Uma macaquinha da Amazônia está em Santa Catarina à espera de um avião para levá-la a um centro especializado em primatas. Com a espécie ameaçada de extinção, a fêmea foi resgatada pela Polícia Ambiental de Lages, na Serra, e deve viajar no início da próxima semana.

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Com pouco mais de um quilo e tendo entre seis meses e um ano de idade, a macaca da espécie Chiropotes satanas, popularmente conhecida como Cuxiú-preto, é originária de uma faixa de terra bem estreita localizada entre os rios Tocantins, no Pará, e Pindaré, no Maranhão, em plena mata densa e fechada da Floresta Amazônica Oriental.

Fêmea tem pouco mais de um quilo. Foto: Pablo Gomes, Agência RBS

O resgate ocorreu na noite de 30 de setembro, depois que moradores do bairro Araucária, em Lages, acionaram a Polícia Ambiental para informar que a macaquinha estava invadindo residências da comunidade em busca de comida. Depois de recolhido, o animal precisou ser colocado em uma sala com aquecedor para não sofrer com o frio.

Desde então, a macaquinha recebeu cuidados e carinho de todos os policiais, mas foi com o soldado Diego Küster Lopes, biólogo da corporação, que ela teve mais contato e afinidade.

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O militar acredita que o primata foi retirado do convívio da mãe ainda muito novo e foi traficado. Apesar de erma e afastada da urbanização, a região de onde a macaca é nativa tem grande atividade de mineração, e algum trabalhador do ramo a capturou para vendê-la.

A Polícia Ambiental faz diligências para tentar identificar e localizar a pessoa que a comprou em Lages. Caso isso ocorra, o responsável será processado por crime ambiental, com pena de até um ano e meio de detenção, e receberá multa de R$ 5 mil.

Naturalmente, explica o soldado Küster, a alimentação da macaquinha consiste em 90% de sementes e o restante de frutas e folhas. Mas enquanto esteve em cativeiro em Lages, provavelmente foi alimentada com restos de comida humana.

Já na sede da Polícia Ambiental, recebeu maçãs, bananas e ovos cozidos. Ela foi submetida a exames de sangue, fezes e radiografia no hospital veterinário da Udesc, em Lages, e está bem física e clinicamente.

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Animal recebeu carinho dos policiais. Foto: Pablo Gomes, Agência RBS

Nesta quinta-feira, o animal foi transferido para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Florianópolis, onde aguardará o trâmite legal junto à Fatma e à Cidasc para finalmente embarcar num avião que o levará ao Centro de Primatologia do Rio de Janeiro, onde há um macho da espécie.

O soldado Küster explica que, neste caso, é inviável reintroduzir a macaca em seu hábitat natural, uma vez que ela está em cativeiro praticamente desde o início da vida. A espécie vive em grupos de 40 a 60 animais, e a macaquinha de Lages, sozinha na floresta, teria dificuldades para encontrar comida e se proteger de predadores.

– Essa espécie é pouco estudada e aparece em perigo na lista de extinção. Para se ter uma ideia, o leão-baio aparece como vulnerável. É o primata mais ameaçado da Amazônia, por isso é tão importante preservá-lo. Já foi muita sorte a macaquinha não ter morrido em Lages durante o inverno, mas com certeza ela não resistiria por muito tempo aqui. Ela se apegou a mim e eu a ela, mas é preciso fazer o correto.

Espécie vive isolada na Amazônia. Foto: Pablo Gomes, Agência RBS

Se um dia você se deparar com um animal silvestre em sua casa, a primeira medida é ter o menor contato possível com ele. Apesar de simpáticos e bonitos, esses bichos podem transmitir doenças como herpes, toxoplasmose e pneumonia. Além disso, correm o risco de contrair doenças humanas, o que pode ser fatal para eles.

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Küster recomenda também manter o animal longe de outros humanos e cães. Se possível, alojá-lo em um lugar aquecido e alimentá-lo com frutas e água. Caso esteja ferido, é necessário encaminhá-lo ao hospital veterinário. Em qualquer caso, deve-se acionar imediatamente a Polícia Militar Ambiental.