassol como símbolo de identificação das pessoas com deficiências ocultas ou não aparentes – aquelas que podem não ser percebidas de imediato, como surdez, autismo, deficiências cognitivas, entre outras. 

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De acordo com ela, a defesa é por também ser uma mulher com deficiência, e também contra as barreiras impostas pela falta de inclusão e acessibilidade.

— A luta e defesa é por todos nós que precisamos de políticas públicas, de inclusão e acessibilidade. Sou uma mulher com deficiência oculta, quando as pessoas olham para mim, não conseguem ver, perceber, que tenho deficiência — disse.

Vania Schimerski e Aron Schimerski lutam pelo projeto de lei “Cordão de Girassol” (Foto: Arquivo Pessoal)

De acordo com ela, o cordão de girassol pode auxiliar no atendimento e no entendimento de outras pessoas em lugares públicos e privados, em diversas situações. Ainda, destaca que a luta contra o preconceito deve ser combatida todos os dias em todos os lugares, e que o cordão vem para ajudar.

— Eu sou mãe e mulher autista. É constante a nossa luta de mães e pais para o respeito com nossos filhos, que são julgados e rotulados por terem uma deficiência. Também lutamos contra o capacitismo, os julgamentos e a falta de respeito de quem não conhece o autismo ou de quem conhece e faz comparações, piadas, e acha que autismo é moda — relata.

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— O uso do cordão não é obrigatório, é opcional, ele ajuda a dar visibilidade para quem precisa e tem o direito de usá-lo. O uso correto do cordão pode, inclusive, auxiliar os serviços de emergência, urgência, polícia, no caso de pessoas que podem precisar de ajuda e não conseguem comunicar-se claramente com esses serviços, caso estejam sozinhos pelos mais diferentes motivos — completa Vania.

Mães defendem o projeto e pedem políticas de inclusão

Para Andressa Foliatti, mãe de Manu e Alice, que têm três e nove anos respectivamente, e possuem deficiências ocultas, o uso do cordão de girassol resulta em casos positivos na vida das filhas.

— Eu acredito que pode ajudar muito a não ter constrangimento. Foi uma crescente, vi em passeios, que começamos a usar, encontrei outras crianças também, e depois da Lei (federal) percebo que outras mães também estão se familiarizando — disse.

Além disso, ela ressalta que o preconceito ainda existe e é sentido pela família.

— Muitas pessoas não respeitam, olham torto. Eu sou firme, estou na Lei e não abro mão dos direitos delas. Eu como mãe sou uma fortaleza e não me abalo, sigo firme. Acredito que quanto mais falarmos mais teremos nossos direitos de verdade — relatou.

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A iniciativa Cordão de Girassol em Joinville

Em Joinville, a iniciativa Cordão de Girassol é um projeto de lei que trata do uso do cordão de girassol e do cordão do autismo. O projeto é de autoria dos vereadores Tânia Larson (União Brasil) e Alisson Julio (Novo).

De acordo com a vereadora Tânia Larson, a iniciativa surge como uma ferramenta valiosa para a inclusão social, conscientização e fortalecimento do senso de comunidade.

— É importante porque, através da identificação dos portadores do Cordão de Girassol, os estabelecimentos podem implementar serviços personalizados que garantam tratamento diferenciado e imediato. Ele reforça o compromisso da cidade em reconhecer e valorizar todas as pessoas, independentemente de suas diferenças, contribuindo para uma Joinville mais acolhedora e solidária — afirma.

Cordão é feito em tom verde e possui desenhos de girassóis (Foto: Divulgação)

Para o vereador Alisson, também autor do projeto, a proposta busca aumentar a conscientização sobre as diferentes condições que afetam os cidadãos e fomentar um ambiente de inclusão e respeito em Joinville.

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— Dar visibilidade para deficiências que não são identificáveis e contribuir para um atendimento mais adequado para as necessidades específicas dessas pessoas. O cordão facilita muito o acesso a diversos serviços que essas pessoas usam no dia-a-dia — disse.

— A existência da lei, além de ter cunho didático, ajudando a população a se conscientizar sobre essas condições não aparentes, também permite ao poder público tomar iniciativas que venham a contribuir para a melhoria da qualidade de vida e gerando oportunidades para essas pessoas — completa.

A flor simboliza a felicidade, diz especialista

O projeto de Lei também é tema para os profissionais da saúde. De acordo com Josiane Antequeira, psicóloga especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), o uso do cordão de girassol ajuda na autoestima, favorece a inclusão, e permite que outras pessoas ofereçam apoio e compreensão. 

— Isso reduz o sentimento de isolamento de muitas famílias, aumenta a educação e conscientiza a sociedade sobre as condições, proporcionando acesso a serviços públicos e privados de forma rápida. Uma pessoa com uma deficiência oculta precisa de mais apoio substancial nos atendimentos — disse.

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Para ela, o cordão traz a atenção das pessoas e pode abrir conversas sobre o assunto, aumentando assim a compreensão da população.

— Com o aumento da conscientização do tema, se sentem menos julgadas. Também traz maior segurança no olhar em caso de acidentes que o atendimento será prioritário, adequado e compreendido. A identificação para pessoas não verbais em caso de se perder da família — explica.

Governo federal oficializou em julho o uso da fita com desenhos de girassóis como símbolo de identificação (Foto: Roberto Suguino/Agência Senado)

Questionada, ela explica os motivos do girassol ser usado como símbolo no cordão.

— A flor simboliza a felicidade. Parece estranho quando estamos falando de doenças ou condições como o TEA, mas ela também representa a força e vitalidade, pois nasce bem pequena e vai se abrindo, e revelando toda a beleza e brilho, pois ela pode crescer em qualquer lugar mesmo em condições com adversidades — afirma.

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— É uma perfeita metáfora para as pessoas que enfrentam tantos desafios e ainda assim são capazes de encontrar formas de se desenvolver e superar os obstáculos. Como a flor, se voltam para a luz, para a esperança — ressalta a psicóloga.

Política que “floresce” direitos e acessibilidade

Em julho, o governo federal oficializou a lei do uso da fita com desenhos de girassóis como símbolo de identificação das pessoas com deficiências ocultas ou não aparentes. 

Cordão de girassol é oficializado como símbolo para deficiências invisíveis; entenda

Originalmente, a fita com desenhos de girassóis surgiu como símbolo para deficiências ocultas em vários países e em outros municípios brasileiros. 

O projeto foi apresentado pelo deputado Capitão Alberto Neto (PL-AM) e sancionada por Geraldo Alckmin (PSB), na função de presidente, enquanto Lula (PT) cumpria agenda internacional. A lei federal já está valendo, porém, a municipal ainda precisa ser sancionada pelo prefeito de Joinville, Adriano Silva (Novo), para passar a valer.

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Assim como a lei federal, em Joinville o uso do cordão será opcional e o exercício dos direitos da pessoa com deficiência não estará condicionado ao acessório. O símbolo também não substitui a apresentação de documento comprobatório de deficiência quando solicitado por atendentes ou autoridades competentes.

O diferencial da lei municipal é também o reconhecimento do cordão do autismo como símbolo do quebra-cabeça ou do infinito, já criados e usados para representar as pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

Pulseira com o símbolo do quebra-cabeça, já usado para representar pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) (Foto: Arquivo Pessoal)

— Esses cordões e pulseiras não são acessórios de moda ou para compor um visual. Muitas pessoas usam (o cordão de girassol) por já ter a lei federal, o diferencial da lei aqui em Joinville é reconhecer também o cordão do autismo e a pulseira — explica Vania.

— Estes cordões vêm para nos ajudar, dar apoio e mostrar que existimos e nossas vidas importam. É por todos nós que lutamos diariamente por direitos, por inclusão, acessibilidade, políticas públicas, pelos atendimentos no SUS para pessoas com deficiência e seus cuidadores — finaliza.

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Em caso de necessidade do uso do cordão de girassol, as pessoas podem adquirir de forma on-line, ou através da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Joinville (APAE), de acordo com o vereador Alisson. 

*Sob supervisão de Lucas Paraizo

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