De acordo com a Secretaria de Políticas Digitais do Governo Federal, o Brasil é um dos países em que se passa o maior tempo utilizando smartphones, telas e dispositivos eletrônicos. Isso não é diferente para as crianças: quase 90% das crianças e adolescentes brasileiros estão conectados à internet, de acordo com uma pesquisa realizada pela BBC News. Desses, 95% usam o celular como principal dispositivo para acessar aplicativos e sites.
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Com a digitalização acelerada, muitos pais têm encontrado dificuldades para regular o tempo de uso de tecnologia. Diante desse cenário, muitos pais se veem em um dilema: como equilibrar o uso da tecnologia, que pode ser educativa e até necessária, com as preocupações sobre seus impactos negativos?
Foi nesse cenário que Lauriane Camilo da Silva, ou Lauri, de 29 anos, se encontrou após o nascimento do filho Zaia Camilo Reis, de 11 meses. Moradores de São Francisco do Sul, no Norte de Santa Catarina, ela e o marido, Eros Reis, decidiram limitar o uso de telas até os dois anos, mas perceberam que o processo real era muito mais complexo do que o dia a dia.
— Inicialmente o nosso foco era que ele não tivesse acesso nenhum às telas. Mas vimos que era muito mais complexo do que a gente imaginava. Primeiramente porque os avós moravam distantes, então a gente fazia chamada de vídeo, o que incentivava na interação dele com o celular. Então ele já associou falar e conversar ao telefone — conta Lauri.
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Ela ainda afirma que mesmo com os desafios, tenta encontrar diferentes formas de manter o bebê distraído, evitando as telas, distribuindo o tempo do dia a dia dos pais para a criança dentro da rotina dela. E acredita que esse é o maior desafio que enfrenta quanto ao evitar as telas.
— Eu penso que o tempo que a gente precisa dar essa atenção e essa distração seja maior do que um um pai de uma criança que permite telas livres. Isso é desafiador — afirma ela.
Especialistas afirmam que a limitação das telas não se trata da proibição completa, mas sim que ocorra um limite saudável. Os pais podem criar uma rotina em que o uso de tecnologia seja intercalado com outras atividades importantes, como brincadeiras ao ar livre, leitura e tempo em família.
— Nem tudo relacionado ao uso de telas é danoso, se controlado esse uso consciente ele pode potencializar o aprendizado, utilizando de recursos educativos e recursos com conteúdos que sejam propícios para o desenvolvimento de habilidades — confirma a professora e psicóloga Chrissie Ferreira de Carvalho.
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Exibição às telas
Segundo dados recentes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), crianças de 0 a 4 anos estão gastando, em média, cerca de 2 horas por dia em frente às telas. Já para aquelas entre 5 e 12 anos, esse número pode ultrapassar 4 horas. A pandemia de Covid-19, com a necessidade de ensino remoto e o aumento do tempo em casa, amplificou ainda mais essa exposição.
O uso excessivo de telas pode ser danoso para o desenvolvimento da criança, tanto cognitivo quanto social para a criança. A psicóloga Chrissie Ferreira afirma que essa exposição demonstra menor desenvolvimento linguístico e psicomotor, sendo um dos fatores de aumento para obesidade infantil.
Outro aspecto preocupante é o impacto do uso de dispositivos eletrônicos no sono infantil. A luz azul emitida pelas telas interfere na produção de melatonina, o hormônio do sono, podendo levar à insônia e à má qualidade do sono.
— Percebemos também prejuízos na atenção e na qualidade do sono, mesmo aquelas crianças que assistem telas mais cedo, percebemos nos estudos que quanto maior essa exposição mais o sono é prejudicado — conta Chrissie.
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A SBP recomenda que crianças de até 2 anos não sejam expostas a telas e que, entre 2 e 5 anos, o uso seja limitado a uma hora por dia. Já para crianças de 6 a 10 anos, o tempo de uso deve ser monitorado de forma rigorosa, incentivando pausas frequentes e atividades que não envolvam tecnologia.
A brincadeira como ferramenta
Existem diversas ferramentas disponíveis para auxiliar os pais a gerenciar o tempo de tela dos filhos. Muitos dispositivos e aplicativos oferecem controles parentais, que permitem limitar o tempo de uso e monitorar os conteúdos acessados pelas crianças.
Além disso, atividades alternativas podem ser incentivadas para reduzir a dependência da tecnologia. Brincadeiras tradicionais, leitura, esportes e tempo ao ar livre são essenciais para o desenvolvimento saudável e o bem-estar das crianças.
Segundo a psicóloga Chrissie Ferreira, essas atividades melhoram a coordenação motora, porque elas permitem que a criança utilize mais o corpo, ocorre consequentemente o fortalecimento muscular, ósseo e estimulação do sistema imunológico.
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— São vários aspectos relacionados ao desenvolvimento social e emocional, pois essas interações são mais complexas e mais ricas, principalmente quando com outros colegas. E isso melhora as habilidades sociais — afirma a psicóloga.
Lauriane Camilo afirma que a interação de Zaia com outros tipos de brinquedos e outras crianças facilita e vem ajudando cada vez mais no desenvolvimento dele.
— Um dos reflexos que percebo no Zaia, com essa criação, é que ele é uma criança que gosta de brincar e estar com outras crianças, ele sempre busca isso quando está com outras pessoas ao redor — conta Lauriane.
E a psicóloga ainda afirma que essas interações permitem a criança criar mais empatia e entender um pouco mais dos próprios sentimentos.
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— O brincar também promove a redução do estresse e da ansiedade e melhora o estado de humor geral. Então são vários benefícios que estão atrelados ao brincar — completa Chrissie Ferreira.
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