No mundo corporativo algumas regras são essenciais para a sobrevivência diária. A intimidade exagerada, tão comentada entre os profissionais latinos, por exemplo, pode se tornar um impedimento para o crescimento profissional. E quando esta relação vai além das paredes do escritório ou do balcão da loja? Empresas familiares não são novidade. Afinal, quase sempre o sonho dos patriarcas é ver as crias seguindo um caminho dentro de suas cercanias. Mesmo que a felicidade e a realização venham em primeiro lugar. Se for na empresa da mamãe, melhor ainda.

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Até a literatura já meteu o dedo no assunto com livros que ensinam como pais e filhos devem agir para que os negócios sigam saudáveis. Recorrente no comércio, mães e filhas costumam dividir as cobranças e os objetivos de um empreendimento familiar. Precisam, além do tino para o faturamento, driblar as dores e as delícias de uma relação tão próxima. Uma rusga nascida de um contratempo doméstico não pode ser levada adiante. É preciso diálogo o tempo todo.

Para entender um pouco mais deste delicado tema, fomos atrás de mães e filhas que investem o tempo em lojas de roupas, construtora, escolas de idiomas e academia. Às vezes em dupla, ora em um quarteto, elas revelam como convivem com as planilhas, os números e o amor incondicional.

Sintonia saudável

O Dia das Mães de 1977 foi marcante para a empresária Claudete Wanderck, de Blumenau. Naquele 8 de maio, aos 21 anos, ela dava à luz a primogênita, Claudia. Os anos passaram e mais duas meninas vieram, mas a mãe ainda lembra da data com carinho especial. Hoje, aos 58 anos, Claudete divide com Claudia muito mais que os almoços de domingo. Há 14 anos elas trabalham lado a lado, à frente da rede Long Life, no bairro Itoupava Norte.

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Os negócios da família começaram em 1987, quando a mãe abriu a primeira unidade da empresa voltada à saúde. Atualmente são três academias e duas clínicas – uma de fisioterapia e outra de ginástica laboral.

– Sempre gostei de atividade física e já estava inserida neste ambiente por causa da minha mãe. Então decidi estudar fisioterapia para agregar alguma coisa a este universo – conta Claudia, 36 anos. Mãe e filha são superunidas.

Além de compartilhar conquistas e aflições da vida profissional, Claudete a Claudia arranjam tempo para os momentos de lazer. Entre viagens, passeios e jantares, se policiam para não falar de trabalho. E alertam: é preciso saber separar as coisas.

– Desacordos pessoais não podem influenciar a rotina. Da porta para dentro somos sócias. Nos tratamos como mãe e filha, sim, mas procuramos ser profissionais e estabelecer regras no ambiente de trabalho – esclarece Claudete.

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E será que as duas ainda aprendem juntas, depois de tantos anos? Elas garantem que sim.

– Desde cedo eu aprendi com ela a ter noções empresariais e vontade de trabalhar. Minha mãe é minha referência. Tem negócio próprio, se vira, é uma mulher independente. Somos de gerações diferentes e os conflitos aparecem, mas a gente contorna e no final dá tudo certo – comenta Claudia.

Legado familiar

Em determinados momentos, elas falam ao mesmo tempo. Levemente se atropelam durante as declarações, se olham, se entendem. Há muita história registrada através dos profundos olhos azuis da mãe Silvia Niederle de Abreu e das três filhas, Gabriela, Mônica e Carolina. Juntas, ao lado do pai, comandam em Florianópolis uma rede de escolas de idiomas da franquia Yázigi.

Antes de aportar na Ilha, Silvia havia passado pelo Rio Grande do Sul logo depois de chegar da Alemanha pós-guerra vinda de sua natal Munique. Casamento feito, Gabriela veio primeiro. Foi criada praticamente dentro da primeira escola.

– Sempre foi natural este ir e vir delas por aqui — comenta a matriarca, relembrando que uma delas, Carolina, quase nasceu em uma sala de aula.

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Mas nem tudo são flores. O mundo corporativo exige regulamentações que vão além da mesa do café da manhã. Há dois anos o quarteto faz um processo de coaching para alinhar as estratégias, estabelecer os espaços e dar andamento aos negócios. A intimidade não pode atrapalhar o faturamento.

Força do DNA

Trabalho, trabalho e trabalho. Não há outra definição tão fortemente estabelecida dentro da família de Tida Zanatta que não esteja relacionada ao ato de produzir, estabelecer metas e cumprir objetivos. Filha número quatro entre os 16 herdeiros do clã Dudalina, ela cresceu cuidando da casa, dos irmãos e da camisaria criada pela mãe Adelina e o pai Duda em Luis Alves. Os integrantes desta extensa árvore genealógica são reconhecidos pelo empreendedorismo.

Maria Aparecida fez faculdade de Biologia em Blumenau, casou e foi morar em Florianópolis. Trabalhava na área da saúde quando começou a vender, ainda na sala de um pequeno apartamento em Coqueiros, camisas produzidas pela família. Logo, o boca a boca transformou o endereço em uma loja informal.

Marcelle, a primogênita, tem estes tempos em sua memória mais remota. Quando, junto à outra irmã, ficavam brincando debaixo da mesa. Ela fez um ano e meio de Direito, mas sonhava com as disciplinas de Administração. Quando se formou, levou para casa além do canudo o título de melhor aluna.

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– Eu nunca tive dúvidas de que eles seriam um sucesso. E não é um sentimento de arrogância. Sempre confiei de que o caminho que escolhessem – comenta Tida que, além de Marcelle, também é mãe de Tami e Thiago, ambos em outras carreiras.