Sabrina Sabino, 34 anos, sempre quis ser mãe. E médica. Só não estava nos planos engravidar em meio à pandemia do coronavírus, época em que viu a demanda de trabalho mais que dobrar.
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Mas aconteceu.
Quando soube, no Dia das Mães do ano passado, susto e medo tomaram conta dos pensamentos da gaúcha que vive em Blumenau. Sabrina é médica infectologista, especialidade que se dedica ao tratamento de doenças infecciosas, como a Covid-19. É uma profissional da linha de frente, que lida diretamente com casos graves.
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Casada há sete anos, a infectologista já era mãe de Maria Flor, de dois anos e sete meses, quando fez o teste que confirmou a segunda gestação, de Olívia, agora com quatro meses.
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Apaixonada pelo que faz, Sabrina não deixou de trabalhar um dia sequer. Incluindo na data escolhida para o parto, no começo de janeiro. Duas semanas depois da chegada da filha caçula, ela retomou algumas atividades, pois não queria deixar pacientes desassistidos na pior crise sanitária que o país já enfrentou.
– Sinto muita culpa por não estar completamente presente, mas tudo que faço é por elas. Espero que as duas tenham orgulho de mim, que digam: “Minha mãe trabalhou na pandemia salvando vidas, consolando famílias” – diz ela.
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Difícil imaginar um futuro diferente do desejado por ela. Na rotina exaustiva por conta da pandemia, voltar para casa é o combustível de Sabrina, mesmo que a maternidade também signifique dedicação, inseguranças e noites mal dormidas. As pequenas são as doses diárias de alegria e esperança que a médica tem nesses meses sombrios.
– Com elas estou completa e feliz. De tudo que faço, ser mãe é o mais gratificante — revela.
As duas gestações de Sabrina foram cheias de desafios. Na primeira, ainda vivia no Rio Grande do Sul. Longe dos pais e da única irmã, que já moravam no litoral de Santa Catarina, decidiu se mudar para ficar mais perto da família. Aceitou uma proposta de emprego em um hospital de Blumenau e, com a bebê nos braços, decidiu começar uma nova etapa.
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Sozinha, em uma cidade desconhecida, com o marido temporariamente longe por conta do trabalho dele, Sabrina alugou um imóvel e, às pressas, contratou uma mulher para ajudá-la a cuidar da pequena. Havia chances de dar tudo errado, mas o destino quis o contrário. A profissional que a auxiliou à época hoje cuida de Olívia.

A reduzida, mas suficiente rede de apoio de Sabrina, resume-se ao marido, à babá e à mãe, que conseguiu dar suporte no primeiro mês da neta mais nova. Com o companheiro, a médica divide absolutamente todas as tarefas do dia a dia das meninas. Na maternidade da vida real de Sabrina, a paternidade também não é faz de conta.
A rede de apoio foi fundamental na segunda gestação. Além do pavor de se infectar com o coronavírus, a diabete gestacional, as frustrações de uma gravidez em um momento delicado, sem direito a chá de bebê, registros fotográficos e abraços marcaram a espera. Um mês depois de nascer, Olívia contraiu o vírus sincicial, comum em recém-nascidos, e precisou ser hospitalizada. Mais uma vez, tudo terminou bem e não demorou muito para voltar para casa.
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A mulher que salva vidas deu à luz meninas que ainda não entendem direito o que ela faz, mas certamente sentem que nada é mais valioso para a mãe do que vê-las bem. Na casa de Sabrina, a super-heroína de Maria Flor e Olívia não usa capa. Usa jaleco, máscara e um estetoscópio.
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