O Líbano estava de luto neste sábado com o duplo atentado que na véspera deixou 42 mortos e 500 feridos em Trípoli, a capital do norte do país, no ataque mais sangrento desde o final da guerra civil, em 1990.

Continua depois da publicidade

As explosões aconteceram no início da tarde de sexta-feira com poucos minutos de intervalo, diante de duas mesquitas sunitas, uma semana após o atentado com carro-bomba que matou 27 pessoas em Rueis, subúrbio de Beirute e bastião do movimento xiita libanês Hezbollah, que combate ao lado das tropas do presidente sírio, Bachar al-Assad.

Entre os cerca de 500 feridos, muitos estão em estado grave em razão de queimaduras e ferimentos na cabeça, segundo Georges Kettané, diretor de operações da Cruz Vermelha libanesa.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas “condenou duramente os atentados terroristas” em Trípoli e ressaltou “a necessidade de levar os responsáveis à justiça”.

Em declaração unânime, os 15 membros do Conselho também convidaram “todos os libaneses e libanesas a preservarem a unidade nacional face às tentativas de desestabilização do país” e ressaltaram a “importância de que todos os lados respeitem a política de dissociação do Líbano e se abstenham de qualquer envolvimento na crise síria, conforme a Declaração de Baabda”.

Continua depois da publicidade

Os Estados Unidos condenaram os dois atentados e recordaram que em várias oportunidades manifestaram seu temor de que o violento conflito na Síria afete a frágil paz no vizinho Líbano.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também condenou os ataques e fez um apelo aos libaneses a manterem a unidade.

Os ataques aumentam os riscos de uma escalada do conflito sectário no Líbano, já profundamente dividido entre pró e anti-Assad.

Na quarta-feira, o comandante do exército libanês, o general Jean Kahwaji, declarou que suas tropas estavam em guerra total contra o terrorismo, explicando que perseguiam há meses uma célula que prepara carros-bomba, um dos quais explodiu em 15 de agosto no reduto do Hezbollah ao sul de Beirute.

Continua depois da publicidade

Segundo Kahwaji, a célula terrorista procurada “não visa uma região ou uma determinada comunidade, mas procura provocar conflitos sectários, visando diferentes regiões do ponto de vista religioso e político”.

– Está claro que eles querem iniciar uma guerra sectária no Líbano para tirar a atenção do que acontece na Síria – disse Hilal Khachane, chefe do departamento de ciências políticas da Universidade americana de Beirute.

Em Trípoli, a primeira explosão ocorreu no centro, perto da casa do primeiro-ministro Najib Mikati, que não estava na cidade. A segunda ocorreu na região do porto, perto da casa do ex-chefe de polícia Ashraf Rifi.

Um correspondente da AFP viu corpos carbonizados diante da mesquita de Al-Taqwa, localizada em uma das principais avenidas da cidade, e cinco corpos de crianças sendo retirados do local.

Continua depois da publicidade

As imagens transmitidas pela imprensa local mostraram vários veículos em chamas, homens carregando feridos e fachadas de imóveis completamente destruídas.

Após os atentados, centenas de pessoas se reuniram em frente à mesquita de Al-Taqwa gritando palavras de ordem hostis ao Hezbollah xiita e ao regime Assad.

O Hezbollah combate há meses ao lado das tropas do regime sírio contra os rebeldes. O grupo é acusado por seus opositores no Líbano de mergulhar o país em uma onda de violência.

O partido xiita relacionou o duplo atentado em Trípoli à explosão do dia 15, ao citar “um plano para mergulhar o Líbano no caos e na destruição”.

Continua depois da publicidade

A capital do norte do Líbano é regularmente palco de confrontos entre sunitas, que em sua maioria apoiam a rebelião síria, e os alauítas, favoráveis ao regime de Bashar al-Assad.

– Os responsáveis não querem que os libaneses vivam em paz, eles querem que a máquina de morte ceife a vida de inocentes em todo o Líbano – reagiu Saad Hariri, ex-primeiro-ministro sunita e rival do Hezbollah.

Os ataques revivem memórias dolorosas dos atentados com carros-bomba que devastaram o Líbano durante a guerra civil (1975-1990).