A morte de um aluno de 16 anos no Instituto Federal Catarinense de Sombrio, na semana passada, segue marcada por dúvidas. O estudante que estava com o colega morto, encaminhado para um centro de menores infratores, disse à polícia que eles eram namorados e teriam feito um pacto. Celina Hobold da Rosa, mãe do jovem encontrado já sem vida no banheiro da escola, não se conforma com essa versão sobre o episódio. Em entrevista, ela faz acusações ao menor apreendido, algumas omitidas nos trechos que o DC publica abaixo para preservar o garoto enquanto a polícia apura o caso.

Continua depois da publicidade

A família do jovem apreendido foi procurada, mas prefere não falar por enquanto, sob o argumento de que está muito abalada. Para a presidente comissão da Criança e Adolescência da OAB-SC, Reti Jane Popelier, polícia e Ministério Público precisam seguir o Estatuto da Criança e Adolescente, garantindo a defesa do jovem apreendido. Se confirmadas as acusações de ato infracional, a investigação tem que ser rápida e deve ser oferecido acompanhamento psicológico ao menino, assim como às duas famílias, o que na prática nem sempre acontece.

“Estamos sem entender o que aconteceu”, Celina Hobold da Rosa, mãe de Arthur Hobold da Rosa

Diário Catarinense – A senhora sabia da amizade do Arthur com o colega?

Continua depois da publicidade

Celina Hobold da Rosa – Sabia que eram amigos na escola. Há muitos comentários maldosos que precisam ser esclarecidos. Os fatos por si só já dizem. O outro estudante premeditou a morte de um amigo na escola, pelo que me passaram. Mas se tivessem um envolvimento maior, o que não estávamos a par, também não interessa, porque ele continuaria sendo meu filho. Não temos que tratar a questão do homossexualismo, mas a questão do assassinato a sangue frio.

DC – O menino apreendido frequentava a sua casa? A senhora o conhecia?

Celina – Eles eram amigos de escola e só. Ele nunca frequentou a minha casa, nem meu filho a dele. Pelas informações que colhemos, esse menino era cheio de problemas e queria o Arthur a qualquer custo. Meu filho não saía de casa, nunca teve namorado ou namorada. Era estudioso e muito querido. A escola dizia que eles eram amigos. Hoje dizem que eles tinham algo mais, mas acho que não era da parte do meu filho, era da parte desse outro menino.

DC – Uma alegação do menino apreendido é de que as famílias não aceitavam o relacionamento dos dois.

Continua depois da publicidade

Celina – Minha família é muito esclarecida. Ser chamada de homofóbica é um absurdo. Perder um filho e ouvir isso dói demais. Ninguém falou do nosso sofrimento. A raiva que tenho por causa desses comentários é muito grande. É triste.

DC – Como foi o último dia de Arthur?

Celina – Ele saiu de casa de café tomado. Conversamos de ir na dermatologista à tarde e sobre passar um fim de semana legal, jantar fora. Você acha que um menino assim iria fazer um pacto de morte? Ele estava muito tranquilo. Há coisas que falaram que não fecham. Um policial disse que professores sabiam do envolvimento deles. Que envolvimento? Pelo que sei eram amigos.

DC – Como a escola tratou esse assunto com a senhora?

Celina – A gente pergunta e eles não sabem dizer nada. Me ligaram dizendo que o meu menino tinha se enforcado. Isso às três da tarde, quando ele já estava no IML e a polícia visto que ele não tinha sido enforcado e achado o suspeito fugindo do local. Que escola preparada é essa para acontecer tudo isso e não ter uma estrutura para nos amparar nesse momento? E ainda não auxiliam na divulgação de notícias verídicas.

Continua depois da publicidade

DC – Como foi a repercussão do caso na sua família?

Celina – Eu e minha família estamos sendo massacrados. Minha família é muito bem estruturada. O meu filho era lindo, educado, inteligente, só tinha notas nove e 10. Tudo isso foi banalizado. Havia diálogo na nossa família. Até agora estamos sem entender o que aconteceu. Graças a Deus quem nos conhece sabe da nossa estrutura. Estamos recebendo muita solidariedade.

DC – A senhora consegue encontrar alguma explicação para o que aconteceu?

Celina – Meu filho não faria pacto algum. Ele era muito centrado. Não teve motivo.

DC – O Arthur falava algo sobre esse amigo. Eles tinham algum problema?

Celina – O Arthur não falou nada. Não havia perseguição, nem ameaças. Posso dizer que ele (o colega) o perseguia de uma forma psicológica, pelo que estamos vendo agora. Esse menino tirou o Arthur para amigo. Pelo que vimos, quando ele fala em pacto, era como se fosse uma obsessão, mas não sei se ele era homossexual. Baixamos as conversas do Skype do Arthur. O que estou dizendo é com base nisso. Algumas vezes o menino chamava e meu filho não respondia. Quem sabe esse distanciamento tenha ocasionado tudo, mas não posso provar nada.

DC – O Arthur apresentou comportamento estranho nos dias anteriores?

Celina – No dia 1o, perto de três da tarde, a escola ligou dizendo que ele não estava bem. Meu marido foi buscá-lo e ele precisou ser carregado. Levei ao médico, medimos a pressão e fizemos exame de sangue, mas achamos que não era nada grave. Na sexta-feira seguinte aconteceu a mesma coisa. Ele melhorou do mal estar e no dia seguinte apresentou trabalho na escola, tudo normal. Agora acontece esse crime justamente depois do almoço. E meu filho não apresentava nenhum hematoma. Será que esse menino já estava dando algum medicamento para ele? Tem muitas coisas inexplicáveis.

Continua depois da publicidade

“Eles disseram que eram amigos”, Anderson Sartori, coordenador-geral do IFC Sombrio

Diário Catarinense – A família do Arthur está falando sobre perseguição do outro menino. O senhor sabia de algo sobre isso?

Anderson Sartori – Eles (a família Rosa) estiveram aqui na quinta-feira e relataram a perseguição, sobre as mensagens que encontraram no computador. Na documentação que tem aqui, entregue a eles e ao delegado, está relatada a amizade deles e a preocupação que ela (Celina) tinha com isso. Então, a parte da perseguição em si é algo que em julho não estava configurado desse jeito. A preocupação deles era a amizade com o menino. Eles vieram aqui, conversaram com a gente, acompanharam. Está registrado.

DC – Esse foi o motivo da reunião?

Sartori – Sim. Eles estavam preocupados com essa aproximação do filho deles com o menino que agora está apreendido. Por isso vieram.

Continua depois da publicidade

DC – E a escola tomou alguma atitude?

Sartori – Eles conversaram com o menino e a gente também conversou com os dois. Daí pra frente eles mantiveram essa relação de amizade e no nosso espaço conviviam tranquilamente. Mas nós, como instituição, não sabíamos o que acontecia fora, por redes sociais ou outro meio.

DC – No seu entendimento, os meninos eram namorados ou não?

Sartori – Trabalho com adolescentes há um bom tempo e sei que essa fase é bem complexa. Mas eu não caracterizaria como um namoro, pelo menos na minha leitura. No dia mesmo que aconteceu (a morte), um professor relatou que eles sentaram juntos pra ver um filme no notebook. Eles deitavam no chão aí fora. O que preocupou a gente em julho e nos fez chamar as famílias foi alguns alunos comentando que eles estariam se abraçando e andando de mãos dadas. Então a gente chamou as famílias pra conversar e entender o que estava acontecendo.

DC – E eles afirmaram alguma coisa?

Sartori – Eles disseram que eram muito amigos, que estavam construindo uma amizade. Em nenhum momento, nem um nem outro, até pela questão da idade, teriam como afirmar isso, que seriam homossexuais. Acho leviano afirmar uma coisa se nem eles têm condições de assumir. Não tem como a gente afirmar um negócio desses.

Continua depois da publicidade