A cena de uma menina de quatro anos brincando em uma tarde ensolarada de outono pode parecer comum. Mesmo se ela estiver com o braço esquerdo enfaixado. Mas os ferimentos que a bandagem esconde não são de nenhuma travessura. São marcas de tiro. A menina foi atingida na noite de terça-feira, quando estava em casa e um rapaz de 15 anos atirou contra o namorado da irmã. O crime ocorreu no Bairro dos Municípios, em Balneário Camboriú.
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O alvo dos seis disparos feitos naquela noite era um rapaz de 17 anos que segue internado em estado grave. A menina acabou atingida por duas balas, uma de raspão e outra que ficou alojada perto do bíceps. Ela chegou a ser internada no Hospital Ruth Cardoso, mas foi liberada no início da tarde desta quarta-feira.
Os médicos preferiram não tirar o projétil porque o risco era maior e informaram à família que ela pode sair naturalmente. Em casa, a pequena recebeu visita de amigos da família e, em alguns momentos, teve de ser contida pela mãe, já que queria andar de bicicleta.
– Não dá filha, você está com o braço machucado e precisa cuidar – repreendeu a mãe.
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Ainda atordoada, a mãe conta que a família fazia um churrasco na noite de terça-feira quando, por volta das 21h, um jovem apareceu no portão chamando pelo namorado da filha mais velha, de 15 anos. O rapaz, de 17, foi até lá e os dois conversaram rapidamente.
Menos de uma hora depois, às 21h50min, o mesmo jovem voltou chamando novamente pelo mesmo rapaz. Este foi até o portão e, quando chegou perto, o outro começou a atirar.
– Foi tudo muito rápido. Eu estava no telefone e só ouvi os tiros, nem sei onde a (filha) mais nova estava – conta a mãe.
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Devido ao susto, a família já pensa em voltar a morar na Itália. A menina atingida, aliás, nasceu em território italiano. O pai dela morou sete anos por lá e a família, quatro. Retornaram há um ano e meio, fugindo da crise que assolou o país.
– A gente já tinha vontade de voltar para a Itália. Agora, depois de tudo isso, pensamos ainda mais – conta a mãe, que cuidava de idosos e era manicure na Europa.
Sobre o crime, a família prefere não falar. O que ficou foi a memória de que, felizmente, nada mais grave ocorreu. A polícia já identificou o rapaz que atirou, mas ele ainda não foi localizado. O delegado da Divisão de Investigação Criminal, Osnei de Oliveira, acredita que, assim que for confirmada a autoria, o menor deve ser encaminhado ao Casep.
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– Estamos ouvindo testemunhas e vamos esperar a vítima ter condições de prestar depoimento. A princípio, não temos ainda a motivação do crime e pode ser que não tenha a ver com o tráfico de drogas – diz o delegado.
Preocupação na vizinhança
A Rua Blumenau, onde ocorreu o crime, era considerada uma das ruas mais tranquilas de Balneário Camboriú. Isso, segundo os próprios moradores. O marceneiro Américo Silveira mora há 11 anos na rua e diz que há pelo menos três o número de crimes começou a aumentar.
– Não vemos roubo por aqui. O que tem é tráfico de drogas _ comenta.
O marceneiro diz que é comum a vizinhança denunciar casos suspeito de tráfico de drogas, mas ele não vê uma solução efetiva.
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– A gente nem sabe para quem recorrer. Se para o município, ou para o Estado. Precisamos de mais vigilância, mas também que as famílias cuidem melhor de seus filhos. Só assim para evitar que essas coisas aconteçam – desabafa.
A dona de casa Maria Elaine conta que ouviu os tiros e foi com a família ver o que estava acontecendo. Ela diz que estavam todos se preparavam para dormir no momento dos tiros.
– A gente não conhece muito bem os vizinhos, mas é triste. A gente fica com medo – resume.
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O delegado da DIC confirma que a maioria dos casos de homicídio e tentativa de homicídio da cidade nos últimos meses acontece no Bairro dos Municípios. Só neste ano, quatro pessoas foram assassinadas na região, uma delas na Rua Blumenau e outra na Biguaçu, que fica ao lado.
– Apesar do trabalho ostensivo de prevenção, a procura por drogas no bairro é muito grande – diz o delegado.