Enquanto aguarda definição do local e do próximo oponente, o lutador Lyoto Machida, entre um treino e outro, demonstra a prudência de um samurai e a experiência de um campeão. Aos 33 anos, o baiano de Salvador, radicado em Belém, no Pará, não coloca prazo para voltar a lutar pelo cinturão dos meio-pesados. Muito menos demonstra abatimento com a decisão do Ultimate Fighting Championship (UFC) em colocar o norte-americano Quinton “Rampage” Jackson para desafiar o atual campeão, Jon Jones, também dos Estados Unidos. Após nocautear Randy Couture, o brasileiro voltou aos holofotes. E com uma “ajuda de cinema”. Ou melhor, de um ator do cinema: Steven Seagal. O astro de Fúria Mortal, Rede de Corrupção e Caçada Explosiva teve influência direta no último triunfo do lutador.

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A estrela de Hollywood é faixa preta de caratê, arte da qual da qual Lyoto é especialista. Começou a aprendê-la aos sete anos. Mas sua real paixão no mundo das lutas é outra modalidade: o aikidô. Antes dos 18, Seagal se mudou para o Japão para aprender mais. De volta aos Estados Unidos, começou a dar aulas da arte marcial. Mas, afinal, qual a relação entre os dois?

O baiano, assim como Anderson Silva, treinou algumas vezes com Seagal. “Umas duas vezes” segundo Lyoto. Na vitória contra Couture, o carateca aplicou um chute frontal no segundo round do UFC 129. O golpe foi ensinado por seu pai, Yoshizo Machida. No entanto, o ator o incentivou a confiar no movimento:

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– Ele (Seagal) fez com que eu acreditasse que o golpe era eficiente. Falou para eu confiar que entraria. Ele entende bastante de luta.

Foto: Divulgação, UFC

A ascensão de Lyoto no MMA foi meteórica. Em maio de 2003, na disputa do Ultimate Crush no Japão, derrotou o nipônico Kengo Watanabe, apresentando seu “cartão de visitas” no vale-tudo. Menos de quatro anos depois, em fevereiro de 2007, já estreava no UFC, quando, por decisão unânime, venceu o americano Sam Hoger.

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Em maio de 2009, no UFC 98, veio o auge: nocauteou o americano Rashad Evans, destronou o então campeão e se apossou do cinturão da categoria dos meio-pesados com um currículo invejável: 15 vitórias em 15 lutas.

– Eu sabia que seria uma guerra, mas tinha muitas condições de ganhar e muita confiança no meu treinamento.

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Em sua primeira defesa do título, no UFC 104, em outubro do mesmo ano, enfrentou o compatriota Maurício “Shogun”. Por decisão dos juízes, foi declarado vencedor e permaneceu como o número 1 da categoria.

Na revanche, no UFC 113 (maio de 2010), Machida teve o primeiro revés. Foi nocauteado no primeiro round e perdeu sua invencibilidade e, de quebra, o cinturão. Seis meses depois, no UFC 123, nova derrota, dessa vez para Rampage em decisão até hoje controversa. Após dois rounds muito parelhos, Machida demonstrou sua superioridade no último. O próprio americano ficou surpreso com o resultado. O que houve com o Dragão, como Lyoto é conhecido? Qual a razão para a queda de rendimento?

– Quando você é o campeão, você é muito mais estudado. É o alvo. Você está todo mapeado. Qualquer queda só serve para aquela luta. Para a próxima, será criado um antídoto, uma maneira de detê-lo. É muito complicado. Quando não (é o dono do cinturão), luta com muito mais tranquilidade. Faz parte. Todo mundo perde um dia. Ocorreu. Não foi o fim – declarou.

E não foi mesmo. O filho do professor de caratê Yoshizo Machida de estrela, passou a ser contestado. Dana White, presidente do UFC, chegou a declarar que o brasileiro havia se “deslumbrado”. Para provar o contrário, diante de uma das maiores lendas do MMA, Randy Couture, Lyoto demonstrou uma nova arma do seu repertório de golpes. No segundo round do UFC 129, acertou o Kanku u Daiu – o nome do chute -, encerrando a carreira do americano e se recolocando sob os holofotes.

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– Foi um momento especial. O Randy Couture foi alguém que eu vi desde garoto. Enfrentar essa lenda me emocionou bastante. Essa luta me recolocou de novo no topo. Estava desacreditado.

Foto: Divulgação, UFC

Após o triunfo histórico, o brasileiro foi cogitado como possível desafiante de Jon Jones na disputa pelo cinturão. O fato acabou não se concretizando – Rampage foi o escolhido. Nem por isso, o carateca “baixou a sua guarda”. Machida entendeu a definição sem maiores divergências:

– Tudo tem o seu momento e a sua hora.

Apesar de ciente do seu talento, Machida prefere não ser apontado como o homem que destronará o americano de 23 anos. Mas não foge de um futuro agendamento:

– A luta mais importante é a que eu farei. É sempre a próxima. Enquanto ele não for um problema meu, não tenho razão para falar disso. Está muito longe. Mas quero enfrentar lutadores como ele, os que estão no topo.

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Revigorado após “aposentar” a lenda do MMA Randy Couture, o brasileiro confia no seu talento para recuperar o título da categoria:

– Se não confiasse, não estaria nessa batalha.

Confira o cartel de Lyoto:

19 lutas

17 vitórias

2 derrotas