Ao menos três mães denunciaram uma professora de Joinville por agressão física e psicológica contra crianças matriculadas em um Centro de Educação Infantil (CEI) da prefeitura de Joinville. Em dois casos, conforme as mães, a profissional teria dado tapas na testa das crianças. Duas crianças precisaram fazer terapia com psicóloga por conta do trauma.
Continua depois da publicidade
Letícia*, mãe de uma das vítimas, contou que no início do mês de setembro a criança chegou em casa dizendo que tinha levado um tapa de uma das professoras. A família ficou descrente e seguiu conversando nos dias seguintes.
Prefeitura de Joinville envia projeto de internação involuntária à Câmara; quais são as regras
— Ele falou assim: “ô, mãe, a ‘profe’ me bateu”. Ele repetiu a mesma frase na quinta e sexta-feira. No sábado, que fiquei em casa com ele o dia todo, eu tirei para conversar mais com ele. Eu falei: “filho, pode fazer na mãe, que quer ver como que ela fez em você”. Aí, ele me deu um tapa forte na testa — lembra a mãe.
A família revela que o pequeno é uma criança que costuma ter crises de nervosismo. Porém, os episódios teriam aumentado desde que a professora denunciada chegou na unidade. Justamente, foi em um episódio de raiva do menino que ela teria o agredido com um tapa.
Continua depois da publicidade
Após saber do ocorrido, os pais foram até a escola, onde foram comunicados que a diretoria já estava ciente do assunto porque, no mesmo dia do ocorrido, uma testemunha teria presenciado a agressão e comunicado a direção. A mãe, porém, alega que só foi informada do ocorrido após ter procurado a escola.
— Eu saí da escola e fui para a delegacia, fiz um boletim de ocorrência contra a professora. Eu fui para a Secretaria de Educação, onde eu tive uma reunião e me falaram que, até então era supostamente um ocorrido, mas que eles iam apurar os fatos, que a professora ia ser ouvida primeiro, para ver o que ela tinha a dizer e que poderia demorar — cita Letícia.
A revolta da família, agora, é a falta de respostas sobre a agressão. A mãe da vítima relata que não recebeu nenhum parecer da escola ou da Secretaria de Educação. Uma ouvidoria foi registrada e, até o momento, não foi respondida. Conforme informado no site da prefeitura de Joinville, o prazo para fornecimento do parecer ao usuário é de 30 dias, podendo ser prorrogado por mais 30 dias.
O pior, para a mãe, foi o trauma deixado pela agressão, o sentimento de impotência e falta de assistência.
Continua depois da publicidade
— O caso do meu filho não pode ficar assim sem ninguém fazer nada. O meu filho vai ter que passar por psicólogo por causa dessa mulher, tem pesadelos de noite, berros e mais berros — diz a mãe com revolta.
Caso não foi o único
Bianca* relata que o filho presenciou um ato de violência da mesma professora contra uma criança autista. Devido ao estresse, ele não quis mais ir para a escola, passou a chorar com frequência e a ter vômitos.
O comportamento estranho do pequeno começou já no início deste ano, quando a mãe foi deixá-lo na escola e presenciou a professora sendo agressiva com uma criança autista.
— A menininha entrou para dentro da sala, puxou a cadeira na mesa e sentou. E aí, aquela professora começou a tentar tirar a menina e a menina gritava e ela tentava tirar, arrancar a menina dali. A menina estava aos gritos e eu fiquei olhando aquilo e ele [o filho] se assustou e arregalou os olhos — lembra Bianca.
Continua depois da publicidade
Cerca de uma hora depois de deixar o pequeno na escola, recebeu uma ligação de que deveria voltar para buscá-lo, pois a criança não parava de chorar. A mãe chegou na unidade e, além de encontrar o filho com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas, ainda viu que ele tinha vomitado.
Nos dias seguintes o pequeno adoeceu, tendo também quadros de febre. A mãe o levou ao pediatra e, lá, foi informada de que o episódio poderia ter sido desencadeado por estresse, já que ele não tinha outros sintomas.
Com o passar das semanas, a criança continuou tendo crises ao ser levada para a escola. Bianca voltou ao médico e foi indicada a mudar o filho de escola, o que foi feito. Além disso, ele foi encaminhado para uma psicóloga.
— A psicóloga falou “mãe, ele realmente teve um trauma, a gente só não sabe que trauma foi porque ele não conta”. Aí, ela mandou eu passar na frente da escola às vezes. Eu passei duas vezes com ele, mas fez um berreiro dentro do carro. Eu nunca mais passei na frente da escola com ele porque, quando eu passo lá, ele chora e faz um escândalo — lembra Bianca. Com isso, a família mudou o menino de escola.
Continua depois da publicidade
Recentemente, a mãe aproveitou uma viagem para conversar novamente com a criança e tentar entender o que havia motivado as crises.
— Ele falou “mãe, aquela professora ela bateu na testa, lembra da menininha [com autismo]?” e eu falei que lembrava. Daí, ele falou “sabe, ela [professora] bateu na testa daquela menininha, mãe, e ela pegou e apertou o meu braço” — comenta Bianca sobre a conversa com o pequeno.
O filho ainda contou à Bianca que os apertões no braço ocorreram duas vezes. Uma porque ele teria desenhado errado e, outra, porque não queria desenhar.
“Terror psicológico”, diz mãe
Em um terceiro caso, a mãe Geovana* conta que não houve agressão, mas sim “terror psicológico” com o filho por parte da mesma professora nesse CEI.
Continua depois da publicidade
— Na verdade o que ocorreu foi um incidente em que a professora fez terror psicológico com ele, mas não chegou a agredir — explica.
O episódio ocorreu em meados de 2024. A professora denunciada teria contado para a mãe que o filho tinha feito “birra” durante uma atividade, que pegou na mão dele e, mesmo assim, não fazia. Geovana conta que ficou desconfiada do relato porque, no ano anterior, o menino já não queria ir para a escola por conta da mesma profissional.
Ao chegar em casa a mãe sentou e conversou com o pequeno, momento em que ele relatou que havia começado o choro porque a professora tinha brigado com ele.
— Ele me respondeu que ela foi lá, tirou ele da mesa que ele estava sentado com os amigos e levou ele para sentar do lado dela. Sozinho o tempo todo, para ficar de castigo por não ter feito atividade — diz a mãe.
Continua depois da publicidade
Após saber do ocorrido, Geovana marcou uma reunião com a escola e pediu que a professora não ministrasse mais aula para o pequeno, o que foi feito.
Prefeitura se manifesta após denúncias
Em contato com a reportagem do NSC Total, a prefeitura de Joinville informou que, após a denúncia, transferiu a professora da unidade escolar e que ela segue atuando em nova unidade sob acompanhamento da Secretaria de Educação. A pasta explicou que o afastamento preventivo só pode ocorrer se o servidor estiver interferindo na investigação ou persistindo na prática que está sendo investigada. Além disso, como não foi confirmado o fato e nem concluído o processo, não há materialidade para afastamento, também comentou o governo municipal.
A Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (Dpcami) informou que recebeu o boletim de ocorrência, mas não deu detalhes sobre as investigações.
*A reportagem usou nomes fictícios para não identificar as mães e seus filhos.
Leia também
Morte a tiros em conveniência de Joinville tem motivação revelada
Fio desencapado provoca morte de adolescente que lavava casinha do cachorro em Lontras
Engavetamento entre cinco veículos deixa um morto e causa filas na BR-101, no Morro dos Cavalos
Motorista fazia primeira viagem com carreta e alegou falhas mecânicas em acidente na BR-376