Numa tarde de quinta-feira chuvosa Ana Paula Gomes Nunes dá uma interrompida na entrevista. Vai amamentar Ana Luísa, de 10 meses. Agitada, a menina relaxa nos braços da mãe. Em outros momentos a pequena parece conversar. Luísa quer falar a todo custo, balbucia vogais, encaixa consoantes. Por querer estar presente em momentos assim Ana Paula tomou uma decisão quando soube que estava grávida: largaria o emprego para cuidar da filha.

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A resolução consciente apoiada pelo marido foi comunicada à escola de idiomas, em Florianópolis, onde trabalhava na parte financeira. Mãe de segunda viagem, em um intervalo de 16 anos, ela quis dedicar ao bebê o mesmo período que se dedicou à primeira filha, de dois anos e meio. A vontade é seguir amamentando até lá. Além disso, se continuasse indo ao escritório ficaria 12 horas do seu dia fora de casa. Ao falar sobre isso com o chefe foi surpreendida com uma sugestão:

– Que eu fizesse meu trabalho de casa.

O vínculo formal que tinha com a escola foi desfeito, mas Ana Paula continuou prestando o serviço para a empresa e recebendo todo final de mês. Como antes, continua com metas e prazos a cumprir.

– Trabalho com pagamentos de contas e fluxo de caixa. Tenho datas e horários. Preciso analisar também as finanças da escola.

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A rotina como a de Ana Paula – com o chamado home office – está longe de ser uma realidade para outras mães, mas é considerada uma tendência e vista pelos especialistas como uma boa saída para mulheres que se pegam no dilema carreira versus filhos.

Um dos autores do livro Trabalho Portátil – Produtividade, economia e qualidade de vida no home office das empresas, a especialista em análise de tendências Marina Sell Brik cita uma pesquisa da Ipsos/Reuters que mostrou que um em cada cinco trabalhadores no mundo são remotos e, um em cada 10, trabalha exclusivamente em casa. No Brasil, segundo pesquisa da companhia de recrutamento Hays, 31,2% das empresas brasileiras adotam o trabalho remoto.

Para Marina, o home office, além de tendência, é uma necessidade de grandes centros urbanos e cada vez mais empresas aderem a ele para as funcionárias mães.

– Um caso bem conhecido é o da Volvo, onde mulheres da área administrativa podem contar com o benefício do home office por meio-período até a criança completar um ano.

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A especialista em análise de tendências ainda cita outras empresas como Ticket, O Boticário, HSBC, Cisco, Bosch e Gol.

Trabalhar de casa exige muita confiança

No caso de Ana Paula, a mãe acredita que a relação funciona bem porque é baseada em confiança. Com o chefe fala por Skype e celular.

– Não vou mentir que passo a tarde toda trabalhando. Nesse período estou totalmente voltada à Ana Luísa. Vamos passear, levo ela a um parque para interagir com outras crianças ou ao médico – conta.

O trabalho geralmente começa à noite, quando o marido e a filha mais velha chegam em casa. É o momento que ela vai para o seu quarto e pede para não ser interrompida. Quando precisa, vai até de madrugada. Ou se por algum imprevisto não mexe nas planilhas em dia de semana compensa aos domingos.

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Ana Paula reconhece que não montou seu home office em um lugar ideal. A escrivaninha com o notebook fica em seu quarto, em frente à cama. Facilitava na época em que Luísa ainda ficava apenas no colo e enquanto a mãe mexia no computador ficava deitadinha sobre a colchão.