O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, confirmou o aumento do preço da gasolina, que é a mais barata do mundo, e a desvalorização da moeda nacional, o bolívar, para enfrentar a profunda crise econômica do país. O anúncio ocorreu nesta quarta-feira.
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Pela primeira vez em 20 anos, a gasolina super de 95 octanas subiu, passando de US$ 0,01 para US$ 0,60, comunicou o presidente em rede nacional de rádio e televisão. Adiado várias vezes por Maduro, o aumento da gasolina era quase um tabu. Em 1989, a elevação do preço do combustível foi um dos gatilhos do “Caracazo”, como ficou conhecida a sangrenta convulsão social ocorrida na época.
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– Convoco a paz e o respeito de todas essas decisões necessárias. Chegou a hora de instalarmos um sistema que garanta o acesso aos hidrocarbonetos a preços justos – mencionou.
Maduro também anunciou reformas no complexo sistema cambial venezuelano, que terá apenas duas bandas a partir de sexta-feira. Atualmente, são três.
O dólar para importar alimentos e remédios passou de 6,3 bolívares para 10 bolívares, o que implicou uma desvalorização de 37% da moeda nacional. A outra banda do sistema cambial será “flutuante” a partir dos 200 bolívares por dólar.
– O sistema de câmbio será simplificado em duas bandas (…). Busca estimular a produção – disse Maduro, sem dar detalhes do novo regime.
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Ele também anunciou um aumento de 20% no salário mínimo, que passará de 9.600 bolívares para 11.520 bolívares. Economistas, por outro lado, se mostraram céticos em relação às medidas.
A Venezuela registrava uma inflação de 141,5% em termos anuais em setembro de 2015. No ano passado, a contração econômica foi de quase 7%, e o déficit público alcançou 20%, de acordo com economistas privados, em uma conjuntura adversa pela queda dos preços do petróleo. Atualmente, o barril da commodity é cotado abaixo de US$ 30.
Com as maiores reservas de petróleo do mundo e altamente dependente das importações, a Venezuela passa por uma seca de dólares agravada pela queda dos preços do cru. A commodity ainda responde por 96% de suas divisas.
O presidente informou que a receita do país caiu de US$ 42 bilhões em 2013 para US$ 12,5 bilhões em 2015, uma queda de 70%. Economistas independentes atribuem a falta de acesso a divisas ao regime de controle cambial adotado em 2003 pelo governo de Hugo Chávez (1999-2013). Maduro reconheceu que esse modelo está “esgotado”.
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O novo sistema de duas bandas, que eliminou uma terceira taxa de câmbio de 13,5 bolívares para matérias-primas e insumos industriais, busca, segundo o presidente, fazer com que o país salte de uma economia rentista petroleira para um modelo produtivo.
– Uma desvalorização ou aumento da gasolina ou de preços não são as medidas que vão tirar a Venezuela da crise. Isso requer muito mais – advertiu o diretor da Econanalítica, Asdrúbal Oliveros.
Maduro não sai, diz chavista
Diosdado Cabello, o segundo homem mais importante do chavismo, descartou a possibilidade de renúncia do presidente venezuelano em meio a pressões da oposição, que exige uma mudança de governo.
– Nicolás não vai renunciar. Isso está descartado sob qualquer circunstância, isso não existe – afirmou Cabello no programa que apresenta a cada semana na TV estatal.
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Durante o primeiro debate de uma lei de anistia para políticos presos, na terça-feira, o presidente do Parlamento, Henry Ramos Allup, comentou que “três grupos militares” e quatro no partido governista estão “caindo e forçando a renúncia” de Maduro.
– Que via constitucional existe, que não seja a revogação, para antecipar o fim do mandato do presidente? – questionou Cabello, depois de afirmar que a lei de anistia busca a saída do chefe de Estado “fora da Constituição”.
– Por isso é que estão apressados em aprovar a lei de amnésia criminal – insistiu o líder chavista, que antecipou que a maioria opositora pode aprovar o texto no Parlamento, mas não conseguirá sua aplicação.
Na quarta-feira, o ex-candidato à presidência Henrique Capriles, da oposição, conseguiu reunir 3,9 milhões de assinaturas para convocar um referendo revogatório contra Maduro. Ele anunciou que apresentará à coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) uma proposta para que, paralelamente ao revogatório, se avance em uma emenda constitucional para reduzir o mandato de Maduro, eleito para o período 2013-2019.
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