Eu estava sentado, de ressaca, em uma sauna cheia de homens e mulheres nus, fazendo parte de um ritual japonês, enquanto um homem vestido apenas de toalha batia em gongos, espalhava água e queimava incenso. Era a manhã depois de uma longa noite de bebedeira, caminhada e descobertas, e eu suava o álcool nessa estilosa sauna de temática asiática na extensão de um spa resort.

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Isso não seria incomum em Bangcoc ou até em Berlim, mas meu destino hedonista foi uma das capitais europeias menos conhecidas, Luxemburgo. Esse pequeno Estado soberano independente está tentando, silenciosamente, entrar na lista de destinos para férias. E por que não? Tem mais estrelas Michelin per capita que qualquer outro país europeu, e a alta proporção de residentes e visitantes estrangeiros garante uma atmosfera cosmopolita.

Há um número surpreendente de lugares estilosos para ficar, comer e fazer festa, e a compacta cidade com menos de 90 mil habitantes está gentilmente sacudindo as coisas com a nova política de entrada livre em clubes noturnos e bares. Também existe uma maneira singular de ir para casa no fim da noite: um micro-ônibus que serve como mistura de táxi e ônibus, o Nightrider. Das 18h às 5h, em sextas-feiras e sábados, ele busca os baladeiros nas festas e os larga em casa por uma fração do preço de um táxi (a partir de 3 euros para um grupo de quatro pessoas).

Você pode ainda fumar em ambientes fechados, um grande atrativo para alguns – o que certamente cria uma atmosfera decadente nesses tempos “politicamente corretos”.

O coração de Luxemburgo é essencialmente uma grande fortaleza antiga, um platô protegido por penhascos escarpados. Boa parte é construída para pedestres. A Place d’Armes, praça no centro da cidade, é um bom lugar para se orientar. A velha cidade parece uma caixinha de chocolates chique e luxuosa, e a praça principal é negligenciada por um novo e surpreendente hotel designer – Hotel Le Place d’Armes (hotel-leplacedarmes.com).

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Mas eu estava lá mesmo para saber o que a vida noturna tinha a oferecer. A cidade velha era o lugar óbvio para começar, e eu persuadi Brian, um jornalista irlandês e residente de longa data, a me mostrar o lugar. Urban City (6 rue de la Boucherie, urban.lu) é um lugar popular para tomar drinks perto do Palácio Ducal, abarrotado com nativos multilíngues “work-hard-play-hard” expatriados.

Depois de um pint ou dois, saímos em busca de mais espaço e silêncio. Evitamos os brilhantes clubes e bares da cidade velha e fomos para o Grunt, um bairro de ruas estreitas às margens do Rio Alzette. Com a cidade velha e os penhascos iluminados, era tão atmosférico quanto Praga, com uma pitada de Paris.

Cafe Des Artistes (22 Montee du Grund), um pouco acima do Grund, é um bar intimista com um velho piano e atmosfera lânguida que, aparentemente, explode em sessões espontâneas de qualquer que seja o equivalente de uma canção em francês de Luxemburgo (apesar de não ter acontecido isso na noite em que fomos). Foi um ótimo lugar para observar as pessoas graças à multidão boêmia e a algumas garrafas de cerveja local.

Até os mais ousados

Grund também é o lar de Mosconi, que tem duas estrelas Michelin (13 rue Munster, mosconi.lu). Seu menu de degustação de massas (oito pratos, 72 euros) parecia tentador, mas os preços eram apenas para quem estava hospedado no hotel. A partir do Grund, foi uma caminhada curta, porém íngreme, até o Rives de Clausen (Rue Emile Mousel, rivesdeclausen.eu). É uma cervejaria que recentemente foi convertida em um grande centro de vida noturna, com vários bares, restaurantes e boates aglomerados com as pessoas jovens e bonitas de Luxemburgo. Em contraste, virando a esquina, está o restaurante caseiro Mousel’s Cantine (46 Montee de Clausen, mouselscantine.lu, pratos principais variam de 17 a 25 euros), que serve reconfortantes especialidades luxemburguesas como judd mat gaardebounen (colar de carne de porco defumado com favas, 19,5 euros).

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A Rue de Hollerich, a uma curta corrida de táxi ao sul da cidade, é lar da parte mais ousada da vida noturna em Luxemburgo. Nos números 42-44, bares e casas noturnas estão agrupados em volta de um pequeno pátio. Iniciamos no The Lab, onde as coisas começaram a embaçar. Havia um bar longo e sombrio com luzes verdes fosforescentes e uma temática médica, com shots em tubos de ensaio e oxigênio em recipientes diversos. A apenas alguns passos pelo pátio fica Decibel (decibel.lu), um bar de rock com simpáticos proprietários irlandeses e projetos de Guinness.

Para se recuperar

Apesar de Luxemburgo não ser, de forma alguma, um ninho de libertinagem ao estilo berlinense, o pequeno tamanho, a segurança e beleza da cidade tornam o local ideal para caminhadas noturnas de um lugar para o outro. Porém, talvez seja o grande número de estrangeiros na cidade (37% da população do país são imigrantes) que a torna acolhedora ao visitante casual. Na noite em que saímos, Brian e eu caímos em conversas com estranhos a cada lugar que íamos.

Recuperei-me no dia seguinte no Domaine Thermal (mondorf.lu), a 20 minutos de distância de ônibus da cidade de Mondorf-les-Bains. O spa tem banhos minerais externos e internos, com águas termais a abençoados 36ºC. Você não pode chafurdar durante muito tempo – 20 minutos, no máximo, é o recomendado -, no entanto, há um complexo de saunas (onde a nudez e o bater de gongo já mencionados ocorreram), salas de vapor e ainda mais piscinas. A 32 euros, um dia no spa é de grande valor.

Também turismo

Luxemburgo tem atrações turísticas formidáveis, como as Casemates du Bock, um local com túneis de defesa escavados na rocha, e o futurista Mudam Art Museum (mudam.lu). Porém, a zona rural me chamava, e gastei meu último dia visitando as colinas suaves de Ardennes, a uma viagem de 45 minutos ao norte, com um amigo. Acabamos na vila de Redange, que, de outra forma, seria difícil de notar, colocada no mapa por uma bem-sucedida casa de shows. L’Inoui Cafe-Theatre (67 Grand-Rue, inoui.lu) é uma parte sólida do circuito europeu de jazz e o coração de um miniempério, publicando uma revista e hospedando uma escola de teatro.

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É essa incongruência que torna Luxemburgo tão atraente. Alguns poucos dias hedonistas no Grande Ducado derrubarão o estereótipo de um país entediante, de banqueiros e eurocratas. Aqui, você pode ter um fim de semana atípico de festas, com ótimas comidas e mimos pós-festa, em uma cidade mais fácil de navegar do que em Paris ou Berlim.

Tradução: Renata Lohmann