Cinco meses antes de desafiar o campeão dos pesos pesados do Ultimate Fighting Championship (UFC) – o norte-americano Cain Velásquez -, o lutador catarinense Júnior “Cigano” dos Santos trocou os treinos pelos carinhos da afilhada. Perto da família, em Caçador, no Meio Oeste catarinense, ele aproveita as curtas férias de uma semana.
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Sem perder tempo, a pequena Nicoly, de seis anos, não sai do colo do padrinho. E, ao assistir as lutas pela televisão, decorou todas as manias que Cigano tem quando entra no octógono. Entende de socos e de vitórias e deixa de lado a inocência infantil para assumir a função de torcedora. E ela também dá forças à mãe de Cigano, Maria de Lurdes Almeida, que há pouco tempo criou coragem para assistir aos combates, mas prefere saber das notícias por telefone. E guarda na estante da sala todos os retratos de família.
Uma das fotos preferidas de Maria ela usa para explicar o apelido do filho, que aparece de cabelos compridos. A cabeleira serviu para os colegas de Salvador encontrarem semelhança com o personagem Igor, de Explode Coração. Só que, para ela, o peso pesado segue sendo “Juninho”.
Mesmo em férias, Cigano mantém a vida regrada. Longe das festas noturnas, de bebida alcoólica e cigarro, o peso pesado guarda apenas boas lembranças das baladas na adolescência na terra natal. A alimentação é balanceada, inclui massas diariamente, no almoço e no jantar. Quando as festas ainda tinham espaço na agenda, um dos parceiros foi o fotógrafo Alex Macon, que recorda de um episódio marcante, na Copa de 2002:
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– Eu tinha uma Rural e o Cigano subiu no teto para comemorar a vitória do Brasil. Como ele sempre foi reforçado, amassou toda a lataria.
Por conta de histórias como esta, o ícone do UFC não abre mão de visitar a família. Faz isso de duas a três vezes por ano, desde que foi embora, em 2003. Com receio de tirar a privacidade da mãe, que mora com dois filhos e uma sobrinha, Cigano fica hospedado em um hotel da cidade. Após as férias, o astro do UFC retomará os treinos de cinco horas, todos os dias. A luta, que vale o cinturão dos pesos pesados, contra o campeão Cain Velásquez, está marcada para 19 de novembro, na Califórnia (EUA).
– A única coisa que me falta é conquistar o cinturão dos pesos pesados. Certamente, vou arrastar o troféu para todos os lugares onde for. Quando eu vier para Santa Catarina, vou trazer o cinturão comigo – promete Cigano.
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Sucesso com a cumplicidade da mulher
O sucesso de Cigano tem um segredo: a cumplicidade com a mulher, Vilsana Picolli. Foi trabalhando como garçom em um restaurante de Salvador que ele conheceu a esposa, em 2003, quatro meses após ter se mudado para a Capital baiana.
Atualmente, Vilsana divide o tempo entre a carreira de arquiteta e a organização da agenda do marido.
Nas conversas, que vão além da carreira, o peso pesado atribui grande parte das vitórias à mulher. E Cigano não tem vergonha de contar que Vilsana pagou as contas no início das lutas, quando o esporte ainda não era rentável para o catarinense.
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Com um misto de gratidão e orgulho, a relação do casal dura quase oito anos. As pegadas assustadoras contra os adversários ficam no octógono. Em casa, Vilsana costuma usar camisetas com o nome do marido estampado, e coleciona carinhos.
Confira a entrevista de Cigano ao DC:
“Chegar no UFC é uma coisa mágica”
Diário Catarinense – Como foi decidir mudar de cidade, sem nenhum emprego certo?
Júnior Cigano – Eu queria algo mais. As pessoas que eu via em Caçador levavam sempre a mesma vida. Como eu tinha amigos em Salvador, resolvi tentar a sorte. A passagem saiu mais caro do que eu pensava. Cheguei lá com R$ 80 no bolso e tive que começar a trabalhar no dia seguinte. Ganhava R$ 250 por mês em um restaurante, mais as refeições. Era com isso que eu pagava o aluguel.
DC – Você entrou no mundo das lutas por acaso. Perto de poder se tornar o melhor do mundo, você está realizado na carreira?
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Cigano – Chegar no UFC é uma coisa mágica. Tenho seis lutas ganhas. Nas artes marciais mistas, o MMA, lutei 13 vezes e perdi somente uma. Essa derrota foi um divisor de águas. Li uma frase uma vez, que serve de inspiração para a minha carreira: “A vitória só chega quando se perde o medo da derrota”.
DC – O que foi mais decisivo para você se credenciar à disputa do cinturão dos pesos pesados?
Cigano – Acho que a determinação. Eu me sinto mais seguro lutando em pé. Mas quem entra no UFC precisa dominar todas as artes marciais e saber sobre os golpes do adversário. Eu nunca tinha treinado, meu corpo não era preparado. As exigências aos atletas de MMA são as mais rígidas. É preciso ter uma vida regrada, apanhar algumas vezes, e ter um objetivo traçado para chegar à elite do esporte. Tenho conseguido tudo isto.
DC – Quem é o Cigano hoje?
Cigano – Posso dizer que sou um desses caras bem-sucedidos que você vê na televisão.