Território de conexão. O Canto dos Araçás, um dos endereços mais charmosos da Ilha, é também ponto de convergência: entre a Mata Atlântica, dos garapuvus e velhos engenhos, e a mítica Lagoa da Conceição, entre a cidade veloz que só cresce logo ali atrás do Morro, e a rural e vagarosa Costa da Lagoa. Assim como o território que habita, a Casa Quatro Oito, fincada no início de um morro ainda selvagem debruçado sobre a Lagoa também promove elos: entre pessoas, entre o contemporâneo e nossas raízes, entre o universal e o local.

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Recém-inaugurado, o hotel-bar-restaurante mais interessante de Floripa também quer unir dois irresistíveis atributos: conforto e aconchego de casa com excelentes serviços de hotelaria. O nome por trás da novidade é Bianca Engelhardt Pereira, carioca que se mudou para a Lagoa da Conceição aos 15 anos com a família e hoje, aos 40 anos, reproduzir no hotel o clima que sempre teve em casa.

– Quase toda a minha família veio para Floripa no início da década de 90. A gente se sentia muito outsider. Nos juntávamos muito com os cariocas, paulistas e gaúchos que vieram de fora. Era uma turma grande da Lagoa, sempre acostumei com casa cheia.

De volta ao Brasil depois de uma temporada fora, perto dos 40 e se perguntando o realmente queria, Bianca lembrou dos ajuntamentos da juventude na Lagoa e da sua paixão por receber. Conexão automática: os hotéis boutique, que na origem eram a fonte de renda de famílias europeias antes abastadas e que precisaram alugar seus quartos.

– Quis reproduzir a ideia de todo esse convívio entre hóspedes e moradores. Não tive coragem de fazer o hotel na minha própria casa, então resolvemos construir. O que eu mais amo na vida é receber, estar com a casa cheia e acho que em Floripa faltam lugares assim, onde você tem algo bem globalizado, despretensioso e ao mesmo tempo com conforto e serviço de alta qualidade – compartilha.

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Mas nem de longe o imóvel parece estalando de novo. Pelo garimpo preciso de objetos, pelo estilo de morada construída pela arquiteta Marcia Barbieri, e pelo paisagismo orgânico de Juliana Castro, a casa parece já conter memória. Provavelmente porque por ali também não se fala em decoração, mas em cenários. E é aí entra outro protagonista dessa história, Felipe Morozini, fotógrafo, artista e cenógrafo paulista que assina a direção criativa da Casa e traz um olhar nada óbvio aos detalhes do projeto (saiba mais sobre o multiartista aqui.) Ousado, mas bem distante de parecer pretensioso ou hermético, o projeto tem seu coração em um grande lobby.

>> Poético, o diretor criativo da Casa Quatro Oito, Felipe Morozini, vai além da fotografia em seus projetos

– Todas as consultorias diziam: mas são só quatro quartos e esse lobby gigante? Mas era exatamente isso: a ideia é que as pessoas convivam e não que fiquem no quarto. Por isso também a grande mesa comunitária de jantar. As pessoas estão cada vez mais isoladas e eu acho que estamos retornando para algo mais simples novamente, de estar junto de novo, entendendo e incentivando a cultura local _ defende Bianca.

Por ali, o luxo em cartaz está muito mais ligado à conexão com a natureza, ao silêncio da mata e da Lagoa, ao lobby com jeito de living cheio de objetos cuidadosamente garimpados – de livros pessoais de Bianca e Felipe, passando por uma almofada da Feira do Bexiga até peças assinadas por Jader Almeida e uma chaise do século passado encontrada no precioso e inacessível galpão de Houssein Jarouche, dono da Micasa. No piso superior, os quartos também seguem o mantra da ausência de padrões: um quarto é branco, outro é verde e ainda há o preto e o dormitório do colecionador com cenário em construção ao longo do tempo.

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No decorrer do processo, Bianca tomou ainda a generosa decisão de não fechar a casa para a cidade, abrindo o restaurante, operado pelo chef Marcelo Amaral e onde cabem referências tão interessantes como Tailândia, Peru e comida caiçara, e o bar, com coqueteleria assinada por Felipe Palanowski, para o público externo.

O quadro mais bonito

À equipe da Arte Arquitetura, sob comando de Marcia Barbieri, coube trazer para o real todos os sonhos, referências e anseios gestados por Bianca e Felipe durante três anos. Surgiu uma casa de linhas retas que não briga com o entorno. Pelo contrário, soube reverenciá-lo em inspiração, inclusão de material local, e em generosos rasgos que conduzem a natureza para a parte interna.

– Um dos desafios foi o terreno íngreme. No início, quando não havia o caminho de acesso, subíamos aqui de botas, quase escalando. Nosso maior foco foi tentar tirar partido o máximo possível da natureza. Aproveitar a vista da Lagoa, da mata, o vento entrando e saindo, as pedras do terreno. Hoje também temos a impressão de que a casa já estava por aqui _ conta a arquiteta sobre a construção de 700 metros quadrados no amplo terreno de 70 mil metros.

Madeira, concreto aparente, pedra e muito design. Tudo em consenso para deixar que a natureza brilhe mais do que tudo. Porque, como diz Felipe, não há quadro mais bonito do que uma janela que deixa a mata entrar.

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