As 13 pessoas presas na Operação Venefica têm algo em comum: vida de luxo, regada a viagens e ostentação. De acordo com o delegado Neto Gattaz, responsável pelo caso, a maioria dos investigados atua na área da saúde e são médicos, biomédicos, farmacêuticos e nutricionistas.
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Como funciona esquema de coach dono de clínicas de luxo em Balneário Camboriú e Joinville
As últimas quatro prisões foram efetuadas no fim de semana em Joinville e Itapema, além de um médico detido no aeroporto de Curitiba enquanto retornava de uma viagem de fora do Estado. A média de idade desses profissionais é de 35 a 45 anos.
— São pessoas que têm um bom círculo social, recebem valores consideráveis e têm uma vida boa — define o investigador.
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No caso de Felipe Francisco, 39 anos, apontado como líder da organização criminosa investigada por receitar medicamentos com prescrição médica falsa e fórmulas adulteradas, a Justiça mandou bloquear bens de valor, como veículos de luxo, contas bancárias e imóveis.
No decorrer das investigações, foi descoberto que ele utilizava pessoas como laranja e empresas de fachada para lavar dinheiro. Após a ação policial, veículos e contas com CPFs e CNPJs vinculados ao coach também foram sequestrados, incluindo valores em criptomoeda.
A apuração inicial mostra que a empresa lucrava, pelo menos, R$ 200 mil mensais, conforme apontam as planilhas financeiras apreendidas durante a operação. Porém, de acordo com o delegado Neto Gattaz, Felipe não fazia a declaração de forma correta.
— Esse valor era o que ele lançava, mas acredita-se que o faturamento era muito maior — destacou o investigador.
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Vítimas têm perfil variado
A Polícia Civil diz que ainda não é possível saber quantas pessoas foram lesadas, mas, de acordo com Neto Gattaz, o perfil dos pacientes que buscaram o local é o mais variado possível: desde os que procuram o local para perder ou ganhar peso até atletas de alta performance que iam ao estabelecimento para manter o rendimento e conseguir os medicamentos de forma mais fácil.
A clientela é formada por pessoas de até 50 anos. Pessoas que denunciaram o empresário ao longo das investigações relataram taquicardia, disfunção erétil e manchas pelo corpo após consumirem os medicamentos prescritos na clínica.
Uma vítima que buscou a polícia mais recentemente, inclusive, relatou ter ficado internada por oito dias na UTI de um hospital após ingerir apenas duas cápsulas do tratamento receitado pelo empresário. Conforme o investigador, nem os médicos conseguiram identificar a composição do remédio utilizado por essa mulher. Os comprimidos foram encaminhados para análise da Polícia Científica.
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Neto Gattaz destaca que o coach criou um sistema que chamava de “protocolos”, em que ele mesmo criava e misturava substâncias e colocava o preço que queria. As consultas, portanto, não tinham um valor fixo e o preço era definido conforme o perfil e poder aquisitivo do paciente, que chegavam das mais variadas formas, desde helicóptero a carros populares.
Até o momento, duas vítimas foram ouvidas oficialmente, mas diversas denúncias foram feitas de forma anônima por e-mail e também pelo 181, além de registradas diretamente no Ministério Público.
O início das investigações
Tudo começou em 2017, quando um paciente que estava em tratamento com o coach percebeu que os medicamentos não estavam surtindo efeito. Em uma das ocasiões, a vítima passou mal e, então, resolveu procurar o Ministério Público Federal (MPF). No local, prestou depoimento e a oitiva foi encaminhada ao Ministério Público de SC.
Em seguida, um inquérito por parte da Polícia Civil foi instaurado e, em seguida, Felipe foi preso. Dois anos depois, ele foi condenado a oito anos de prisão pela Justiça do Paraná por atuar como nutricionista sem ter formação na área e vender medicamentos sem registro.
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O empresário tinha uma clínica com outro CNPJ e, à época da prisão, a Polícia Civil havia informado que pacientes de Ponta Grossa (PR) passaram mal após usar os medicamentos. Na ocasião, ele cumpriu poucos meses de prisão e foi solto em medida cautelar.
Foi aí que veio para Santa Catarina, aprimorou o esquema firmando parcerias e abriu duas filiais da F Coaching no Estado — uma em Joinville e outra em Balneário Camboriú. Felipe chegou a atender clientes com tornozeleira eletrônica.
Foi a partir da condenação de 2019, que a Divisão de Investigação Criminal (DIC) evoluiu com as investigações, conseguindo, inclusive, a quebra de sigilo de dados contidos em aparelhos eletrônicos e a identificação de envolvidos e pupilos do esquema.
Por nota, o Conselho Regional de Nutricionistas da Décima Região informou que está apurando o caso “junto às autoridades competentes”.
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Mãe de coach chegou a ser presa
Até o momento, 13 pessoas foram presas preventivamente, incluindo a mãe de Felipe. A mulher chegou a ser encaminhada ao presídio feminino, mas teve a prisão convertida em domiciliar. Outros parentes, amigos e até pupilos do coach estão na cadeia. No total, há mais de 40 investigados no caso.
Além das duas clínicas do coach e as farmácias de manipulação em Balneário Camboriú e Itapema investigadas pela suspeita de integrarem a organização criminosa, outras três clínicas estéticas foram fechadas temporariamente em Joinville. Segundo Neto Gattaz, as empresas pertencem a profissionais que já trabalharam para Felipe e que, ao saírem, continuaram a atividade de forma autônoma com os mesmos métodos utilizados por Felipe.
O investigador define o caso como “complexo”, que envolve criminosos que atuam em diversas funções para dar funcionamento no esquema, incluindo envolvidos que agem de fora do Estado e até do país.
— Cada um deles desempenha o seu papel dentro disso daí. Tem as pessoas que fazem o atendimento final ao paciente, tem aqueles que precisam cooptar os pacientes, tem os que produzem o medicamento e os que trazem o medicamento que não é vendido no Brasil, de maneira ilícita — exemplifica Gattaz.
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Desde o início das diligências desta primeira fase da operação, além das prisões, os agentes da Divisão de Investigação Criminal (DIC) também cumpriram mandados de busca e apreensão no Paraná e em São Paulo.
Próximos passos da investigação
Mais de 50 substâncias diferentes foram apreendidas nas clínicas do coach e demais unidades de saúde investigadas. Os comprimidos e injetáveis passam por perícia no laboratório da Polícia Científica de Joinville a fim de identificar a composição desses produtos.
Além dos produtos que foram apreendidos durante as diligências, os policiais também apreenderam documentos, celulares e computadores. Todos esses itens passam por perícia a fim de apontar outros envolvidos no esquema — desde fornecedores de remédios a contrabandistas e profissionais da saúde.
Nesta sexta-feira (25), os interrogatórios dos 13 presos serão finalizados e o inquérito policial deve ser concluído na próxima semana. Os suspeitos podem ser indiciados por integrar organização criminosa, lavagem de dinheiro, adulteração de medicamentos e crimes contra o consumidor, por enganar e colocar a saúde de pacientes em risco.
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O delegado Neto Gattaz não quis dar mais detalhes para não atrapalhar as investigações, mas nas próximas fases da operação pode ser que outras clínicas de saúde ou estéticas passem a compôr um novo inquérito policial por suspeita de atuar da mesma maneira que Felipe.
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