Os candidatos à presidência da Venezuela, o situacionista Nicolás Maduro e o opositor Henrique Capriles, entraram na última semana antes das eleições do próximo domingo com provocações e desafios mútuos.

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No sábado à noite, Maduro, presidente interino do país e designado por Hugo Chávez como seu sucessor, disse que os Estados Unidos e a oposição venezuelana têm um plano para matá-lo. Ontem, Capriles, vestindo uma camisa vermelha (a cor do chavismo), levou milhares de seguidores a um comício no centro de Caracas, em um reduto histórico chavista – o que foi visto como desafio a Maduro.

No discurso de Maduro, um dia antes, até nomes foram citados na referência a uma suposta conspiração. De acordo com o chavista, os ex-embaixadores americanos Roger Noriega e Otto Reich estariam montando o plano para matá-lo, ao lado da “direita” de El Salvador. O presidente diz que o grupo contrataria mercenários salvadorenhos para assassiná-lo.

Para Maduro, o complô inclui sabotar à rede elétrica venezuelana, que enfrenta diversos apagões nos últimos anos, e aumento do número de homicídios na Venezuela, que tem a taxa mais alta da América do Sul (houve 3,4 mil homicídios no primeiro trimestre, segundo dados oficiais).

A intenção, segundo Maduro, é desestabilizar o governo e os aliados chavistas para tentar um golpe a fim de empossar os candidatos opositores.

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– Denuncio ao mundo e peço ao povo alerta máximo – disse o presidente. – O objetivo é matar, querem me matar porque sabem que não podem vencer eleições livres. Por trás disto estão as mãos de Roger Noriega e Otto Reich e a direita salvadorenha que pagou e enviou criminosos para me assassinar.

Desde o início da campanha, ele diz ser vítima de uma conspiração dos EUA e da oposição contra sua candidatura. Mas, apesar de dizer que tem provas das acusações, nunca as apresentou. Em março, Maduro havia acusado Noriega e Reich de planejar um atentado, mas contra Capriles, com o mesmo objetivo de desestabilizar a Venezuela. Na ocasião, ele pediu ao presidente Barack Obama a prisão dos dois ex-embaixadores.

Oposição venezuelana toma

Avenida Bolívar, na capital

Capriles fez com que a Avenida Bolívar, normalmente tomada pelo vermelho usado por chavistas, ficasse abarrotada de opositores que vestiam amarelo, azul e vermelho, cores da bandeira venezuelana. Milhares de venezuelanos chegavam de diversos pontos da capital para reunir-se ao candidato, que tentará chegar à presidência pela segunda vez em seis meses – ele concorreu em outubro contra Chávez, morto em 5 de março depois de lutar por dois anos contra um câncer originado na pélvis, e perdeu por 55% contra 44% na ocasião.

A estratégia de Capriles para reverter uma situação que o histórico e as pesquisas mostram ser adversa é a seguinte: percorrer a Venezuela tentando romper o estado emocional em que o país mergulhou depois da morte de Chávez e desvincular a imagem carismática do falecido presidente da de seu herdeiro político, o candidato Nicolás Maduro.

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– Henrique conseguiu se conectar com o povo – afirmou Ramón José Medina, diretor de assuntos internacionais da Mesa da Unidade Democrática (MUD), um mosaico de várias formações políticas reunidas em torno de Capriles, embora persistam profundas divergências internas.

Com duas ou três atividades eleitorais diárias em diferentes regiões, Capriles está adaptando a esta curta campanha de 10 dias o ritmo frenético que imprimiu nas últimas presidenciais, quando suas visitas “de casa em casa” por todo o país criaram a ilusão de uma vitória da oposição, o que não se confirmou. Desta vez, ele evita criticar Chávez e prefere confrontar-se diretamente com Maduro e criticar as falhas do governo no combate à inflação e à escassez de alimentos e remédios.

Enquanto Maduro reitera o lema “Chávez vive, a luta continua”, nos atos da oposição as palavras de ordem são “Nicolás não é Chávez”.