Um dos delatores da Operação Lava-Jato, o ex-vereador do PT em Americana (SP) Alexandre Romano, o Chambinho, entregou à Procuradoria da República recibos de depósitos — realizados a pedido do ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira — para a madrinha de bateria da escola de samba Sociedade Recreativa e Beneficente Estado Maior da Restinga, Viviane da Silva Rodrigues. Entre 2010 e 2012, a madrinha teria recebido R$ 61,7 mil em 18 parcelas.
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Paulo Ferreira teve prisão decretada na Operação Abismo, 31ª fase da Lava-Jato, mas já está preso desde o fim de junho, alvo da Custo Brasil, que pegou o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento/governo Lula e Comunicações/Governo Dilma). No pedido de prisão do ex-tesoureiro do PT, a Procuradoria afirma que Chambinho entregou “uma série de documentos que comprovam as transferências bancárias e pagamentos que efetuou a pedido de Paulo Ferreira, detalhando ainda o vínculo entre os recebedores e o ex-tesoureiro”.
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Paulo Ferreira teria destinado dinheiro de propina para escolas de samba
Os valores destinados à madrinha de bateria teriam saído das propinas de R$ 39 milhões que verteram de contratos das obras do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), no Rio.
“Os documentos apresentados por Alexandre Romano comprovam a realização de diversos depósitos a Viviane da Silva Rodrigues, que, segundo o colaborador, seria amiga de Paulo Ferreira e seu contato com blocos carnavalescos. Pesquisa em fontes abertas na internet revela que Viviane é madrinha de bateria da mesma Estado Maior da Restinga”, apontam os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato.
Ao mandar prender Paulo Ferreira, o juiz federal Sergio Moro listou documentos bancários que comprovariam os 18 repasses para Viviane — o primeiro realizado em 14 de maio de 2010, o último em 28 de agosto de 2010.
No pedido de prisão, os investigadores destacam “uma notícia apontando a ligação de Paulo Ferreira com a referida escola de samba”.
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O documento cita ainda vídeos sobre uma comemoração, em 2012, que seria do aniversário do ex-tesoureiro no Cais do Porto, centro de Porto Alegre.
A força-tarefa da Operação Abismo transcreve trecho de notícia divulgada nas redes sociais sobre uma comemoração pelo aniversário do ex-tesoureiro do PT. “Uma dupla homenagem a Paulo Ferreira, pelos seus 53 anos de vida e por sua nova empreitada em Brasília, onde recentemente foi empossado como deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT). A festa contou com a presença de muitos convidados e também colegas de partido. Paulo Ferreira é uma figura muito querida junto à Estado Maior da Restinga, sempre auxiliando e apoiando a escola de samba da nossa comunidade, bicampeã do Carnaval de Porto Alegre (2011/2012)”, informa o texto.
“E por este motivo a escola não poderia deixar de estar presente nesta festa, levando parte de seus integrantes para fazer um grande show para animar o aniversariante e seus convidados. A TV Restinga, que foi convidada para esta homenagem, fez questão de registrar tudo o que aconteceu nesta noite de comemorações. Parabéns, Paulo Ferreira, e muita sorte nesta nova jornada! Conte conosco e também contamos contigo para continuar apoiando e trabalhando por nossa comunidade!”.
Zero Hora tentou ouvir a madrinha da bateria da Estado Maior da Restinga, Viviane Rodrigues, mas ela não deu retorno aos pedidos de entrevista.
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China
Os integrantes da escola de samba Estado Maior da Restinga chegaram a viajar para a China por intermediação de Paulo Ferreira, com a embaixada do país em Brasília, informou o presidente da agremiação, Robson Dias, o Preto.
O país asiático foi escolhido como samba-enredo para o desfile de 2010, e a viagem teria ocorrido para que a comitiva pudesse conhecer a cultura chinesa.
Dias admitiu que há uma “relação política” com Ferreira, mas disse desconhecer as origens dos recursos doados.
— Não sei de dinheiro nenhum que tenha vindo da Petrobras. Nossa relação com o deputado Ferreira é política. Ele tem um grande papel dentro da escola, por abrir portas para empresas e nos ensinar a captar recursos — declarou Dias.
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A investigação da Operação Abismo, 31ª fase da Lava-Jato, identificou quatro pagamentos, no total de R$ 45 mil, à escola de samba, divididos em um cheque de R$ 20 mil compensado em 15 de janeiro de 2010, três cheques de R$ 5 mil cada compensados em 27 de janeiro de 2010, e mais dois cheques de R$ 5 mil, compensados em 9 de fevereiro de 2010.
De acordo com o presidente da escola, foi Paulo Ferreira quem intermediou a ida à embaixada da China e, depois, a visita ao país, possivelmente através de recursos captados com ministérios.
O ex-tesoureiro do PT também possibilitou a ida de integrantes da Estado Maior da Restinga para os Jogos Parapan-Americanos de 2007, no Rio, onde se apresentaram com a escola Grande Rio.
— Eu não sei precisar valores que recebemos das doações. Fiquei muito surpreso com essas notícias de hoje e também muito triste — destacou Robson Dias.
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Sobre a informação de que a escola de samba pedia votos para Ferreira, o presidente da agremiação se limitou a repetir que havia “uma relação política” com o ex-tesoureiro do PT.
No pedido de prisão de Paulo Ferreira, acolhido pelo juiz federal Sergio Moro, os procuradores da Lava-Jato afirmam: “Há transferências para a empresa SRB Estado Maior da Restinga, que está identificada nos extratos como ‘ONG POA Restinga PF’; que esta ONG é ligada a Paulo Ferreira, pois se trata de uma organização carnavalesca, que ajudava Paulo Ferreira na campanha, pedindo votos para ele”.
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*Estadão Conteúdo